prólogo

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Então é isso, isso é uma guerra. Nós morremos como se fossemos nada, como se não tivéssemos sonhos, planos e família. Uma bala e tudo acaba, toda a nossa existência deixa de existir.

Eu desisto.

Acabou para mim.

Retirei meu colete, que me protegia contra os tiros, eu não aguento a dor que sinto em minha perna, e o sangramento não para.

Eu estou cansada.

Isso não é uma vida, isso é desumano. Tanta destruição e morte... A troco de que?

Rastejar pelo chão no treinamento era muito mais fácil, quando não se tinha medo da morte e seu corpo não aguentava nenhum passo mais.

Fugir foi a decisão mais dolorosa que eu tive, eu falhei com meu pelotão, e eu jamais merecerei o perdão, de ter fugido assim, para que? Para me rastejar de dor e sofrimento...

A dor em meu peito, misturada com o cansaço físico me fez desejar a morte.

Eu posso jurar que ela está do meu lado, rindo da minha desgraça.

Eu deveria ter sido a primeira e não estar mais aqui.

Mas até agora, sei que fui uma das poucas sobreviventes.

Se é que alguém sobreviveu.

Fomos pegos pelas costas.

Por eu estar na linha de frente, conseguir escapar, mas a que custo?

Custa dos meus companheiros...

Que vida de merda eu tenho.

Eu tive tantos anos para nascer, e minha alma escolheu a vida que eu morreria em um campo de batalha.

Eu sei que acabou para mim.

Por isso, meu capacete é jogado, e tiro tudo o que tenho enquanto me rastejo, jogando o mais longe possível, para que meu inimigo me mate mais rápido.

Espero que na próxima vida eu tenha a oportunidade de ser feliz.

Parei, meu corpo não aguentava mais rastejar, acho que aqui está bom para morrer.

Baixei a cabeça, e apenas esperei, esperei pela morte, eu não tenho mais forças físicas.

Nenhum treinamento é o suficiente, para te fazer lidar com seus amigos morrendo à sua frente.

Os treinamentos são ensinamentos para matar, matar para sobreviver.

As lágrimas foram inevitáveis, eu odeio a minha vida.

Eu odeio essa guerra.

Eu odeio o fato de ainda está viva.

Senti um chute em minha costela após horas chorando sobre a grama alta, acho que agora eu morro.

Sentir um peso cair sobre mim, mas não me movi.

— Ei, você tá bem?

Abri meus olhos, e virei meu rosto na direção da voz, já havia escurecido, não consegui enxergar nada.

Não respondi, senti a sua mão passar pelo meu corpo, como se estivesse tentando ver se eu era homem, mulher, ou me reconhecer.

— Está ardendo em febre.

Sua mão tocou a minha testa, não sabia quem era, mas uma parte de mim, se encheu de esperança.

Ele me conhecia?

— Minha perna dói.

Falei.

Ele me ajudou a virar, o céu estava tão escuro, e eu não conhecia quem estava me ajudando.

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