Melancolia
Eu ainda me recordo com nostalgia, daqueles dias que ficaram no passado. Nossas risadas, nossas brincadeiras, nossa infância. Meus amigos sempre estiveram comigo, e me davam a sensação de que era capaz de tudo com eles por perto. E assim eram nossos dias, envolto de piadas sem sentido e o rotineiro cronograma acadêmico.
Mas... Antes que desse por mim, tudo acabou. Cada um de nós seguiu seu próprio caminho, seus próprios sonhos, sua própria vida. Fosse profissional, romântica ou social, eu não era mais necessário para ninguém. Será que isto é tornar-se adulto? Eu sorrio, afundando as mãos nos bolsos do paletó.
– E pensar que hoje foi meu primeiro dia de trabalho hein... Que sentimento estranho – Reforço para mim mesmo, tentando apaziguar estes sentimentos estranhos.
Depois que a escola acabou, terminei em uma grande reclusão do mundo exterior, incapaz de acreditar que havia espaço para mim em algum lugar. Ou mesmo se era merecedor de conseguir e desempenhar um papel nesta sociedade. Bem, talvez eu tenha conseguido, ainda que nada fosse capaz de preencher este buraco em meu peito.
– Ah... No que eu estou pensando, preciso juntar dinheiro logo, tenho muitas dívidas pra quitar este mês – Suspiro com pesar, lembrando-me de cada uma das mencionadas contas e boletos.
A calmaria da noite aquietava meu coração, com tuas brisas me fazendo gelar, mas não de um jeito ruim e sim reconfortante. Já havia passado da meia-noite, talvez o exagero em mostrar serviço em meu primeiro dia tenha extrapolado o aceitável, o bastante para não ser capaz de ver uma alma viva nas ruas da metrópole.
– 'O wai 'oe? – Uma voz melódica retumbou em meus ouvidos, grossa e seca.
Por reflexo, eu girei-me na direção da voz, tentando entender o que estava acontecendo. No entanto, a visão de frente a mim era algo incompreensível. Em trajes bárbaros, de capuz negro e partes de armadura enferrujada, uma imponente caveira se dirigia a mim. Uma aura negra, como fuligem, envolvia o corpo esquelético da mesma, que esticava seus dedos em minha busca na escuridão.
– M-Mas que diabos...! – Eu exclamei, ignorando as palavras da caveira ambulante.
Aquilo era aterrorizante, que merda estava acontecendo? Não havia como me acalmar, eu precisava sair dali, fugir desta figura da morte antes que fosse tarde demais. Mas como fugir? Ele era rápido? Havia onde me esconder? O pânico era incontrolável, e a resposta do meu corpo era apenas de correr, o mais rápido que eu pudesse.
Virei as costas para este ser cadavérico e me pus em disparada, não havia ninguém a quem pedir ajuda, a imagem de meus amigos surgiu... Mas eles não estavam mais comigo.
– SOCORROOOOOOOO! ALGUÉM!! – Eu berrava, na esperança de alguém ouvir meu clamor, mas não se ouvia resposta em direção alguma.
Repentinamente, a caveira encapuzada surgiu no meu encalço, em um espiral negro de morte pura, exalando um cheiro asqueroso. Vários olhos em transe se expuseram da escuridão, me observando em agonia. Braços retorcidos vieram do asfalto, o atravessando como areia, e agarraram minhas pernas para não mais escapar.
– Inā holo ʻoe mai oʻu aku nei, he koa ʻoe... I kēia hihia, ʻike ʻoe i ka ʻeha! – Gritou a criatura, batendo sua mandíbula podre e reverberando seus grunhidos por toda minha cabeça.
Branco e preto, o equilíbrio da existência, o limiar do tempo e espaço. Em uma fração de segundos intangível, os meus dias medíocres chegaram ao fim. Os dedos esqueléticos afundaram em meu crânio. Meus amigos... Yuka, Togashi, Keisuke, Tsubaki... Miyuzuki. Eu lhes deixei meu último adeus, acreditando que este era o nosso desencontro final.
– Yoru...? Yoru! Acorda! – Uma voz doce e familiar brincava com meus devaneios – Akeyama Yoruto!!
Como se recebesse uma terrível descarga elétrica, apertando meu peito e contraindo cada músculo de meu organismo, o despertar veio a mim. Eu não havia morrido? Onde estava aquele monstro? Foi tudo um sonho? Os questionamentos logo me confundiram, fazendo minha cabeça girar e a visão ainda mais turvar.
– Esta voz...
Uma garota amavelmente me abraçou, com lágrimas escorrendo de seu rosto e palavras de afeto sendo expressas em fervor. Este carinho, esta voz, este sentimento. Eu voltei à mim, pelo menos o suficiente para reconhecê-la e me afogar em seu calor.
– Miyu...
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𝐍𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐌𝐚𝐫𝐜𝐡𝐞𝐫𝐬
HorrorNo limiar entre o dia e a noite, a visão de uma figura cadavérica pode prostar-se diante a ti. Um convite para seu jogo mortal, um regresso as origens, relembrando o passado e remoendo aquilo que não foi resolvido. Sobreviva ou morra, esta é a única...