Apresentação
Despreocupação, esta palavra por si só contempla toda a nossa infância, um tempo tranquilo e cheio de sonhos em que nem mesmo as menores de nossas obrigações tem algum impacto. Me recordo de um colega que repetiu de ano, pois faltava todos os dias, e sinceramente, ele não estava preocupado e nem o afetou tanto assim. Quando se é adulto, a menor das dívidas pode se tornar um pesadelo, sua ruína, uma bola de neve que irá rolar durante sua vida até o fim.
O medo priva nossos sonhos, e antes que perceba, já não existem mais convicções. A possibilidade e a crença se tornam o nosso pilar, entrando em um estado de morte lenta e sem sentido.
Minha primeira preocupação veio junto com o advento do amor, ou paixão, chame como quiser. Este sentimento... Eu...
– Yoru! Ei, está me ouvindo? Venha, se sente ao meu lado – Me chama Togashi, acenando para uma das poltronas ao redor da mesa.
Sem pestanejar, me coloco entre meus antigos amigos, enquanto todos no ambiente encaram o livro mágico que acabara de nos dar sua sentença. Em poucos minutos, o medo se instaurou em nossos corações, e assim o sonho de ir embora deste lugar começou a se apagar, como uma chama no vácuo eterno.
– Humpf – Tosse um senhor, o mais velho entre nós, sinalizando que iria tomar a palavra – Bem, gostaria de aproveitar que agora estamos todos reunidos para discutirmos a nossa situação atual. Todavia, antes de mais nada creio que seria conveniente a todos que fizéssemos uma apresentação.
O homem vestia uma roupa comum de qualquer assalariado, de paletó marrom e uma boina de mesma cor, além de um belo relógio prateado em seu pulso. De olhos cansados e cabelos grisalhos bem penteados.
– Sabe, não quero cortar o clima, mas um livro macabro acabou de anunciar que vamos todos morrer hahaha tem coisa mais importante rolando aqui vovô – Debocha um dos rapazes, o qual parece sempre bem ácido.
A garota ao lado do último falante lhe dá um tapa no ombro, talvez forte o suficiente para ser ouvido. Os dois não parecem íntimos, mas talvez sejam tenham uma sinergia contrastante, no mínimo.
– Cala boca seu merda, deixa o tiozinho falar!
– Ahm... Perdão, pela demora, mas acredito que seja necessário. Meu nome é Eugênio Hokoyama, 53 anos, sou vice-diretor de uma escola nos recantos de Shibuya – Declara o senhor Eugênio, ignorando a briga dos demais – Se não me engano, eu havia esquecido um documento em minha sala, retornei no meio da noite para pegá-lo, pois era de extrema importância. Durante o caminho, me deparei com uma criatura, e então acordei neste lugar.
Uma criatura, de acordo com esse homem, aquele ser de fato foi o estopim para nossa viagem a este lugar estranho. Fomos sequestrados? Estamos em cativeiro? Aquilo não parecia uma fantasia, e o livro escreveu sozinho na nossa frente. Não tem como ser um programa de TV ou crime humano, algo sobrenatural realmente aconteceu.
– Ohh! Você viu aquele caverudo também?! – Exclamou o garoto, parecendo mais sério que o normal, apesar de tudo – A propósito, meu nome é Akimaru Yosubara, 17 anos, e bem... Faço parte de uma banda de Rock e adoro garotas de ancas largas— Um tapa ainda mais forte é projetado nas costas de Akimaru, deixando um silêncio cômico e desconfortável no ar.
Akimaru era a visão perfeita de um ídolo adolescente, aquele tipo de cara que iria atrair garotas apenas pela beleza de seu rosto, ainda que fosse bastante infantil. De jaqueta branca, jeans e uma camisa de time, o qual não conheço, além de óculos escuros e um cabelo de tom avermelhado.
– Me chamo Togashi Kiriyama, 21 anos e – Declara Togashi, e com a mão sinaliza para Miyu, que estava sentada do meu lado oposto – Minha namorada Miyu.
Não era preciso muito para descrever Togashi, um rapaz de grande porte físico e um rosto comum. Sua vestimenta indicava ainda ser estudante de alguma faculdade, de uniforme verde e camisa social branca.
– Miyuzuki Sakura, é um prazer conhecer a todos – Completa Miyu, com um sorriso embaraçado.
Apesar dos anos, Miyu não havia mudado quase nada. Com longos cabelos alternando entre cinza e violeta, com um par de olhos negros como jabuticaba. Trajada com uma blusa de frio negra, saia e meia-calça. Se prestasse bastante atenção, era possível notar que além de um colar em seu pescoço havia um anel prateado em seu dedo anelar.
A outra garota, depois de pequenos resmungos ao rapaz do lado dela, então percebe que deveria se apresentar. Como se curtisse o momento, a jovem se levanta e faz uma pose, igual uma idol em tom de descontração.
– Me chamo Maria Lukaku Refinori! Tenho 16 anos, sou de gêmeos, e estudo em Tóquio. Minhas cores favoritas são rosa e preto! – Apresenta-se Maria, como se estivesse em um primeiro dia de aula numa escola nova.
Além de jovial, e aparentemente pra lá de extrovertida, Maria assim como Eugênio era mestiça e seus cabelos em maria chiquinha de cor loira deixavam isso bem claro, apesar das mechas em tom rosa. Suas roupas eram de um uniforme em particular preto e branco, ainda que sua saia no padrão quadriculado.
– Ninguém quer saber da sua cor favorita, droga... – Resmunga Akimaru, ainda com uma das mãos apaziguando seu ombro dos últimos tapas.
Imerso nas apresentações e no que estava sendo dito, acabei me esquecendo de mim mesmo. O que eu deveria dizer sobre mim? Apenas meu nome como a Miyu? Meu emprego merece ser mencionado, eu havia acabado de começar, e não tinha feito mais nada em toda minha vida, apenas uma coleção imensa de fracassos...
Todos estavam me olhando, meu coração disparava, a quanto tempo não me sentia assim. Tantas pessoas, isto já não era normal? Não era como o trabalho, eu tinha medo do que pensariam de mim, as palavras se atropelam na minha boca, não posso me engasgar. Minha boca se abre, a voz precisa sair—
Sinto o suave toque de Miyu em meu braço, ela estava comigo, eles estavam comigo.
– Me chamo Akeyama Yoruto, 21 anos, sou um assalariado comum – Artículo, respirando fundo a cada frase e tentando soar o mais normal possível – Podem me chamar de Yoru.
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𝐍𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐌𝐚𝐫𝐜𝐡𝐞𝐫𝐬
HorrorNo limiar entre o dia e a noite, a visão de uma figura cadavérica pode prostar-se diante a ti. Um convite para seu jogo mortal, um regresso as origens, relembrando o passado e remoendo aquilo que não foi resolvido. Sobreviva ou morra, esta é a única...