No limiar entre o dia e a noite, a visão de uma figura cadavérica pode prostar-se diante a ti. Um convite para seu jogo mortal, um regresso as origens, relembrando o passado e remoendo aquilo que não foi resolvido. Sobreviva ou morra, esta é a única...
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Nostalgia
Deve ser cansativo, não é? Quando alguém lhe conta aquela velha história clichê, um passado conturbado e perseguido. Uma criança intimidada, agredida, e que só sabe chorar e implorar por um milagre. De certo modo, sempre senti que poderia gozar desta situação, pois eu não estive sozinho quando precisei de ajuda, e mais uma vez você estava comigo.
– Miyu? É-É você mesmo? – Exclamei, ainda em choque.
A garota, com os braços ainda enrolados em mim e com os olhos vermelhos, me encarou face a face. De uma expressão aflita e nervosa, um genuíno sorriso surgiu em seu rosto, o suficiente para me fazer voltar no tempo.
Minha primeira amiga, meu primeiro amor. Miyuzuki Sakura. Ela sempre esteve lá para me proteger, não importa de quem fosse e onde fosse. Com seus longos cabelos negros e seu gentil semblante, de olhos brilhantes e esperançosos. Esta mesma pessoa, que havia sumido de minha vida a tanto tempo... Afinal, porque ela estava ali?
– Sou eu Yoru, graças a Deus você está bem! Estávamos todos preocupados com você! – Declarou Miyu, levantando-se do chão e me dando a mão para segui-la neste movimento.
– Todos...? O-Onde nós estamos? O que está acontecendo?! – Rapidamente me desespero, atônito com os recentes eventos.
Quando meu olhar enfim deixou o corpo de Miyu, dei por mim o fato de já não estar no espaço anterior aos ocorridos. O belo luar e as ruas vazias da cidade, agora substituídas por um cômodo comum de um luxuoso hotel. Móveis de mármore branco, lustres cintilantes, candelabros de um visual vintage e espalhafatosos carpetes de tom marfim, cobrindo toda esta visível sala de espera.
Não havia lembranças em minha memória de como cheguei a este lugar, tudo terminava na escuridão daquela figura cadavérica e seus dedos atravessando minha cabeça.
– Eu... – Miyu se acanha, levando suas mãos ao peito, retornando a sua expressão aflita – Ainda não sabemos o que de fato aconteceu, não faz muito tempo que estávamos como você agora. Acordamos neste lugar estranho faz algumas horas, daí pouco a pouco fomos encontrando uns aos outros.
– Então... Tem mais pessoas aqui? Que merda... Realmente não faço ideia do que aconteceu – Eu murmurei, encarando as paredes com desenhos tribais em seu relevo, buscando encontrar palavras para confortá-la – Onde estão os outros? Vamos bolar um plano do que fazer.
– Vem comigo – Disse Miyu, rumo a porta no fim do cômodo
O chão parecia afundar meus sapatos, uma areia movediça tentando me levar para o recanto de meus pensamentos a cada passo que dávamos. O que demônios estava acontecendo? Primeiro um monstro dos contos de fada, ou melhor, de um verdadeiro pesadelo, vem pra me ceifar. E agora, todos estamos vindo parar em um apartamento de milionário... Isto não faz o menor sentido, nem em meus sonhos mais loucos.
