As luzes faziam-me piscar repetidas vezes
O ar estava quebrado
O calor não passava
Estava escuro
Só a luz do painel
Mãos no volante
Não o vejo
"Quem é?"
Consigo dizer
"Eu"
"Eu, quem ?"
O carro desliga
A porta do carona se abre
Sou puxada para fora
Ainda escuro
Não o vejo
Suas mãos em minhas costas
Me levam a um lugar
Lá está claro
Me viro
E o vejo
"Você"
Digo
"Eu mesmo"
"O que quer?"
Se aproxima devagar
Ergue meu rosto para encontrar seus olhos
"Um abraço"
Sorrio
"Precisava de tudo isso por um abraço?"
"Se eu pedisse, você não concordaria"
"E por quê acredita que não?"
Seus dedos descem e roçam meu pescoço
Acariciam meus cabelos
Sem desviar os olhos dos meus
"Eu estaria morto se sequer pensasse em você"
"Tem razão então não pense"
Me abraça
Sinto o quão acelerado está seu coração
Pronto para rasgar o peito e pular para fora
O afasto com gentileza
"Você tem que ir"
Seu tom de voz fica mais sério
"Você é mal comigo"
Dou uma gargalhada irônica
"Você que quer que eu sinta algo que não sinto!"
Eu não sinto
Ele se foi
Mas não sem antes me encarar mais uma vez
E sorrir