A estrada estava deserta, com as luzes da cidade ficando cada vez mais distantes no retrovisor. Faye mantinha as mãos firmes no volante, mas seus pensamentos estavam em Yoko, sentada ao seu lado, lutando contra a dor do ferimento. O silêncio entre elas era denso, carregado com tudo o que não estava sendo dito.O sangue no casaco de Yoko ainda fluía devagar, mas a sua expressão impassível mostrava que estava determinada a não deixar que a dor a derrubasse. Mesmo assim, Faye sabia que precisavam parar logo. Precisavam de um lugar seguro onde pudessem se esconder e tratar o ferimento de Yoko antes que fosse tarde demais.
"Estamos quase lá," disse Faye suavemente, tentando quebrar o silêncio, mas sua voz carregava um tom de urgência. Elas tinham um esconderijo nos arredores da cidade, longe do caos da máfia, onde ninguém as encontraria facilmente.
Yoko assentiu levemente, os olhos fechados por um instante. Faye sabia que ela estava se esforçando para não demonstrar fraqueza, mas isso só fazia o nó no estômago de Faye apertar ainda mais. Ela odiava ver Yoko assim.
Depois de mais alguns minutos, elas finalmente chegaram a uma pequena casa abandonada, escondida entre árvores. Faye parou o carro e rapidamente saiu para ajudar Yoko a sair também. Ela passou o braço da parceira pelos ombros novamente, guiando-a com cuidado até o interior da casa.
Assim que fechou a porta atrás de si, Faye colocou Yoko cuidadosamente no sofá velho da sala e correu para pegar a caixa de primeiros socorros que sabia estar guardada em um armário. Ao voltar, ela se ajoelhou ao lado de Yoko, a respiração acelerada.
"Tenho que tratar isso agora," disse Faye, a voz carregada de preocupação, enquanto começava a abrir o casaco de Yoko, revelando o ferimento. O sangue já tinha começado a secar, mas o tiro tinha deixado um corte profundo na lateral do corpo dela.
"Não precisa fazer isso sozinha," murmurou Yoko, sua voz fraca, mas o tom ainda carregado com aquela firmeza característica.
Faye parou por um segundo, os dedos tremendo levemente enquanto tocavam na pele de Yoko. "Eu sei," disse ela, olhando para o rosto de Yoko. "Mas não vou deixar que aconteça nada contigo. Não desta vez."
Yoko ergueu os olhos, e por um momento, as duas ficaram em silêncio, trocando um olhar que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar. O tempo parecia parar. Apesar de todo o caos e da violência ao redor delas, naquele momento, ali, havia apenas as duas.
Faye começou a limpar o ferimento com cuidado, o que fez Yoko soltar um suspiro de dor, mas ela se manteve firme. Faye estava concentrada, o olhar preocupado enquanto fazia o curativo o melhor que podia, mas a cada toque suave, sentia uma tensão diferente crescer dentro de si — não a tensão da batalha, mas algo mais profundo, algo que há tempos tentava ignorar.
Quando finalmente terminou, Faye sentou-se ao lado de Yoko no sofá, o cansaço emocional começando a pesar sobre seus ombros. Ela passou a mão pelo cabelo, tentando acalmar os pensamentos turbulentos.
"Eu odeio te ver assim," confessou Faye, a voz baixa. "Odeio a ideia de te perder."
Yoko, apesar da dor, virou-se para ela, e uma suavidade incomum passou pelos seus olhos. "Não vai me perder, Faye. Eu sou mais forte do que pareço," disse ela com um pequeno sorriso, mas dessa vez havia algo diferente na maneira como falava. Algo mais vulnerável, mais humano.
Faye olhou para ela, e antes que pudesse impedir a si mesma, levantou a mão e tocou o rosto de Yoko, traçando com o polegar o contorno de sua mandíbula. Yoko não recuou; ao invés disso, fechou os olhos por um instante, inclinando-se ligeiramente ao toque, como se aquele fosse o único alívio que precisava no momento.
"Yoko..." Faye começou, mas sua voz falhou. Havia tanto que queria dizer, tantas emoções que tinha reprimido. No entanto, parecia que as palavras não eram suficientes.
Yoko abriu os olhos lentamente e segurou a mão de Faye que ainda estava em seu rosto. "Não precisas dizer nada," sussurrou. E então, sem hesitação, inclinou-se para frente, unindo os seus lábios aos de Faye em um beijo suave, mas cheio de tudo o que ambas sentiam e nunca tinham dito em voz alta.
Faye foi pega de surpresa, mas logo se entregou ao beijo, sentindo a onda de emoções que há tanto tempo tentava controlar finalmente vir à tona. Era um beijo lento, terno, mas carregado de paixão e da intensidade das experiências que partilharam. Cada toque, cada respiração entrecortada parecia quebrar as barreiras que elas mesmas tinham erguido.
Quando o beijo terminou, Faye encostou sua testa à de Yoko, as respirações das duas se misturando no pequeno espaço entre elas. "Eu pensei que pudesse perder-te hoje," sussurrou Faye, fechando os olhos por um momento.
Yoko sorriu levemente, com a voz ainda suave. "Estamos numa vida onde corremos esse risco todos os dias. Mas eu prefiro estar aqui... contigo, arriscando tudo."
Faye apertou a mão de Yoko, sentindo a verdade crua e profunda daquelas palavras. Não havia garantias no mundo em que viviam, mas o que tinham uma com a outra era real. E isso, para Faye, significava mais do que qualquer coisa.
A noite continuou a avançar, mas ali, naquele pequeno refúgio, Faye e Yoko encontraram um momento de paz, afastadas de toda a violência e das lutas que as esperavam lá fora. Entre beijos suaves e toques gentis, as cicatrizes físicas e emocionais começaram, aos poucos, a se curar.
Naquele instante, elas eram mais do que parceiras de crime. Eram duas almas conectadas, encontrando um raro e precioso momento de tranquilidade no meio da escuridão.
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Entre Sombras e Fogo
ActionAqui está uma one-shot sobre Faye e Yoko, envolvendo drama, tensão e emoção no contexto do submundo da máfia.