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Enquanto arrumava as prateleiras com os últimos lançamentos, o gerente da pequena e aconchegante livraria no centro da cidade de Londres dedicava-se meticulosamente à organização dos novos títulos. O aroma de livros novos impregnava o ar, e a tranquila melodia de uma música clássica emitida por uma vitrola antiga preenchia o espaço. Os passos calmos e decididos do homem mesclavam-se ao som das folhas de papel sendo arrumadas, enquanto ele se entregava à tarefa rotineira que tanto amava – odiava –.

O cheiro amargo dos grãos de café sendo moídos se misturavam com o cheiro das gotas de chuva que molhava o solo, e o barulhinho de colheres batendo na xícara de porcelana combinava com o sino que atrás da porta, indicando que um cliente novo havia entrado.
Tudo combinando perfeitamente com o clima de Londres; Chuva fina caindo, galochas molhadas que molhavam todo o piso de madeira, guarda-chuvas pingando, cappuccinos e cheiro de livros velhos.

       Sebastian estava começando a ficar cansado de todas essas coisas que ele via diariamente, sempre os mesmos cheiros, as mesmas temporadas, as mesmas pessoas. Digo, adultos de vinte a sessenta anos que não namoram ou já são viúvos. Ou, de vez em quando, crianças e adolescentes que fazem trabalhos escolares no local, ou simplesmente vão para lá para ficar longe dos problemas de casa.

      Ele sentia que a rotina estava se tornando entediante. Ele ansiava por algo novo, por uma mudança que quebrasse a monotonia do seu dia a dia na livraria. A sensação de estar preso em um ciclo interminável começava a pesar sobre ele, e ele se perguntava se seria capaz de encontrar uma forma de escapar dessa prisão invisível. Cada vez mais, a vontade de explorar novos desafios crescia dentro dele, tornando-se uma necessidade urgente de mudança.

    Quando terminou de arrumar os livros nas prateleiras, Michaelis voltou para o caixa onde trabalhava. Ele escutou o sino da porta tocar mas não deu muita atenção. Quando finalmente levantou o olhar, viu a figura de um garoto de talvez um e quarenta de altura, cabelos azuis escuros – quase cinza – e os olhos da cor de Velassaru¹. Ele vestia uma camisa de gola alta preta – ele não gostava de ter sua pele muito exposta – com um suéter branco que tinha detalhes azul bebê, junto de uma calça de moletom preta e um sapato de couro.
‘não gosta de ser observado mas também não quer parecer feio.’ – pensou.
Ele também usava um band aid na bochecha esquerda; uma briga com os pais, talvez?
Ele mantinha sempre o olhar baixo e usava fones de ouvido, claramente uma pessoa reservada que não gosta de chamar atenção para si.

O garoto caminhava devagar até uma prateleira de livros específica, folheando alguns enquanto em intervalos de cinco em cinco minutos ele olhava em volta para ter certeza de que não estava atrapalhando ninguém, já sentia ser observado de longe por olhos famintos.

“hum… com licença? Eu quero comprar este livro.”  – Ele entregou um livro famoso nas mãos do homem que agradecia internamente aos deuses pelo garoto ter ido justamente no caixa onde ele estava trabalhando. destino, talvez?

Ele observa o garoto que, agora estava literalmente em sua frente, dando para notar quão longos e bonitos seus cílios são. As pequenas sardas em suas bochechas rosadas e suas lindas unhas pintadas com um tom de azul pastel. O tanto que o garoto tem de introvertido, têm de vaidoso.

“Bom dia, anjo.” – Ele observa a capa do livro. “Gosta de poemas?” – O homem embala o objeto, e entrega ao garoto, notando que ele havia ficado surpreso por algum motivo.

“Como sabe que eu gosto de poemas?” – Ele franziu a testa.

“Bom, eu observei você indo para a prateleira de poemas… e, Walt Whitman, – ele toca na capa do livro de capa dura com o dedo indicador – O autor do seu livro. Ele foi um dos mais influentes poetas dos Estados Unidos.” – ele ri baixo do garoto confuso. “qual vai ser a forma de pagamento?”

O garoto abre sua bolsa estilo Ecobag e pega um cartão, entregando ao mais velho.

“Na verdade eu escrevo poemas também, não que isso importe...”

        Sebastian pega o cartão da mão gelada do garoto, lendo o nome atrás. ‘Ciel Phantomhive… que nome lindo.’ ele pensou, em seguida inserindo o objeto na maquininha, devolvendo para o baixinho novamente.

“Não diga isso. Pessoas que escrevem poemas são inteligentes pra caramba, isso importa e muito!” 

“…Obrigado de qualquer forma.” – ele sorriu de canto e acenou.

     ‘Ciel Phantomhive’. Esse nome ficou na cabeça de Sebastian desde quando o garoto foi embora da livraria até a hora do turno dele acabar, o deixando com dor de cabeça de tanto pensar no rostinho pálido lindo.
Já no caminho de casa, ele pega o celular e procura o nome de Ciel em todos os aplicativos possíveis, encontrando apenas duas contas.
‘porra… era obvio que eu só ia achar isso ou até menos, ele mal sabe falar em público.’– pensou.
Ele clicou em seu perfil do instagram; Poucos seguidores, seguindo poucas pessoas… ele é introvertido pra ‘caralho. Notou a bio dele: 18 anos, ‘poem writer’ e um emoji de livro abaixo. Depois ele clicou na primeira foto que estava em seu feed, Um coelho branco com um livro antigo no fundo enquanto segurava uma xícara de chá. estética de adolescentes.  A próxima foto era de duas mãos fazendo o sinal da paz. Ele clicou em cima da foto, mostrando o arroba do dono ou dona daquela outra mão, entrando num perfil de um garoto loiro de olhos azuis. Eles não se parecem nem um pouco de aparência, logo se precipitou em dizer que deviam ser amigos ou algo assim.

      Michaelis guardou o celular por um segundo para procurar sua chave de casa e destrancar a porta. Dando a visão de sua sala escura que era iluminada apenas por uma fresta de raio do sol do inverno que nem sequer esquentava, deixando a sala mais aconchegante além de cada detalhe ser meticulosamente arrumado e sem nenhuma poeira ou mau cheiro. Uma mesa de centro com um notebook fechado e um mini vaso de flor no canto superior direito poderia ser considerado o lugar preferido da casa para Sebastian. A cozinha estilo americana com cada utensílio em seu devido lugar, os panos de pratos combinando com a paleta de cor da casa, os ímãs de geladeiras em formato de mini livrinhos ou até mesmo frutas, bem condizente com a personalidade de um homem adulto de 26 anos. O lugar inteiro cheirava a lavanda e madeira nova, o aroma calmante e nem um pouco enjoativo mergulhava em cada canto da casa, dando um ar de aconchego.

    Voltando ao que o homem estava fazendo, Sebastian pegou seu notebook e pesquisou o instagram de Ciel em um site suspeito, no qual mostrava cada localização em que o garoto já esteve. Hospitais, bibliotecas, cafés.
   “A maioria dessas localizações é de hospitais… Ou a saúde dele é péssima, ou algum dos seus pais são médicos.” – Ele falava consigo mesmo enquanto clicava na aba de seguidores, rolando a tela até achar alguém com o mesmo sobrenome que ele. ‘Vincent Phantomhive’. Ele clicou no perfil.
“Esse deve ser o pai dele… e meu palpite estava certo, ele é médico. interessante.”
   Na primeira foto ele estava em uma festa com uma mulher de olhos incrivelmente verdes e cabelo loiro. Ele desceu as fotos e não encontrou nem uma única foto de Ciel, mas várias daquela e de outras mulheres em diversas festas e bares diferentes. Ele era aquele tipo de pai, então?

     Ao passar das horas, Sebastian descobria mais e mais coisas sobre a vida pessoal de ciel, que sua família era incrivelmente rica e sua mãe tinha morrido num acidente de carro quando ele tinha apenas sete anos de idade, e que desde então ele tem vivido “sozinho” com seu pai e várias mulheres bêbadas que o homem levava para a casa todas as noites, transava e depois mandava elas para casa por um uber. Durante oito anos sendo obrigado a viver com um filho da puta que não dá a mínima para o filho, que provavelmente engravida várias mulheres todos os anos, e depois dá a elas uma quantidade generosa de dinheiro para cada uma fazer um aborto e não dizer absolutamente nada sobre isso para não acabar com a reputação que ele tinha por suas doações para orfanatos e hospitais na cidade.

    Após descobrir todos esses detalhes, Sebastian sentiu uma mistura de raiva e compaixão por Ciel. Como alguém poderia viver assim, cercado por tanta falsidade e descaso? Ele sentiu um impulso de proteger o garoto, de mostrar que nem todo mundo era assim. Mas antes de agir, precisava pensar em uma forma de abordar Ciel sem assustá-lo ou revelar que havia invadido sua privacidade. Com isso em mente, Sebastian guardou as informações que descobrira e decidiu planejar cuidadosamente seu próximo passo.   



alguns avisos:

- ciel têm 18 anos
- a história não necessáriamente irá conter sexo explicito, contudo, se eu decidir postar algo assim eu aviso no começo do capitulo. 💋🪄

Obsessão Mortal - Black ButlerOnde histórias criam vida. Descubra agora