Dois dedos na garganta, e branco era a única cor que os olhos marejados do garoto enxergavam durante 10 minutos enquanto tinha a cara enfiada dentro da privada.
A garganta ardendo, seu nariz escorrendo enquanto tinha suas mãos apertando com força a tampa branca da privada e seus joelhos apoiados no chão, começando a doer por já estar naquela posição há algum tempo.Os refluxos ardidos faziam seu estômago doer cada vez mais, tornando ainda mais difícil suportar a sensação de enjoo que o dominava. O branco da porcelana refletia a palidez de seu rosto, que contrastava com o rubor de suas bochechas inchadas. Os gemidos abafados escapavam de sua boca entre os soluços, acompanhados do som da água da descarga sendo puxada. O suor frio escorria pela sua testa, misturando-se com as lágrimas que escapavam de seus olhos. Cada momento parecia uma eternidade enquanto ele lutava contra a sensação de mal-estar que parecia não ter fim. Por fim, com um suspiro de alívio, ele se afastou da privada, levantando lavando a boca na pia.
Ao sair do banheiro, viu alguns cacos de porcelana quebrados e espalhados no chão, o lembrando que umas horas atrás ele teve uma briga com seu pai.
Brigar com seu pai foi – era – um motivo mais que suficiente para ele descontar suas frustrações em seu estômago. Seja comendo exageradamente, não comendo, e, até forçando um vômito.Apesar da vergonha que Ciel sentia após suas crises de t.a, ele gostava da sensação de vazio que tinha dentro de si após vomitar. Não que ele necessariamente tenha problemas com seu físico, ele apenas quer se sentir mal de algum jeito para que não sinta suas emoções sendo invalidadas ou ignoradas. Para ele, o vazio era reconfortante, pois era a única forma de escapar temporariamente de suas emoções avassaladoras. No entanto, essa falsa sensação de alívio sempre era seguida por um sentimento de culpa e arrependimento, fazendo com que Ciel se sentisse preso em um ciclo de auto-destruição e sofrimento. Mesmo assim, ele continuava buscando essa fuga, pois era a única maneira que encontrava para lidar com seus sentimentos de inadequação e desespero.
Ele foi para seu quarto e se deitou em sua cama espaçosa, agarrando com força um dos seus animais de pelúcia contra o peito, ainda sentindo a sensação de vazio após o vômito. A decepção consigo mesmo era palpável, pois sabia que havia recaído depois de seis meses longe do vício. Enquanto algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto e molhavam o travesseiro, uma avalanche de lembranças invadiu sua mente, relembrando todas as vezes em que havia perdido o controle da situação, sentindo nojo e vergonha de si mesmo. Afinal, isso não é uma coisa bonita para se orgulhar.
Ciel se dispersa de seus pensamentos quando uma notificação chega em seu celular reserva, já que tinha “perdido” o outro. Ele limpa as lágrimas do rosto, estica o braço e pega o aparelho que estava na mesinha ao lado de sua cama.
*número desconhecido*
“quem será que é?” – pensou.…
Sebastian passou a tarde toda pensando sobre alguns dias atrás, quando passou algumas horas da madrugada caminhando com Ciel enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios, e no número de telefone que o garoto havia lhe dado, contemplando se enviava ou não alguma mensagem para ele. Ele andava em círculos na sala de sua casa, ansioso.
‘foda-se!’ – Ele cansou de apenas imaginar o que escreveria e o que o garoto iria responder e simplesmente mandou a mensagem que tanto queria.
‘Olá, Ciel. Sou eu, Sebastian. Lembra de mim?’
Ele colocou seu celular no balcão que separava a cozinha da sala, quando ouviu um grito de uma mulher da casa ao lado, acompanhado de xingamentos e objetos – provavelmente de vidro – caindo e quebrando no chão.
Ele, curioso, olhou para janela e viu uma mulher de cabelos longos vermelhos caída no chão com a mão na bochecha, como se tivesse acabado de levar um tapa. E um homem em pé na frente dela. – o mesmo vizinho policial que bate em animais e espanca mulheres.Quando viu a mulher correndo para fora da casa e o homem seguindo ela, Sebastian não pensou duas vezes antes de ir até o local para defendê-la. Mesmo a um metro e meio de distância do homem ele conseguiu sentir o cheiro forte do álcool que exalava no ar.
Ele se colocou na frente de William antes que ele fizesse algo novamente.
“Acho melhor você se acalmar.” – Michaelis segurou firme no ombro do outro, impedindo que ele andasse.
“Não se mete, caralho! sai da minha frente!”
Ele empurrou Sebastian e continuou querendo ir pra cima da ruiva, e novamente sendo impedido por ele com um soco no abdômen, que o fez cair no chão.
“Se você encostar nela ou em mim de novo, eu arranco seu braço.” – Ele sorriu sem os dentes, fazendo o policial se arrepiar.
“Sua aberração do caralho! Eu vou te colocar na cadeia!”
“Vai me colocar na cadeia por salvar uma mulher de ser espancada?”
“Por agredir um agente da polícia!”
“Faz o que quiser, mas não esqueça que aquela câmera filmou tudo” – Ele apontou para o poste, que ficava na frente do quintal da casa do homem.
William bufou. “que se foda! eu nunca mais quero ver essa puta de novo!”
Ele se levantou e entrou para dentro da casa e Sebastian ajudou a mulher, a levando para dentro de sua casa para limpar seu machucado no rosto.
“Qual seu nome?” – Michaelis passava a gaze com soro fisiológico na pele pálida.
“me chamo Grell”
“Por quê namora com ele, Grell?” – Ele jogou os itens sujos no lixo e colocou um band-aid na moça.
“ah… – ela coçou a nuca, com vergonha. – Ele não me tratava assim no início, sabe…”
“Entendi. Mas espero que depois de hoje, você nunca mais volte a olhar para aquele lixo.”
“É complicado… Eu gosto muito dele, apesar disso. E eu não tenho mais ninguém além dele.”
“Acho que você precisa de mais amigos…” – Ele estica sua mão, cumprimentando a ruiva. – Me chamo Sebastian. - ele sorriu.
Após passar algum tempo da mulher já ter se acalmado, Michaelis chamou um táxi pra ela e voltou até sua casa. Ele se sentou no sofá da sala e suspirou aliviado pela situação complicada que acabara de ocorrer, massageando sua têmpora quando pegou seu celular e notou uma notificação
‘Claro que me lembro!’
Ele abriu um sorriso após ler a mensagem vinda do garoto.
‘Que ótimo! o que fez hoje?’
….
Assim que escutou a notificação de seu celular tocar, Ciel rapidamente pegou seu celular e abriu a conversa com Sebastian, pensando no que iria responder. ‘bom, eu não posso dizer que enfiei meus dedos na minha garganta me forçando a vomitar toda a comida que comi nos últimos 3 dias, né.’ – pensou.
‘Nada muito importante, eu briguei com meu pai hoje’
‘E por qual motivo?’
‘o de sempre, ele estava bêbado e ficou falando da minha mãe morta, nada fora do costume.’‘Sinto muito, Ciel.’
‘Obrigado. E você? o que fez hoje?’
‘trabalhei, e salvei uma mulher de ser espancada pelo namorado, nada fora do costume’ – ironizou.
‘que ótimo, fico feliz por saber que você é desse tipo. ♡’
Enquanto conversavam por horas, Sebastian parecia um adolescente apaixonado, sempre sorrindo quando o garoto falava algo engraçado ou mandava um emoji de coração. Ele se pegava ansioso para chamar Ciel para um encontro oficial, mas ao mesmo tempo temia parecer um louco obcecado, mesmo sabendo que já era um. No entanto, independente de ter um encontro marcado ou não, Sebastian estava determinado a seguir Ciel para garantir sua segurança acima de tudo.
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Obsessão Mortal - Black Butler
Mystery / ThrillerSebastian tem um comportamento extremamente compulsivo e possessivo, como um stalker das pessoas pelas quais ele se apaixona. Ele tem a tendência de tentar descobrir tudo sobre a vida delas sem que elas saibam, manipulá-las a fim de ganhar controle...