Filha De Lendas

Capítulo 8

Tsuya Senju

A chuva não parava. Ela caía pesada, batendo contra o meu capuz e criando um véu de água que me obrigava a estreitar os olhos. A aldeia da Chuva era um lugar sombrio, com suas torres metálicas perfurando o céu cinzento, como se fizessem parte de um labirinto que escondia mais do que revelava. Meu objetivo era claro: confirmar os rumores de que a Akatsuki estava controlando Amegakure e descobrir mais sobre seus planos. Mas sabia que nada seria fácil. Cada passo nessa vila era um risco, e cada rosto carregava o medo de alguém que sabia mais do que ousava dizer.

Enquanto me movia pelas ruas encharcadas, escondida sob uma capa preta que me ajudava a me misturar na escuridão, observava atentamente o comportamento das pessoas. Havia algo de errado. Não era só a chuva que tornava a atmosfera pesada; era o medo que pairava no ar, quase palpável. Cada cidadão passava apressado, cabisbaixo, como se soubesse que era melhor não chamar atenção.

Eu havia trocado para uma outra pousada humilde onde poderia me abrigar temporariamente. A construção simples me oferecia uma breve pausa do caos lá fora. No entanto, a sensação de perigo era constante, como se Amegakure fosse um campo minado pronto para explodir ao menor deslize. Coloquei minhas coisas no quarto, respirei fundo e tirei o capuz, sentindo o ar pesado e úmido.

As informações sobre a Akatsuki eram vagas, mas uma coisa era clara: eles estavam profundamente enraizados na estrutura de poder da vila. Enquanto me acomodava, tirei de uma bolsa cuidadosamente oculta os documentos que consegui reunir antes da missão. Entre eles, dois chamavam mais atenção: um detalhava o clã Senju e outro o clã Uchiha. Ambos continham informações preciosas, principalmente sobre as rivalidades históricas que moldaram a política de Konoha e, de alguma forma, ainda influenciavam o presente.

Abri o documento sobre o clã Senju primeiro. Ele descrevia o legado de guerreiros como meu tio Tobirama, conhecido por sua liderança implacável e suas criações revolucionárias, como o Hiraishin no Jutsu. Eu sempre sentia um orgulho contido ao ler sobre minhas raízes, mas também o peso da responsabilidade que o nome Senju carregava. Tobirama era um estrategista brilhante, mas foi também ele quem criou alguns dos jutsus mais perigosos, como o Edo Tensei, uma técnica que violava a própria natureza da vida e da morte. Seus métodos, embora eficazes, eram constantemente questionados.

As rivalidades com o clã Uchiha também estavam descritas em detalhes. A desconfiança mútua, as guerras e os confrontos constantes entre os dois clãs moldaram as bases da política ninja, criando divisões que perduraram por gerações. Havia uma frase que chamou minha atenção no meio do texto, algo que eu já sabia, mas que sempre trazia desconforto: "Os Uchihas prosperam nas sombras que os Senjus criam." Essa frase resumida simbolizava como, apesar da aliança de Konoha, o rancor ainda corria profundo.

Respirei fundo antes de abrir o documento sobre o clã Uchiha. Ao lê-lo, a tensão aumentava. Os Uchihas sempre foram conhecidos por sua natureza intensa, pelo poder devastador de seu Sharingan e pelo orgulho imenso que possuíam. Mas o documento revelava algo mais profundo: um ciclo de ódio e vingança que os consumia. Mesmo quando aliados, como Madara e Hashirama haviam sido por um breve período, sempre havia uma sombra de desconfiança. A fraqueza de um alimentava a ascensão do outro. Madara Uchiha, em particular, era o maior símbolo dessa rivalidade, e a maneira como ele caiu em desgraça ainda ecoava nas gerações seguintes.

Fechei o documento com um estalo leve, os olhos fixos na janela do pequeno quarto da pousada, observando a chuva que continuava a cair. As informações que eu tinha eram valiosas, mas não o suficiente para dar sentido à trama que eu sabia estar se desenrolando em Amegakure. A Akatsuki era formada por indivíduos de poder imenso, e se os rumores estivessem corretos, suas raízes iam muito além de uma simples organização de criminosos. Eles estavam se posicionando como um poder real, e a aldeia da Chuva era apenas uma peça no seu tabuleiro.