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Prólogo.

Na calada da noite, os corredores da Fortaleza Vermelha estavam mergulhados em um silêncio profundo, interrompido apenas pelo crepitar suave das velas que ardiam, lançando sombras dançantes pelas paredes de pedra.

Nas sombras, Rhaenyra Targaryen caminhava com pressa, carregando em seus braços um pequeno embrulho. Envolvida em uma manta de tecido fino, a recém-nascida descansava serena, alheia ao destino que a aguardava.

A manta, adornada com bordados delicados, trazia o nome Visenya, costurado pela própria Rhaenyra. Embora a princesa não tivesse talento nem paciência para bordar, ela se esforçara para criar algo especial para a filha, uma lembrança do amor que fosse apenas delas.

Ao redor do pescoço da bebê, repousava um colar de aço valiriano – o mesmo que Daemon lhe havia dado de presente em tempos de felicidade. Agora, ela o passava à filha, na esperança de que aquele símbolo de aço e fogo pudesse protegê-la onde ela mesma não poderia estar.

Os olhos de Rhaenyra, sempre tão resolutos, tremiam com uma mistura de pânico e arrependimento. Visenya era o fruto de uma paixão proibida, um segredo inflamável como o fogo dos dragões, e a decisão que tomava agora parecia inevitável.

Contudo, cada passo que dava pelos corredores ecoava como um golpe em seu coração. O medo não vinha apenas das possíveis consequências políticas daquele nascimento, mas do amor que já sentia por aquela pequena vida. Abandonar Visenya não era apenas uma decisão racional; era uma tortura emocional – e cada fibra do seu ser gritava para protegê-la.

Para esconder sua gravidez durante nove meses, Rhaenyra utilizou de estratégias cuidadosas e uma rede de confiança formada apenas por suas criadas mais leais.

Desde os primeiros sinais da gestação, ela tomou precauções extremas para disfarçar as mudanças em seu corpo. Vestia roupas largas e pesadas, com espartilhos cuidadosamente ajustados para ocultar a barriga crescente.

Utilizava capas e mantos que escondiam suas formas, passando a aparecer em público apenas em ocasiões raras e cuidadosamente controladas. Sempre que possível, evitava a corte, alegando indisposições ou problemas de saúde que, de fato, eram criados como pretexto para justificar sua reclusão.

Ao longo dos meses, apenas três de suas damas de companhia mais confiáveis sabiam do segredo: as ladies Elinda Massey, Arra Norcross e Sabitha Frey. Essas mulheres, escolhidas a dedo, estavam ao lado de Rhaenyra desde a infância, e sua lealdade era inquestionável.

Elas ajudavam a princesa a manter o segredo, não apenas ajustando suas roupas, mas também administrando ervas que ajudavam a manter os sinais físicos da gravidez sob controle. As damas de companhia também se encarregavam de afastar qualquer um que tentasse se aproximar demais, utilizando desculpas ou criando distrações para proteger Rhaenyra.

Quando o momento do parto chegou, tudo foi meticulosamente planejado. A princesa fingiu-se recolher por conta de uma enfermidade e passou a ser atendida exclusivamente pelas criadas e damas de companhia, que fizeram com que todos acreditassem que ela estava gravemente doente.

Na calada da noite, em um aposento remoto e pouco frequentado da Fortaleza Vermelha, Rhaenyra deu à luz, com apenas suas criadas e damas ao lado, abafando os sons do trabalho de parto com travesseiros e tapetes.

A princesa decidiu abandonar a filha logo após o parto porque acreditava que, em um lugar distante, a criança teria uma chance melhor de sobrevivência, longe das intrigas e perigos da corte.

Ao esconder a existência de Visenya, Rhaenyra protegeria não apenas a filha, mas também a si mesma, mantendo em segredo um nascimento que poderia provocar ainda mais conflitos e ameaçar sua posição.

Ela via na decisão uma forma de preservar o legado dos Targaryen, acreditando que, mesmo oculta do mundo e do pai, o fogo da linhagem continuaria a arder na pequena Visenya, garantindo que o sangue do dragão ainda viveria, mesmo que nas sombras.

Quando finalmente encontrou a criada que a esperava, uma mulher de feições duras chamada Maera Rivers – uma bastarda das Terras Fluviais – mas com um olhar compassivo, que, segundo sua dama de companhia, Sabitha Frey, saberia como encontrar um lar amoroso e gentil para que sua filha crescesse, Rhaenyra hesitou.

Ela olhou para a filha uma última vez, traçando com o olhar o contorno delicado de seu rosto. Visenya era tão parecida com ela, mas também a fazia lembrar-se de Daemon. Daemon, como ele reagiria se soubesse que tinha tido uma filha? Ele teria ficado feliz com essa notícia, triste ou com raiva? Teria se casado com ela para legitimar sua filha? Todas essas dúvidas martelaram a mente de Rhaenyra durante toda a gestação, mas tudo o que lhe restava era ficar com as dúvidas, já que as respostas para suas perguntas jamais seriam conhecidas. Ela inclinou-se para sussurrar em sua língua ancestral, com a voz embargada: — Que o fogo do nosso sangue te proteja onde eu não possa estar, minha doce menina. Nunca se esqueça de que você é uma Targaryen, mesmo que o mundo nunca saiba.

A criada, sob um silêncio respeitoso, pegou a criança com cuidado e afastou-se, carregando o embrulho e os sonhos desfeitos da mãe. Enquanto se afastava, a manta bordada desenrolou-se ligeiramente, revelando o brilho escuro do colar contra a pele pálida da bebê. O aço valiriano captou a luz fraca das tochas, como um lembrete silencioso da força ancestral que corria no sangue da menina.

A serva seguiu seu caminho para fora dos muros da Fortaleza Vermelha, levando Visenya para um lugar onde o destino a aguardava com garras afiadas. Nas profundezas da Baixada das Pulgas, a criança foi deixada à porta de uma casa dos prazeres, um lugar onde os inocentes não sobreviviam sem cicatrizes.

Visenya cresceria ali, sem jamais conhecer a verdade sobre quem era ou a grandeza do sangue que lhe percorria as veias. Entre os sussurros das paredes, a decadência e os olhares famintos dos homens, ela florescia como uma joia rara no meio da lama, seus traços nobres refletindo, sem que ela soubesse, o eco distante de sua mãe perdida.

Anos se passariam e, enquanto o mundo seguia seu curso impiedoso, Visenya se tornaria uma força inegável, moldada pela dureza da vida, mas sempre carregando consigo a manta bordada e o colar de aço valiriano – os únicos vestígios de um passado que ela jamais soubera que existia.

BLOODLINE • hotd Onde histórias criam vida. Descubra agora