IV. Quem pensa muito nem sempre escolhe o melhor

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Os filósofos discutem as profundezas do coração humano há séculos, certo?

Há quem diga que o homem, diferente da mulher, pensa com a razão, mas também existe quem afirma que essa é uma visão enviesada dos fatos. Porque se os homens pensam com a razão, porque a mente de Chanyeol cavalgava por uma avalanche de sentimentos enquanto observava o cenário ao seu redor?

Não apenas pela presença abrasadora de Jongin, que por si só já o deixa confuso e ansioso, mas por ver a si mesmo naquela situação tão caseira, com boa parte da sua família presente, e mesmo assim se sentir desconectado de todos eles.

Quase desconfortável.

Ou toda uma corrente filosófica estava errada e os homens eram tão sentimentais quanto as mulheres, ou Chanyeol tinha um lado feminino muito mais latente que o masculino.

E sim, ele estava sendo malditamente sexista nessa merda.

— Está tudo bem? — a voz de Baekhyun adentrou seus ouvidos, servindo como âncora para segurá-lo na realidade e bem longe de suas divagações.

Mexeu-se no lugar em que estava sentado, na tão familiar banqueta da ilha da cozinha, como se nunca estivesse estado ali antes. Agia como se aquela fosse a primeira vez apoiando os cotovelos no balcão, inspirando o aroma de hortência do purificador de ar, ouvindo o ruído baixo da central de ar do vizinho.

Sentia-se um desconhecido no meio daquela cena. O filhote de cisne no ninho dos gansos.

— Estou ótimo — murmurou, desviando o olhar de seu pratinho de plástico para encontrar o rosto sorridente do homem que tomou seu coração e nunca mais devolveu.

Jongin estava conversando com os amigos, sorrindo como nunca tinha sorrido para ele, os olhos brilhantes em animação e empolgação.

Baekhyun lhe lançou um olhar desconfiado, praguejou alguma coisa em inglês, mas foi totalmente ignorado pelo irmão que, novamente, afundava no mar de autopunição. Um lugar sombrio e inóspito que o engolia quando lidar com os próprios sentimentos se tornava mais difícil.

Para ele, desde o instante em que parou de sustentar o estado de negação como se sua vida dependesse disso, estava insustentável manter o mesmo personagem frio e distante de sempre. Muitas coisas mudaram ao longo dos anos e a barreira que impôs para afastar-se do amor que cultivava ficou cada vez mais tênue. No início, era fácil chamar aquilo de tesão, basear os encontros unicamente em sexo e sustentar uma indiferença quase sólida entre eles. Compartilharam parceiros, dormiram com outras pessoas, tiveram outros amantes, andaram por relações tão vazias quanto eles próprios.

Todavia, os sentimentos de Jongin não eram um segredo. Sempre que olhava para ele, Chanyeol via através daquele conformismo e se sentia mal por não conseguir ceder a isso de uma vez. Largar tudo que tinha e viver o amor que escondeu no peito por quatorze anos. Nem ele saberia explicar porque rejeitava tanto essa certeza, porque apesar do desespero constante em "não pensar", ainda era nome e a imagem de Jongin que assombravam suas noites insones. Uma figura nítida e assustadora de uma realidade que Chanyeol não queria confrontar. Não queria aceitar. Não queria ceder. Mas precisava. Ou morreria.

Na guerra vale tudo, mas ele já tinha perdido, por que continuar lutando?

Porque não apenas entregar suas armas ao inimigo e implorar por misericórdia?

Tentou lembrar de todos os motivos que o fizeram fugir nos últimos anos e não conseguiu recordá-los com tanta vividez ou seriedade. A recordação dos olhares julgadores e analíticos de seu pai foram apenas um incômodo passageiro; o nariz torcido de seu tio, uma fagulha morta de importância; os próprios preconceitos esmagados pela corrente de certezas que Jongin, com sua mera existência, trouxe consigo em cada toque, em cada encontro.

Softcore (ChanKai)Onde histórias criam vida. Descubra agora