Capítulo 6: Verdades não ditas

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Daphne Hale


Minha cabeça ainda estava latejando com as palavras de Marcus quando recebi a mensagem de Jacob. "Precisamos conversar. Amanhã de manhã." Eu sabia que ele não deixaria passar mais um dia sem falar o que estava guardando. E eu, sinceramente, não tinha certeza se estava pronta para ouvir.

Encontrei Jacob na cafeteria em frente à delegacia. Ele já estava lá, sentado à mesa mais afastada, com um café na mão e uma expressão séria. Meu coração deu um salto. Ele sempre foi um amigo confiável, alguém em quem eu podia confiar, mas ultimamente algo parecia diferente.

— Daphne. — Ele me olhou com aqueles olhos atentos assim que entrei, e por um segundo, senti um arrepio. Havia algo no tom da voz dele. — Sente-se.

Eu me aproximei e me sentei à sua frente. O cheiro do café quente misturado ao ar frio da manhã era reconfortante, mas o peso entre nós dois tornava tudo mais tenso.

— O que está acontecendo, Jacob? — perguntei, sem rodeios. Sabia que ele iria direto ao ponto, e eu preferia que fosse assim.

Ele respirou fundo, colocou a xícara de lado e olhou diretamente nos meus olhos.

— Você está se envolvendo demais nisso, Daphne. — Sua voz era firme, mas havia uma preocupação genuína por trás de suas palavras. — Esse caso... Crowe... ele está te afetando de um jeito que eu nunca vi antes.

Eu me mexi desconfortável na cadeira. Sabia que ele tinha razão, mas não queria admitir.

— Jacob, eu sou uma detetive. Esse é o meu trabalho. — Minha voz saiu mais defensiva do que eu pretendia. — Eu não posso simplesmente... desligar.

— Eu sei. — Ele se inclinou para frente, com as mãos entrelaçadas sobre a mesa. — Mas não estou falando só do trabalho. Estou falando de você. Esse cara... Ele te escolheu. E isso está te consumindo.

A raiva e o medo se misturaram dentro de mim. Marcus estava, de fato, jogando comigo, testando meus limites. Mas eu não podia deixar que ele vencesse.

— Eu vou pegar ele, Jacob. — Minha voz era baixa, quase um sussurro. — Eu não tenho escolha.

Ele balançou a cabeça lentamente, como se ponderasse as palavras.

— Só quero que você saiba que não está sozinha. Você pode contar comigo, sempre. Não precisa carregar esse peso sozinha.

Houve um momento de silêncio, enquanto eu processava o que ele disse. Parte de mim sabia que ele estava certo. Mas outra parte, a mais obstinada, não queria admitir fraqueza, não queria deixar que Marcus percebesse que ele estava vencendo.

— Obrigada, Jacob. — Minha voz estava mais suave agora, menos defensiva. — Eu sei que posso contar com você.

Ele me deu um sorriso leve, mas seus olhos ainda carregavam aquela preocupação que me seguia desde o início do caso.

— Só me prometa que, se sentir que está indo longe demais, você vai pedir ajuda. — Ele disse isso com uma seriedade que fez meu peito apertar.

Assenti, mas não sabia se realmente poderia fazer essa promessa. Algo em mim me dizia que essa luta era minha. Que eu e Marcus Crowe estávamos presos em um jogo que só eu poderia terminar.

Ele terminou seu café e se levantou, colocando uma mão gentil no meu ombro antes de sair.

— Fique segura, Daphne.

Fiquei ali por um tempo, olhando para a xícara de café à minha frente. Jacob tinha razão em estar preocupado, mas o que ele não sabia era que, a cada movimento que Marcus fazia, eu ficava mais determinada. Mais disposta a acabar com isso, de uma vez por todas.

Assim que Jacob saiu, fiquei ali, sozinha com meus pensamentos. O que ele disse ecoava na minha mente, mas algo dentro de mim sabia que já era tarde demais. Eu estava tão envolvida nesse jogo que Marcus Crowe criou que não havia como voltar atrás. O medo que eu sentia já não era por mim; era por Noah, por Jacob, e por qualquer um que Marcus pudesse usar para me atingir.

Levantei-me da mesa e saí da cafeteria, sentindo o frio da manhã morder minha pele. Caminhei até o carro, mas antes de entrar, parei e observei as ruas. Havia uma quietude incomum. Como se a cidade estivesse esperando algo... como eu.

No caminho de volta para o meu apartamento, meu celular vibrou. Era uma mensagem de Noah.

"Oi, mana, vai demorar pra voltar?"

Sorri levemente. Noah sempre sabia como me trazer de volta para a realidade, mesmo sem perceber.

"Estou a caminho. Não se preocupe."

Chegar em casa e ver Noah com o sorriso inocente que ele sempre tinha foi um alívio. Ele estava no sofá, mexendo no celular, completamente alheio ao caos que se desenrolava ao meu redor. Essa era a parte mais difícil: manter Noah longe de tudo. Ele era meu ponto fraco, o que Marcus provavelmente já sabia.

— "Como foi seu dia?" — perguntei, tentando soar casual.

— "Normal," ele respondeu com um sorriso. "Na verdade, estava pensando em passar o fim de semana na casa de um amigo."

Eu hesitei por um momento. A ideia de Noah sair do meu campo de visão me deixava desconfortável, especialmente agora que Marcus parecia cada vez mais ousado.

— "Acho melhor ficarmos juntos por enquanto." — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.

Ele me olhou, confuso.

— "Está tudo bem, Daphne?"

Eu queria dizer que sim, que tudo estava sob controle, mas as palavras ficaram presas na garganta. Ele merecia a verdade, mas como eu poderia expor meu irmão a esse pesadelo?

— "Só estou preocupada com o trabalho. Nada demais." — Sorri, tentando dissipar a tensão.

Noah pareceu aceitar minha resposta, mas eu sabia que ele ainda estava desconfiado. A última coisa que eu queria era que ele se envolvesse nisso.

Depois de uma conversa rápida e de garantir que ele ficasse em casa, me retirei para o meu quarto. A cada segundo que passava, eu sentia o cerco se fechando. Marcus estava lá fora, observando, esperando o momento certo para atacar novamente.

E, por mais que eu tentasse esconder de Noah e de Jacob, eu sabia que estava ficando sem tempo. Marcus Crowe não deixava rastros por acaso. Ele era meticuloso, paciente... e obcecado.

Fechei os olhos por um instante, tentando pensar em alguma estratégia, algo que pudesse me dar vantagem. Mas no fundo, eu sabia que Marcus já estava um passo à frente. Ele sempre esteve.

Deitada na cama, o silêncio do apartamento parecia amplificar meus pensamentos. A qualquer momento, meu telefone poderia tocar com a notícia de mais um corpo. Mais uma vítima. Mais uma mensagem de Marcus, dirigida a mim.

E assim, o ciclo continuaria, até que um de nós caísse.

sᴜsᴜʀʀᴏs ᴅᴇ ᴜᴍ ᴀssᴀssɪɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora