| 𝖢𝖠𝖯Í𝖳𝖴𝖫𝖮 𝖴𝖬

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A CHUVA CAÍA LENTAMENTE sobre minhas botas. Sorte que estou com guarda-chuva. O cheiro de terra molhada subia pelas minhas narinas, as poças de lama pareciam aumentar conforme as lágrimas do céu caíam.

Já era a terceira vez em que alguém da família não resistia aos impulsos dos outros. Além do mais, ninguém chegou a perguntar o que tinha acontecido de verdade com Bree. Só começaram a falar que a encontraram com uma corda amarrada no pescoço até o teto.

Geralmente, são pessoas que cometem suicídio. Mas ninguém sabe o porquê.

Bree era uma garota bem saudável. Saudável até demais. Ela gostava de ler, sempre procurando coisas novas para aprender, por sorte, não foi para Hogwarts. Ela iria próximo mês para aquela escola. Que é o dia em que as aulas começam novamente. Em setembro.

Andar com elegância mesmo em um enterro sempre foi o meu forte. Meu pai ⎯  Maves ⎯ mau olhava para as pessoas ao redor. Diferente da minha mãe ⎯  Isis ⎯  que acenava com superioridade, como se todos aqui fossem lixos, aspirantes à terroristas.

Theodore não quer nos acompanhar, principalmente depois de nossos pais falarem que não se importavam brevemente com Bree, porque era uma garota alegre demais para a Sonserina.

Sonserina isso, Sonserina aquilo.

Paramos em frente ao túmulo da garota, não há como confundir o nome "Bree Parkinson" no pedaço de pedra. Agora ela é só isso. Ela não existe mais. Ninguém sabe o que levou ela a fazer isso, muito menos os próprios pais.

⎯  Uh. ⎯  minha mãe tirou os óculos escuros, olhando para a pedra que cravava seu nome. ⎯  Era uma garota alegre demais. Pessoas alegres sempre procuram sofrimento em si mesmas.

⎯  De fato. ⎯  Tento concordar. Eu não queria falar isso. Eu não queria. Sinto muito. Me desculpo mentalmente com Bree. Que Merlim a tenha.

Meus olhos buscam algo pela multidão de pessoas espalhadas naquele funeral. A chuva continuava caindo, mas estava tão fraca. Captando uma pessoa no meu campo de visão, era totalmente desconhecida. Traços femininos, mas rudes. Fortes.

Os cabelos longos e cacheados volumosos e escuros, sua pele era escura, não tão escura, marrom claro, suave. E com um par de olhos cor negros. Nunca tinha a visto aqui. Nunca tinho visto essa garota em toda a minha vida.

Me pergunto se era alguma amiga de Bree.

Ela estava com uma roupa meio chamativa, jaqueta preta de couro com mangas longas, uma blusa com decote de cor vinho, calças de couro da mesma cor do jaqueta, assim como as botas. A garota estava com as mãos nos bolsos da roupa. Sério, que garota é essa?

Ao lado dela estava um garoto mais alto, moreno, óculos de grau e cicatriz na testa. Ah, já sei aonde isso vai dar. Harry Potter.

Olho para o túmulo de Bree novamente. O que Harry Potter está fazendo aqui? O que ele quer?

Sério mesmo que ele não consegue pelo menos deixar os mortos descansarem? Tive sorte de não ir pra Hogwarts, mas conhecer bem a história desse garoto. O menino que sobreviveu.

Coloco meu guarda-chuva na frente do meu rosto, para não ter que ver a cara idiota de Potter.



Meus pais conseguiram se adiantar e dar os pêsames para a família rapidamente antes de sair do funeral. E eu fiquei para trás, eu pedi por isso.

Estava quase vazio, mas notei o olhar de Potter em mim. Ele era mais baixo que eu, e completamente menos observador, mas ele parece gostar de me observar. Ele quer algo.

Me escondo atrás do guarda-chuva, olhando para o túmulo de Bree, esperando que isso resolvesse e Potter finalmente fosse embora. Mas a única coisa que escuto são os passos dele se dirigindo à minha direção.

⎯  Meus pêsames. ⎯  foi a única coisa que desejou.

Não encaro ele nos olhos, quero que ele saia.

⎯  Obrigado. ⎯  agradeci para não permanecer mal educada.

Os momentos de silêncio duram pouco quando ele abre novamente sua boca irritante, meus olhos permanecem no nome cravado da minha falecida "amiga".

⎯  Vocês eram próximas?

⎯  Isso não é da sua conta.

Consegui ouvi-lo suspirar. Ótimo. Ele estava ficando irritado e iria embora.

⎯  Quando envolve Voldemort, tudo vai ser minha responsabilidade.

De novo isso? Tudo é o Voldemort. Tudo. Tudo. Tudo. Não é porque ele sobreviveu aos ataques, que vai ser responsabilidade ficar com traumas disso. Nem tudo pode ser o Voldemort.

⎯  Essa é a sua conclusão? Acusar a morte de Bree como "homicídio" por conta de Voldemort? Por conta dos seus traumas? ⎯  pergunto na ignorância.

⎯  Você não entende.

⎯  Óbvio, não entendo mesmo. ⎯  meus passos me levam direto para fora do funeral, sem olhar para trás.

⎯  Evangeline, espere!

Como ele sabe meu nome? Como? Theodore, talvez? Theo tem muitas conexões em Hogwarts. Talvez ele tenha conexões com Harry?

Sem olhar para trás e continuar meu caminho, me pego pensando sobre isso. Nada é sobre Voldemort. Não é porque você sofreu por isso, que isso vai girar em torno de todos, ninguém acha o mesmo que você. Ninguém se importa com seus traumas.

Não nascemos herdeiros, mas sim amaldiçoados.





⎯  O que aconteceu? ⎯  pergunto em alerta para meus pais, deixando meu guarda-chuva em um local seguro, perto dos outros acessórios.

⎯  Theodore não está no quarto. Em nenhum local. Ele acabou fugindo de novo!

Fico incrédula, sem acreditar. Em alta velocidade, meus passos me levam diretamente para as escadas da mansão, indo direto para o quarto de Theodore. Estava tudo normal.

Vou diretamente abrindo o guarda-roupa, não tinha nenhuma roupa lá, minhas mãos tremem. Para onde ele foi? Para onde ele teria ido?

SILVERFLOWER  •  HARRY POTTEROnde histórias criam vida. Descubra agora