Não se via ninguém nas ruas de Kalindor, e se não fossem os ruídos de luta ao redor das muralhas que eram carregados pelo vento tudo estaria em silêncio. Os cidadãos que não haviam se refugiado nos edifícios próximos do palácio estavam trancados em suas casas com as portas e janelas bem trancadas esperando que o cerco acabasse o mais breve possível. Orgoth havia encontrado alguns soldados queimados em seu caminho, e buscava com passos cautelosos pelo causador de tais mortes.
Haviam poucas sombras onde alguém pudesse se esconder sob o sol das dez horas da manhã, e poucas coisas escapavam aos olhos de Orgoth. Ele percebeu que todos os soldados mortos haviam sido vitimados em lugares que não podiam ser vistos de torres ou muralhas, e não podia ter sido trabalho do dragão pois muito mais teria sido destruído por suas baforadas do que apenas os corpos de alguns soldados. O necromante avançou mais pelas vielas da cidade até perceber uma casa alguns quarteiros adiante ardendo em chamas. Era uma construção estreita de dois andares rodeada por um pequeno jardim onde haviam flores e algumas hortaliças, uma casa que seria simpática se não estivesse sendo engolida por chamas.
A primeira coisa que Orgoth notou foi o telhado da casa, que estava intacto. Dai não lhe restaram dúvidas de que aquilo era o trabalho de um espião. Restava encontrá-lo, e para isso o necromante se imaginou na posição dele, decidindo a melhor maneira de queimar uma cidade sem ser notado. Não era um exercício mental difícil pois ele já havia estado em situações parecidas muitas vezes ao longo das últimas décadas.
Ele seguiu por uma rua estreita, que era ladeada por casas de dois andares coladas umas às outras que a tornavam uma região densa e perfeita para começar um grande incêndio. Se isso era o que o espião planejava o lugar escolhido seria uma das casas, e com isso em mente Orgoth avançou devagar testando as portas de cada edifício e olhando pelas frestas nas janelas. Seu esforço foi recompensado ao encontrar uma porta que estava apenas encostada ao batente. E vindo de dentro da residência o cheiro de carne e cabelos queimados penetrou as narinas do necromante, fazendo com que se lembrasse da batalha do vale do alvorecer onde tantos de seus amigos haviam perecido queimados pelo magma borbulhante que escorria das montanhas.
No primeiro andar da casa haviam uma sala e uma cozinha, ambas vazias e escuras. E pela boa qualidade da mobília e dos tapetes que cobriam o piso tratava-se da casa de algum artesão ou mercador emergente. Não havia sinal de um invasor, mas o cheiro de carne queimada vinha pelas escadas de madeira que levavam ao segundo andar onde ficavam os quartos. Com passos leves Orgoth subiu a escada, testando cada degrau para evitar de pisar em algum que pudesse ranger denunciando sua posição. Avançou sendo cuidadoso apesar de que os gritos dos grifos que voavam lá fora possivelmente encobririam qualquer ruído. A escada acabava num corredor com piso de tábuas, olhando para o lado esquerdo Orgoth viu uma janela que dava para a rua por onde entrava a claridade do dia, e olhando para o lado esquerdo haviam portas e o fim do corredor onde a luz da janela não era capaz de alcançar.
Todo o andar estava em silêncio e não haviam chamas iniciando um incêndio. Orgoth apurou sua audição para tentar detectar o invasor e surpreendê-lo, mas antes que pudesse perceber qualquer coisa uma dar portas se escancarou com violência batendo contra a parede. Orgoth só teve tempo para erguer uma barreira de proteção a sua frente antes de ser alvejado por uma bola de fogo. A esfera flamejante explodiu contra seu escudo, e a energia liberada pela explosão dentro do corredor estreito fez Orgoth voar para trás atingindo a janela, estilhaçando-a e indo por fim, batendo as costas contra o calçamento logo abaixo.
Dentro da casa o discípulo de Varatis se preparava para lançar uma segunda bola de fogo quando sentiu o chão cedendo sobre seus pés. Orgoth lançara um feitiço de destruição poderoso o suficiente para fazer ruir a casa inteira. Erion correu escada abaixo e se escondeu sob o batente da porta que dava acesso à escada antes que a construção desabasse ao ser redor nem estrondo levantando uma nuvem de poeira e cercando o mago de fogo com escombros.
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A Forja do Deus Profanado
AdventureDepois da batalha do vale do alvorecer alguns heróis inconformados com a morte de Aurorean decidiram trair os princípios de sua ordem para numa tentativa desesperada tentarem devolver a vida do deus do amanhecer.