Decisões

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João Campos

A reunião havia acabado, mas a presença de Sofia ainda pairava na sala, Era como se o ar ainda estivesse impregnado com o cheiro que ela trouxe

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A reunião havia acabado, mas a presença de Sofia ainda pairava na sala, Era como se o ar ainda estivesse impregnado com o cheiro que ela trouxe. Enquanto os outros entrevistadores se dispersavam, discutindo entre si os detalhes da apresentação, minha mente estava distante, presa na intensidade daquele reencontro inesperado. Eu a reconheci assim que entrou, mas me forcei a não demonstrar. Não podia deixar que o passado influenciasse o presente, muito menos minhas decisões.

Sofia. Só de pensar em seu nome, uma onda de memórias que eu acreditava ter superado invadiu minha mente. Na faculdade, éramos mais do que apenas colegas de curso.

Naquele tempo, havia algo entre nós, uma conexão silenciosa que nunca foi verbalizada, mas sempre presente. Ela era inteligente, ambiciosa, e havia uma paixão em suas palavras que me desafiava a pensar diferente. Não era apenas o brilho nos olhos quando falávamos sobre o Recife ou sobre as transformações que queríamos ver no mundo. Era algo mais profundo, algo que permaneceu adormecido por muito tempo, até hoje.

Quando ela entrou na sala para a entrevista, estava diferente, mais madura. Sua postura era firme, suas palavras carregavam um peso novo, mas seus olhos... aqueles olhos permaneciam os mesmos. Uma mistura de determinação e vulnerabilidade que sempre me cativou. Contudo, eu não podia me permitir fraquejar. Não naquele momento.

À medida que ela apresentava suas ideias sobre a revitalização do Recife Antigo, cada palavra fazia eco em memórias do passado, conversas longas que tivemos, idealizando o futuro da cidade. Lembro-me de como ela enxergava o equilíbrio entre preservação e modernização como algo vital — um ponto de vista que poucos compreendiam na época. Ver que ela ainda mantinha essa convicção me fez perceber que, por mais que o tempo tenha passado, a essência de Sofia continuava ali. Ela havia crescido, se transformado, mas aquela chama que me atraiu anos atrás ainda estava viva. Eu pensei que tinha superado tudo isso, mas agora percebo que esses sentimentos nunca realmente se foram. Eles apenas dormiam, esperando para serem despertados.

E hoje, foram. Enquanto ela falava com tanta paixão, eu me peguei prestando menos atenção no conteúdo de suas palavras e mais em quem ela era. A Sofia que eu conhecia estava ali, em frente a mim, e isso mexeu comigo de um jeito que não esperava.

Quando a entrevista terminou, senti um estranho alívio misturado com uma tensão que não conseguia dissipar. Estava prestes a deixá-la sair da sala sem mencionar nada, sem sequer reconhecer que sabia quem ela era. Mas uma parte de mim, mais emocional do que racional, decidiu agir. Eu precisava testar o terreno, mesmo que de forma sutil.

— Sofia, espere um instante — minha voz saiu controlada, mas havia uma tensão subjacente que apenas eu podia sentir.

Ela se virou, e naquele segundo, nossos olhos se encontraram. A expressão em seu rosto me confirmou o que já sabia: ela também havia me reconhecido. O passado estava ali, entre nós, pulsando sob a superfície, mesmo que nenhum de nós quisesse admitir.

Me aproximei e estendi a mão. Um gesto simples, formal, mas que carregava muito mais significado do que qualquer um dos outros ali presentes poderia imaginar. Quando sua mão tocou a minha, senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Era como se aquele toque, aquele simples contato, tivesse o poder de trazer à tona tudo o que eu tentava manter enterrado. O calor de sua mão fez o tempo parar, e de repente, percebi que o que sentia por ela nunca havia desaparecido por completo. Estava apenas adormecido, esperando o momento certo para emergir.

— Obrigado pela sua apresentação. Você trouxe pontos importantes para a discussão — disse, mantendo o tom profissional, mesmo que por dentro eu estivesse longe disso.

Ela me respondeu com um simples "Obrigada", mas o tom de sua voz denunciava o quanto aquilo também a afetava. O breve hesitar antes de apertar minha mão, o leve tremor em seus dedos — tudo aquilo me fez perceber que ela estava tão impactada quanto eu por esse reencontro.

Enquanto segurava sua mão por um segundo a mais do que o necessário, senti uma confusão crescer dentro de mim. Havia algo entre nós que nunca foi resolvido, e agora estava ali, à flor da pele. No entanto, esse não era o momento de lidar com essas questões. Eu era um profissional, um líder, e não poderia deixar que emoções antigas nublassem meu julgamento.

Quando finalmente soltei sua mão e ela se virou para sair, algo em mim desejou poder dizer mais. Queria perguntar como ela estava, o que tinha feito todos esses anos. Queria reviver aquelas conversas despreocupadas que tínhamos na faculdade, quando o mundo parecia cheio de possibilidades. Mas sabia que não podia. Qualquer demonstração de reconhecimento poderia influenciar minha postura nas decisões futuras, e isso não seria justo com ela, nem comigo.

Sofia saiu da sala, e eu permaneci ali, imóvel por alguns segundos, refletindo sobre o que aquele reencontro realmente significava. Eu pensei que nossos sentimentos estavam enterrados no passado, mas agora percebo que eles nunca realmente morreram. Estavam apenas adormecidos, esperando o momento certo para despertar — e esse momento havia chegado.

Ana Paula entrou logo depois, me trazendo de volta à realidade. Eu sabia que ela havia notado algo, mas, felizmente, decidiu não pressionar. Sua pergunta casual sobre Sofia apenas reforçou o fato de que eu precisava manter a fachada profissional.

Quando fiquei sozinho, o silêncio da sala me envolveu, mas minha mente estava longe de tranquila. Ver Sofia novamente havia mexido comigo de um jeito que eu não esperava. Ela não era apenas mais uma candidata. Ela era alguém que fez parte da minha vida em um momento crucial, e agora, nosso reencontro estava me fazendo questionar coisas que achei que já havia resolvido.

Sabia que não seria a última vez que nos veríamos, e que, mais cedo ou mais tarde, teria que lidar com os sentimentos que esse reencontro trouxe à tona. Mas, por enquanto, eu precisava manter o foco. Afinal, havia muito mais em jogo do que apenas nossas histórias pessoais.

O nosso loirinho é meio lento, os sinais que ele deu foram tão sutis que a Sofi acabou entendendo tudo errado

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O nosso loirinho é meio lento, os sinais que ele deu foram tão sutis que a Sofi acabou entendendo tudo errado.

@lkovu_

Meu Prefeito - João Campos Onde histórias criam vida. Descubra agora