Incertezas

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Os dias que se seguiram ao reencontro com João passaram em uma estranha suspensão

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Os dias que se seguiram ao reencontro com João passaram em uma estranha suspensão. A cada manhã, verificava meus e-mails e mensagens, esperando alguma resposta, qualquer sinal de que o processo seletivo ainda estava em andamento. Mas o silêncio era absoluto. Nenhuma nova entrevista, nenhum retorno, apenas o vazio que começava a se transformar em uma certeza desconfortável: talvez eu tivesse sido desclassificada.

Num desses dias, ao chegar em casa, meu pai percebeu a tensão no meu rosto antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa. Sentei-me no sofá, tentando relaxar, mas ele logo veio sentar-se ao meu lado, com aquele jeito calmo e firme que sempre soube me trazer algum alívio.

— E então, minha filha, alguma novidade? — perguntou, o tom de voz cuidadoso, mas cheio de otimismo.

Balancei a cabeça, desanimada.

— Nada ainda, pai. Nenhuma ligação, nenhum e-mail. — Dei de ombros, tentando esconder a frustração. — Talvez já tenham seguido em frente com outro candidato.

Ele me olhou com compreensão e sorriu de leve, do jeito que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem, mesmo nos momentos mais incertos.

— Olha, Sofia, às vezes as coisas demoram mais do que a gente espera. Não significa que você foi desclassificada. E, se fosse o caso, já teriam te avisado, não acha? — Ele estendeu a mão e deu um leve aperto em meu ombro. — Você é boa no que faz. Sempre foi. Eles vão perceber isso. Só precisa ter um pouco mais de paciência.

— Sei disso, mas… — Respirei fundo. — É estranho, sabe? Achei que… — hesitei, sem querer mencionar João diretamente. — Achei que dessa vez seria diferente, que finalmente algo grande ia acontecer.

Ele sorriu de forma compreensiva, respeitando o que eu deixava subentendido. Meu pai sempre soube quando eu precisava de espaço para processar as coisas.

— Talvez seja exatamente isso, Sofia. Às vezes, quando as coisas estão prestes a dar certo, a gente sente mais insegurança. Mas, no final, tudo se encaixa. Confie um pouco mais.

Assenti, agradecida pelas palavras dele, mas ainda com a ansiedade remoendo por dentro. Ele sempre sabia como me trazer de volta ao centro, mas havia algo que ele não podia resolver: aquela confusão silenciosa que João havia reacendido. Ele era como uma sombra do passado que eu pensava ter superado, mas que agora insistia em ressurgir, me obrigando a confrontar sentimentos que pensei estarem enterrados.

No dia seguinte, com a cabeça ainda tumultuada, recebi uma mensagem de Mariana. Ela me convidava para um passeio, sugerindo uma tarde tranquila no novo parque de Recife, um lugar que eu ainda não conhecia. Concordei sem pensar duas vezes; precisava sair de casa e espairecer.

Quando contei ao meu pai que iria encontrar Mariana, ele se despediu com um beijo na testa, algo que sempre fazia.

— Tome cuidado, minha filha, e aproveite para relaxar — disse ele, com um sorriso terno.

Meu Prefeito - João Campos Onde histórias criam vida. Descubra agora