PEJÃO | HEAT • ABO

II. bonequinha de luxo.

Oii, cheguei...

POV PEDRO.

Estar na casa da Malu é um refresco para a mente, como se todas as preocupações se dissipassem assim que passo pela porta. O apartamento dela é um contraste completo ao estilo de vida engessado e tradicional que cresci, eu me sinto acolhido aqui, como se pudesse ser eu mesmo perto dela. As paredes são pintadas com cores vibrantes, as cortinas têm estampas florais, e cada canto parece ter uma história diferente. Almofadas de tons vibrantes ocupam os sofás, e há quadros espalhados por todo lado, cada um mais inusitado que o outro. O ambiente, sempre permeado pelo cheiro gostoso de velas aromáticas e incensos, tem uma aura aconchegante e libertadora, algo que minha casa jamais teve.

Enquanto observo Malu se maquiar no espelho iluminado do banheiro, meu reflexo me encara de volta. Estou com um smoking preto clássico, mas decidi ousar um pouco, há um toque especial reluzente nos pequenos brilhinhos bordados no tecido que se destacam quando a luz bate neles. Por baixo, a camisa branca estruturada traz um ar formal, mas decido quebrar um pouco essa rigidez com um lenço de seda azul envolvido em torno do pescoço, não costumo usar gravatas. A cor do lenço lembra o mar durante o entardecer, e gosto de como o tecido macio toca minha pele, aconchegante e suave.

Malu sai do banheiro com um ar de triunfo, e vejo o quanto ela está deslumbrante. O vestido longo de veludo preto realça cada movimento dela, e as luvas que passam dos cotovelos completam o visual, lhe dando um toque de glamour clássico, como uma bonequinha de luxo. Os diamantes em seus acessórios brilham sob a luz suave do quarto, mas o que realmente rouba a cena é seu cabelo rosa, vibrante e alegre, um contraste gritante com o traje sóbrio. Ela é como um quadro vívido em meio a uma galeria monocromática.

— Você está incrível, Malu, como sempre — digo, e ela me lança um sorriso confiante, rodopiando uma vez para que eu veja o caimento do vestido sobre seu corpo esbelto.

— E você também não está nada mal, Pedro. Esse lenço foi uma boa escolha. — Ela para um segundo, me estudando com olhos afiados. — Mas falta alguma coisa.

Sinto o coração acelerar levemente quando ela sugere um toque final, e eu acabo concordando. No fim, pego um pequeno brinco com um ponto de luz e o coloco na minha orelha direita. Olhando-me no espelho, tento me acostumar com o brilho sutil que agora complementa meu rosto. "Acho que agora estou um pouco menos sem graça", penso, ainda que a insegurança persista.

— Só espero que eu esteja à altura — murmuro, ajustando o lenço uma última vez.

— Confie em mim, Pedro, você está perfeito. Na verdade, algo me diz que você está prestes a roubar a cena. — Malu pisca para mim com um sorriso travesso, como se soubesse de algo que eu não sei. Mas, antes que eu possa responder, ela deixa escapar: — João já está quase chegando.

Eu me viro para ela, surpreso. Imaginei que ele iria preferir me encontrar direto no baile, não fazer esse trajeto ao nosso lado, isso causa uma confusão na minha cabeça. Um frio inesperado me percorre a espinha ao pensar que vamos passar mais tempo juntos, desde já. É claro, faz tempo que não vou à casa dos meus pais, e a ideia de enfrentar aquele ambiente sufocante já me deixa nervoso, mas a presença de João torna as coisas ainda mais complexas.

Alguns minutos depois, a campainha toca, e meu coração dá um salto no peito. Malu abre a porta, revelando João em toda a sua elegância. Ele veste um smoking preto impecável, com uma gravata borboleta que contrasta com a casualidade do meu lenço. Seus cabelos loiros, normalmente desalinhados, estão penteados em um topete bem-feito, como se cada fio estivesse em seu devido lugar. Não posso deixar de notar que ele cortou o cabelo, provavelmente para essa noite, há um raio desenhado na lateral direita de seu cabelo raspado, e isso me irrita de uma forma inexplicável. João Romania, sempre tão perfeitamente arrumado, carregando aquela aura que me faz querer manter distância: um Alfa, no sentido mais literal possível da palavra.