POV PEDRO.
A porta da cafeteria tilintou atrás de mim quando entrei e logo fui envolvido pelo cheiro acolhedor de café fresco e chocolate. O ambiente estava levemente abafado, aquecido pela conversa constante e pelas máquinas de espresso. Era um lugar agradável, com poltronas de couro desgastado, estantes cheias de livros de segunda mão, e um clima aconchegante que contrastava com o frio lá fora. As paredes tinham aquele tom quente de terracota, e o aroma doce de café e chá frescos se misturava ao perfume das flores dispostas em pequenos vasos nas mesas. O lugar estava relativamente vazio, o que era um alívio. Eu não estava com cabeça para multidões.
Procurei por Malu entre as mesas de madeira escura, mas não a encontrei de imediato. Suspirei, sentindo uma pontada de ansiedade crescer no peito. Eu detestava quando ela me chamava para um lugar e demorava para aparecer. Me aproximei do balcão e pedi uma bebida quente. Não tinha certeza de quanto tempo ficaria ali, mas precisava de algo para aquecer as mãos e tentar apaziguar a confusão que dominava minha mente.
Minutos depois, quando eu já havia tomado alguns goles do cappuccino docinho do jeito que eu gostava, a porta se abriu de novo. Malu entrou com seu sorriso costumeiro, ela estava elegante como sempre. Vestia um cachecol que era igual ao que eu usava, só mudando a cor, o meu era azul e o dela era vermelho. Além disso ela estava com um casaco de lã rosa claro que combinava com seus cabelos, também tingidos do mesmo tom de iogurte. Os fios, por sua vez, estavam parcialmente cobertos por um gorro cinza que tinha um pompom no topo. Ela caminhou até a minha mesa com a mesma leveza de sempre, como se não tivesse se atrasado quase vinte minutos.
— Desculpa a demora, Pe, trânsito infernal. — Ela se acomodou na cadeira à minha frente, dando-me um sorriso de desculpas que eu conhecia bem demais.
— É sempre trânsito, né, Malu? — retruquei, mas sem conseguir sustentar a irritação na voz. Eu gostava demais da companhia dela para me manter emburrado. Além disso, estava ansioso demais com o assunto que queria conversar, precisava desabafar, e teria de ser com ela.
Malu estreitou os olhos, me observando como só ela sabia fazer, aquela análise que parecia atravessar todas as camadas de proteção que eu tentava manter. Ajeitei o meu cachecol em volta do pescoço, afrouxando um pouco, e desviei o olhar para a janela ao nosso lado, onde as pessoas caminhavam apressadas, protegendo-se do vento.
— O que foi? — ela perguntou, com a voz doce, mas a preocupação evidente.
Dei um longo gole na minha bebida, sentindo o líquido quente queimar a garganta, antes de me inclinar um pouco para frente e baixar a voz.
— Na semana que vem... é o baile. Na casa dos meus pais. — Minhas palavras saíram mais tensas do que eu gostaria, e Malu logo entendeu a implicação.
Ela me lançou um olhar solidário e assentiu devagar. Sabia tão bem quanto eu o que aquele evento significava: o Baile das Alianças. A chance anual que as famílias influentes de alfas e ômegas tinham de selar novos acordos, aproximar jovens promissores, e... formar casais. Ou, como eu preferia pensar, escolher a melhor jogada possível num tabuleiro de xadrez onde as peças são pessoas.
— Ah, Pe... — Malu suspirou, estendendo a mão sobre a mesa e tocando a minha. — Você já sabe o que seu pai vai querer aprontar dessa vez?
Soltei um riso seco, mais amargo que o expresso duplo que Malu pediu com um aceno para uma garçonete que a conhecia muito bem. Eu já conseguia visualizar a expressão do meu pai, Pedro Palhares, cheio de expectativas, observando-me durante todo o baile. E, claro, ao lado dele, Gael.
— Meu pai... está obcecado com essa ideia de me aproximar do Gael. — As palavras saíram baixas, quase um sussurro, como se eu temesse que a simples menção do nome dele pudesse de alguma forma invocá-lo ali. — Ele acha que seria a aliança perfeita. Duas famílias antigas, fortes... — Eu cerrei os punhos em volta da xícara, tentando ignorar o tremor nas minhas mãos.
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PEJÃO | HEAT • ABO
Fiksi Penggemar[𝐇𝐄𝐀𝐓] tradução: 𝘾𝘼𝙇𝙊𝙍, 𝘾𝙄𝙊, 𝘼𝙍𝘿𝙊𝙍. Pedro, um Ômega, precisa de um Alfa para fingir ser seu companheiro durante um evento importante de sua família, onde espera-se que Ômegas estejam ou fiquem comprometidos. Para evitar um casamento...