A luz do sol filtrava-se pelas cortinas da sala, iluminando os rostos cansados de Fabrício e Katarina. A atmosfera estava carregada de tensão, como se as paredes da casa pudessem sentir a frustração que permeava aquele ambiente.
Fabrício olhou para a pilha de contas que se acumulava na mesa da cozinha, cada uma representando um peso crescente sobre seus ombros. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas a irritação estava prestes a transbordar.
— Eu não sei como vamos pagar isso, Katarina! — exclamou Fabrício, sua voz subindo de tom. — Os salários não são suficientes e ainda temos as despesas do mês passado!
Katarina cruzou os braços, sua expressão se fechando. O medo se transformava em raiva, uma reação instintiva para se proteger das preocupações que a assombravam.
— Não é só sobre o dinheiro, Fabrício! Eu já disse que podemos encontrar maneiras de reduzir as despesas! — respondeu ela, tentando manter a voz firme. — Mas você precisa estar disposto a cortar algumas coisas!
— Cortar? — Fabrício riu, um riso amargo. — E o que exatamente você sugere? Vender a nossa casa? Parar de comprar comida? Não podemos continuar vivendo assim!
Katarina sentiu a frustração crescer dentro dela, misturada com uma sensação de impotência. Eles já tinham discutido isso várias vezes, mas a cada mês a situação parecia piorar. O casal que outrora sonhava junto agora se via em um campo de batalha, onde as finanças eram a principal arma.
— Eu não estou pedindo que você faça tudo isso sozinho! — disse ela, a voz tremendo. — Mas precisamos trabalhar juntos. Você não pode simplesmente ignorar o que está acontecendo e esperar que tudo se resolva por conta própria.
Fabrício virou-se, afastando-se dela, como se a distância pudesse aliviar a pressão que sentia. Ele nunca fora bom em lidar com conflitos, e a ideia de perder sua família o atormentava, mas ele não sabia como se expressar.
— Eu só preciso de um tempo para pensar — murmurou, sem olhar para ela. A frustração na sua voz era palpável.
Katarina olhou para ele, a dor de ver seu marido se afastar a atingindo como um golpe. Ela queria que ele a visse, que percebesse que ela estava lutando para manter a família unida, mas tudo parecia em vão.
— Fabrício, por favor... — implorou ela, com a voz embargada. — Não podemos nos deixar vencer por isso. Precisamos de apoio, da nossa fé. A igreja poderia nos ajudar!
— A igreja? — ele a interrompeu, virando-se para ela com desdém. — Como a igreja pode nos ajudar com contas a pagar? Precisamos de dinheiro, Katarina, e não de conselhos religiosos!
Katarina sentiu um nó se formar na garganta. A dor em seu coração se intensificava, e lágrimas teimavam em brotar. O que antes era um lar agora se tornava um campo de batalha, e a ideia de perder Fabrício a assustava mais do que qualquer conta pendente.
— Eu só queria que você acreditasse que podemos encontrar uma solução juntos. Não quero perder você — disse ela, com a voz suave.
Fabrício, vendo a fragilidade dela, hesitou. No fundo, ele também não queria perder a mulher que amava. Contudo, o peso das responsabilidades parecia esmagá-lo, e ele não sabia como se livrar disso.
Silêncio. O clima era tenso e, embora as palavras não saíssem, a compreensão de que algo precisava mudar pairava no ar.
Katarina e Fabrício permaneciam em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos, quando a porta da cozinha se abriu lentamente. Isaque entrou, seguido por Isaías, ambos com expressões curiosas e um pouco preocupadas.
— O que está acontecendo? — perguntou Isaque, franzindo a testa ao notar a tensão no ar. Ele tinha 16 anos, com uma atitude rebelde que frequentemente desafiava a autoridade dos pais.
— Nada que você precise se preocupar — respondeu Fabrício rapidamente, tentando abafar a situação. Ele não queria que os filhos soubessem da gravidade dos problemas financeiros que enfrentavam.
— Não parece que é nada — comentou Isaías, o gêmeo mais sensato e equilibrado. Com um olhar mais atento, ele viu as expressões preocupadas dos pais. — Se fosse só “nada”, vocês estariam sorrindo.
Katarina sentiu seu coração apertar ao ver os filhos tão atentos ao que estava acontecendo. Ela desejava que eles não tivessem que carregar esse peso, mas também sabia que a vida real não podia ser escondida para sempre.
— Queremos que vocês saibam que estamos apenas discutindo algumas coisas sobre o dinheiro — disse Katarina, tentando adotar um tom calmo. — Está tudo bem, de verdade.
— Mas por que vocês estão gritando? — Isaque não se deixava enganar. Sua voz tinha um toque de desdém, refletindo a frustração que vinha acumulando com as constantes brigas entre os pais. — Eu não quero que vocês briguem mais!
— Nós não estamos brigando, filho, só estamos tendo uma conversa... mais intensa — Fabrício respondeu, forçando um sorriso. Mas a expressão em seu rosto não ajudava a convencer ninguém.
Isaias, percebendo a inquietação do irmão, tentou aliviar a tensão. — Que tal nós fazermos um lanche? Assim vocês podem conversar sem se preocupar com a gente.
Katarina balançou a cabeça. — Não, não... Isso não é a culpa de vocês. É apenas... um momento difícil. O que vocês acham de se juntar a nós na mesa e conversarmos sobre outra coisa?
Isaque revirou os olhos, já cansado do papel de “filho responsável” que era muitas vezes exigido dele. — Tudo bem. Mas se você precisa que a gente participe, só queremos que as coisas voltem a ser como eram antes.
A resposta de Isaque cortou o coração de Katarina. Ela desejava ardentemente que as coisas fossem como antes, antes das contas, das brigas e das preocupações.
— Nós também queremos isso — disse Fabrício, olhando nos olhos de cada um dos filhos. — Estamos trabalhando para resolver as coisas.
Os gêmeos se entreolharam, e Isaías, sempre o pacificador, deu um passo à frente. — Se precisarem de ajuda, nós podemos fazer alguma coisa. Podemos arrumar a casa ou vender algumas coisas.
Fabrício ficou surpreso com a oferta. — Isso é muito gentil, meninos. Mas... não quero que vocês se sintam obrigados a resolver nossos problemas.
— Podemos ajudar, pai! — Isaque insistiu, sua voz agora mais suave. — Somos uma família, certo?
Katarina sorriu, mas a tristeza ainda estava presente em seus olhos. A união dos filhos significava muito para ela, mesmo em meio ao caos.
— Sim, somos uma família — confirmou Katarina, enquanto um nó se formava em sua garganta. — E isso significa que enfrentaremos tudo isso juntos, não importa quão difícil seja.
Fabrício olhou para Katarina, percebendo que, apesar de suas diferenças, havia algo ainda mais importante em jogo: a necessidade de permanecer unidos, mesmo diante das dificuldades.
— Vamos nos sentar e conversar sobre o que podemos fazer juntos. — disse ele, tentando suavizar o clima.
Os filhos concordaram, e a família se reuniu à mesa, cada um trazendo sua própria perspectiva e esperanças para enfrentar a tempestade que se aproximava.
Katarina sentiu uma leve esperança brotar dentro dela. Se eles conseguissem trabalhar juntos como família, talvez, só talvez, poderiam encontrar um caminho para a restauração.
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Restauração de uma família destruída
RomanceEm meio a uma tempestade emocional, o casamento de Fabrício e Katarina Tavares balança à beira da separação. Pressionados por problemas financeiros e pela distância que se formou entre eles, ambos se sentem perdidos em um mundo onde a fé parece dist...