Restauração de uma família destruída

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Isaque ainda estava processando a conversa que tivera com sua mãe na noite anterior. As palavras de Katarina ecoavam em sua mente como um lembrete constante de que ele não estava tão sozinho quanto pensava. No entanto, a raiva e a frustração que sentia pelo que estava acontecendo em sua casa ainda ardiam intensamente. Ele não sabia como se conectar com seus pais, e muito menos com Isaías, que parecia estar vivendo em um mundo completamente diferente.

No café da manhã, a tensão era palpável. Fabrício havia saído cedo para o trabalho, como de costume, deixando Katarina encarregada de lidar com os filhos. Isaque sentou-se à mesa, mexendo no cereal sem vontade de comer. Isaías estava concentrado no celular, ignorando completamente a presença do irmão.

O silêncio era incômodo, mas familiar. Os gêmeos, que um dia foram inseparáveis, agora mal se falavam.

Finalmente, Katarina quebrou o silêncio com um suspiro cansado. - Vocês dois precisam conversar.

Isaías olhou de relance para a mãe, depois para o irmão, antes de voltar sua atenção para o celular. - Não tenho nada para falar.

Isaque, já de mau humor, não deixou passar a provocação. - Claro, porque você nunca tem tempo para ninguém que não seja perfeito como você, né?

Isaías levantou os olhos, irritado, mas ainda tentando se controlar. - O que você quer dizer com isso, Isaque?

- Você sabe exatamente o que eu quero dizer. - Isaque respondeu, largando a colher com força na tigela. - Você se acha melhor do que todo mundo. Só porque tem notas boas, vai à igreja e finge que tudo está bem, acha que tem o direito de julgar todo mundo.

Isaías, até então contido, não conseguiu mais segurar a raiva. Ele largou o celular na mesa e encarou o irmão de frente. - Eu não finjo que está tudo bem, Isaque! Pelo menos eu tento fazer alguma coisa. Você só se afasta e faz besteira com esses seus "amigos". E depois quer culpar os outros pelos seus problemas!

- Ah, então agora você é perfeito, é isso? - Isaque retrucou, levantando-se da cadeira. - Você acha que pode me julgar porque é o filho "bom"? Sabe de uma coisa, Isaías? Você não tem ideia do que eu passo!

Isaías também se levantou, incapaz de manter a calma. - E você acha que é fácil para mim? Eu estou tentando manter as coisas juntas enquanto você só faz tudo piorar! Não percebe que o que você está fazendo só está destruindo a nossa família?

Isaque sentiu a raiva tomar conta. Ele estava farto de ser visto como o problema, o único que estava errado. - Nossa família já está destruída, Isaías! Você não vê? Papai e mamãe não se suportam mais, e você acha que ir à igreja e fingir que está tudo bem vai resolver as coisas?

Isaías fechou os punhos, claramente lutando para não perder o controle, enquanto Katarina olhava para os dois, a voz presa na garganta, incapaz de intervir.

- Eu não estou fingindo, Isaque. - Isaías disse entre dentes, tentando manter a compostura. - Eu acredito que as coisas podem melhorar, mas só se nós fizermos a nossa parte. Você só está fugindo.

- E você está se enganando! - Isaque gritou, sua voz reverberando pelas paredes da cozinha. - Eu não quero mais saber dessa vida perfeita que você quer. Eu só quero... eu só quero paz!

Com isso, Isaque saiu da cozinha, esbarrando na cadeira e deixando Isaías e Katarina para trás. A porta da frente bateu com força, e o silêncio retornou, mais pesado do que antes.

Isaías permaneceu em pé, o corpo tremendo de raiva e frustração. Katarina, finalmente se levantando, colocou uma mão suave no ombro do filho mais calmo.

- Isaías, - ela disse suavemente. - Eu sei que você está tentando fazer o seu melhor. Mas o seu irmão está ferido, e às vezes, quando as pessoas estão machucadas, elas atacam quem está mais perto.