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Os dias passavam, mas a tensão na casa dos Tavares parecia aumentar. Depois da discussão com Isaías, Isaque começou a se afastar cada vez mais da família. O clima era de desconforto, e cada vez que tentavam se reunir, ele evitava o contato, preferindo passar o tempo fora de casa ou trancado em seu quarto. Katarina e Fabrício, preocupados, notavam as mudanças sutis no comportamento do filho mais velho, mas não sabiam como alcançar seu coração rebelde.

Certa noite, ao chegar mais tarde que o usual, Isaque entrou pela porta da frente com o som de risadas abafadas ecoando no fundo de sua mente. Havia se encontrado com alguns novos "amigos", jovens que compartilhavam seu descontentamento com a vida. Para Isaque, eles representavam uma fuga dos problemas de casa, um alívio para a pressão que sentia.

— Isaque, onde você estava? — a voz de Katarina ecoou pela sala de estar assim que ele fechou a porta. O tom dela não era de raiva, mas de preocupação.

Isaque soltou um suspiro impaciente, já esperando por uma bronca. — Só estava com uns amigos, mãe. Relaxa.

— Relaxar? — Fabrício apareceu na sala, cruzando os braços, claramente frustrado. — Você tem saído tarde demais quase todas as noites. Não achamos que isso seja seguro, e você nem se dá ao trabalho de avisar.

— Vocês sempre acham algo errado comigo, né? — Isaque rebateu, com uma expressão de irritação. — Talvez se parassem de brigar tanto, eu não precisasse sair de casa o tempo todo!

Katarina tentou manter a calma. — Isaque, estamos preocupados com você. Sabemos que as coisas não estão fáceis em casa, mas essas suas novas companhias... você não acha que está indo rápido demais? Nem sabemos quem são essas pessoas.

— Não importa quem são! — ele respondeu, elevando a voz. — Pelo menos eles me escutam, ao contrário de vocês dois.

Fabrício deu um passo à frente, tentando impor alguma autoridade. — Não é assim que resolvemos as coisas, Isaque. Não vamos te impedir de sair, mas você precisa ser responsável. Não pode simplesmente se afastar da família.

Isaque soltou uma risada irônica. — Família? Desde quando essa casa parece uma família? Tudo o que vocês fazem é brigar, e agora querem controlar minha vida também?

Katarina sentiu um aperto no coração. Ela sabia que o casamento estava abalado, mas ouvir isso do próprio filho a machucava profundamente. — Estamos tentando... — ela começou, mas foi interrompida por Isaque.

— Tentando o quê, mãe? Fingir que está tudo bem? — ele perguntou, seus olhos brilhando de raiva. — Eu estou cansado de fingir também. Vocês querem que eu vá à igreja, mas de que adianta se tudo está desmoronando por aqui?

O silêncio na sala era esmagador. Fabrício e Katarina se entreolharam, sem saber como continuar a conversa.

— Não tem mais nada a dizer? — Isaque continuou, cruzando os braços. — Claro que não. Vocês não têm ideia do que está acontecendo comigo. E quer saber? Não precisam saber. Vou cuidar da minha própria vida.

Antes que seus pais pudessem responder, Isaque saiu da sala, subindo as escadas apressadamente. O som da porta de seu quarto se fechando com força ecoou pela casa, deixando Katarina e Fabrício paralisados no meio da sala.

— O que fizemos de errado? — Katarina sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas.

Fabrício suspirou profundamente, sentindo a dor da pergunta de sua esposa. — Eu não sei, Katarina. Mas precisamos encontrar uma maneira de alcançar ele antes que seja tarde demais.

(...)

Nos dias seguintes, Isaque se distanciou ainda mais. Seus encontros com os novos amigos se tornaram mais frequentes. Eram jovens que viviam à margem da igreja e dos valores que a família Tavares tentava manter. Eles compartilhavam um desdém pela autoridade e encontravam diversão em pequenas rebeldias: escapadas noturnas, festas clandestinas e, para alguns, envolvimento com comportamentos que Isaque sabia serem perigosos.

Restauração de uma família destruída Onde histórias criam vida. Descubra agora