Me sinto um pouco inquieta desde minha última interação com Evan, tipo não é novidade que ele é obcecado por mim, mas o jeito que ele saiu todo sarcástico como se ele fosse o fodão me irritou.
Sei que eu também pego no pé dele, mas não podemos esquecer que foi ele que começou.
Nem sei como devolver uma pulseira e chamar alguém de "libélula" começa uma espécie de rivalidade, mas pelo visto criou.
Não é como se fosse a primeira vez que questiono o motivo de sermos "inimigos", mas sempre que vejo as atitudes desse beija-inseto acabo lembrando.
Mas eu não acho graça zoar dele. Eu xingo ele por quê ele é um idiota e merece não por quê acho engraçado.
Eu esperava pelo menos que ele respondesse algo como: "eu tenho inveja de você" ou "você é insegura e meio egoísta" (a última não seria completamente mentira mesmo). Mas puta merda qual é graça em lembrar uma pessoa todo dia que existe todo um universo de coisas ruins sobre ela.
Acho que todo mundo tem muitos pontos negativos, mas tem momentos que eu não quero ver o lado ruim de algum aspecto da minha vida.***
Eu e Stella estamos falando sobre como os gatos são melhores que as pessoas, quando solto um:
- Quer ir lá em casa depois da escola?
- Tá bom. Pra fazer oque?
- Sei lá. Qualquer coisa. Eeeee, eu compro aquele seu salgadinho que arde até a alma.
- Ebaaa - ela começa a bater palmas bem baixinho como uma criança.
- Como vai Chico Bento? - diz Evan ao se aproximar da minha mesa.
- Decidiu abandonar os apelidos com insetos? - respondo.
- Sou um cara mente aberta, libélula.
- Por que não vai fazer algo a que gosta. Tipo... cheirar a bunda de morcegos.
- Nossa. Depois disso vou precisar de cinco anos de terapia pra superar. - diz em tom sarcástico - Qual é, libélula? Você consegue fazer melhor...
- Vai pro inferno <3. - digo com um sorriso no rosto.
- Só não uso todos meus insultos por quê sou um cavalheiro.
- É, você é o último romântico do mundo. Um gentleman... - retruco sarcástica.
Ele se senta no fundo da sala e acende um cigarro, oque me faz tossir. Pra caralho.
- Ei, Dorothi! Vai fumar em outro lugar. Aqui não é o estúdio de o mágico de Oz! - grito para deixar a mensagem bem clara.
- Não tô afim, não.
- Então vai transformar todos na sala em fumantes passivos?
- Eu acho... que você quer um cigarro, mas tá sem graça de pedir. Toma. - ele se levanta e deixa um na minha mesa - Tá vendo? Eu sou mesmo um gentleman. - ironiza.
Olho pra ele com certa raiva nos olhos. Como ele consegue me irritar com tão pouco? Eu sou tão fraca assim? Odeio como ele me tira do sério. Odeio.***
Aparentemente, vai ter um acampamento da escola. Até que gosto de acampar, mas minha mãe nunca me leva por causa do trabalho e se eu for sozinha eu morro por quê sou irresponsável e ela morre por quê é - apesar que menos que eu - irresponsável. Eu acho que isso é bom, se eu não precisar fazer alguma dessas atividades bregas de acampamento. Tipo contar histórias ao redor de uma fogueira.
O acampamento vai ser em duas semanas, então tenho bastante tempo pra me preparar e conseguir dinheiro pra inscrição. A organização pediu R$50,00 por pessoa, oque não é grande coisa, mas eu não tenho esse dinheiro na conta. Acho que vou vender bolo de pote.
Stella e eu começamos a falar disso no recreio, porque ela e eu gostamos muito de insetos. Sei que entomologia é um gosto estranho pra duas adolescentes compartilharem, mas tanto eu quanto Stella desenvolvemos interesse nisso quando pequenas. Minha mãe estava assistindo um documentário na TV e o cara começou a falar sobre a borboleta asa-de-pássaro. Eu fiquei obcecada nela por um dia, como uma boa criança de seis anos, mas minha mãe decidiu comprar um livro ilustrado sobre borboletas. Com o tempo comecei a me interessar por outros insetos, como grilos, besouros e até libélulas. Infelizmente o cavalo degolado mais conhecido como Evan, me lembra de sua existência sempre que penso em libélulas. E libélula é o meu segundo inseto favorito.***
Eu tive que ir ao mercado depois da escola pra comprar o salgadinho picante da Stella, por quê se não me sentiria uma política, prometendo e não cumprindo.
Nesse exato momento eu e Stella estamos vendo a saga Para Todos Os Garotos pela 6488951° vez. Eu até tentei comer o salgadinho que a Stella me força à comprar, mas sou fraca demais pra isso. Então comi o resto do pudim que tinha na geladeira.
- Odeio a Jenny Han. Graças à ela eu quero casar com o Noah Centineo. - diz Stella enquanto leva um salgadinho até a boca.
- E eu odeio o Noah Centineo mais ainda por virar low profile - respondo.
- Não tem como odiar o Noah Centineo.
- Verdade.
Quando terminamos o 3° filme, Stella diz que vai embora.
- Ai. Qual é? Liga pra sua vó e pede pra dormir aqui. por favoooor - peço e jogo a cabeça no colo dela.
- Tá. Apenas pelas refeições gratuitas.
- Interesseira.
A vó dela deixa - como sempre -. Tenho quase certeza que a mulher gosta de ter a casa só pra ela e pro marido. Eles nem são tão velhos.
Sei que é meio aleatório falar disso agora, mas acho que oque me incomoda no que o Evan disse ontem é que me sinto como o brinquedo dele. Faz sentido?