A água fria da banheira abraçava meu corpo, mas não era o frio físico que me congelava. Era o peso do passado, um peso tão denso que me puxava para baixo, me afogando em lembranças turvas e dolorosas. As telhas azuis refletiam a penumbra do quarto, um reflexo distorcido da escuridão que habitava meu coração.  Cada bolha que subia à superfície era uma lágrima silenciosa, uma confissão não dita.

Eu me recordava de risos que ecoavam agora em um vazio ensurdecedor.  De mãos que um dia me seguraram com carinho, agora apenas um fantasma da memória. O amor, tão vibrante e quente em sua época, se transformava em cinzas geladas entre meus dedos, enquanto eu tentava desesperadamente segurar o que restava.

Ele, o epicentro de minha dor, aparecia nos meus pensamentos como um espectro. Seus olhos, outrora o meu porto seguro, agora representavam uma tempestade implacável.  As promessas sussurradas ao pé daquela mesma banheira, a mesma banheira onde agora eu procurava um alívio inexistente, ecoavam como mentiras cruéis em minha mente.

A cada respiração superficial, eu me sentia mais presa. As paredes do passado se fechavam em torno de mim,  as lembranças se transformavam em algas, envolvendo minhas pernas, me impedindo de me mover, de emergir. O ar faltava, não apenas nos meus pulmões, mas na minha alma.

Por que eu não conseguia deixar ir? Por que eu me agarrava tanto à dor, a um passado que me roubava a paz e a capacidade de respirar?  Eu repetia em minha cabeça as palavras de consolo que ouvia da minha terapeuta:  "O perdão é um ato de amor-próprio."  Mas o perdão parecia algo fora do meu alcance, uma estrela inacessível no céu da minha desesperança.

De repente, uma imagem surgiu em minha mente. A imagem de um jardim florido, cheio de cores vibrantes e vida. Uma imagem que representava um futuro possível, um futuro além da escuridão do passado.  Uma chance de respirar fundo e encontrar novamente a luz do sol.

Com um esforço...

Me afogando no passado Onde histórias criam vida. Descubra agora