chapter two

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ANY GABRIELLY

É totalmente estranho acordar em plena segunda-feira às 9:00 da manhã e ficar à toa na cama.

Eu gostava de chegar cedo ao The Buttered Bun, ligar a enorme máquina de chá, trazer os caixotes de leite e pão do depósito e conversar com Frank enquanto nos preparávamos para abrir. Gostava dos turistas que paravam no caminho, indo e vindo do castelo; das crianças agitadas do colégio que passavam por lá depois das aulas; dos habitués dos escritórios do outro lado da rua; e de Nina e Cherie, as cabeleireiras que sabiam quantas calorias tinha cada produto que oferecíamos no The Buttered Bun.

Era triste ver que aquele lugar seria fechado depois de tantos anos, após tantos acontecimentos bons e ruins. Agora terei que pensar em algo para ajudar meus pais nas despesas de casa; não posso depender só do emprego da Sabina, até porque o salário dela é pouco, e tem o Enzo no meio de nós.

Ela precisa sustentá-lo.

Sabina mora conosco desde que o pai do Enzo a abandonou grávida, sem deixar alternativa.

— Três meses! — explodiu papai, quando mamãe colocou uma xícara de chá adoçado nas minhas mãos. — Bom, é generoso da parte dele, já que ela trabalhou como escrava naquele lugar nos últimos seis anos.

— Ei — mamãe lançou-lhe um olhar de aviso, indicando Enzo com a cabeça. Meus pais cuidavam dele depois da escola até Sabina voltar do trabalho.

Minha mãe estava contando para o meu pai sobre minha demissão e que o meu ex-chefe tinha me dado dinheiro equivalente a três meses de salário. Segundo ele, era justo eu receber essa quantia para conseguir ajudar meus pais. Isso será muito útil até que eu consiga um novo emprego, que espero encontrar o mais rápido possível.

Agora estou sentada, esperando pela quarta entrevista, enquanto Krystian explorava a tela touch screen em busca de outras "oportunidades" de trabalho.

Até ele, que tinha aquele jeito terrivelmente animado de quem conseguia empregos para os candidatos mais improváveis, começava a parecer um pouco preocupado. Isso me deixa inquieta também, pois não tenho muita experiência — afinal, trabalhei minha vida inteira em um único lugar.

— De todas as opções que te mostrei, só nos resta o serviço de cuidadora — ele diz calmamente.

— Limpar traseiro de velho? Tô fora — faço uma careta só de imaginar.

— Receio, Any, que você não tenha qualificação para muito mais que isso. Se quiser aprender outra ocupação, eu teria prazer em lhe mostrar o caminho certo. Há vários cursos para adultos no centro de educação.

— Se eu fizer o curso, perco o seguro-desemprego, certo?

— Se você não estiver disponível para trabalhar, sim.

— Não sou boa em lidar com idosos, Krys. Meu avô mora conosco desde que sofreu os derrames e eu não consigo cuidar dele.

— Ah, então você tem alguma experiência como cuidadora.

— Não é bem assim. Minha mãe faz tudo por ele.

— Sua mãe estaria interessada em trabalhar?

— Que engraçado — finjo rir.

— Não estou brincando.

— Então você quer que eu cuide do meu avô? — pergunto, confusa. — Não, obrigada. Aliás, agradeço por ele e por mim. Não tem nada em algum café?

— Acho que não há cafés suficientes — ele suspirou. — Bom, então temos que procurar ainda mais.

Krystian passou horas procurando uma vaga que eu me encaixasse, mas estava difícil; só apareciam vagas de cuidadora de idosos, e isso eu realmente não queria. Até que ele murmurou algo e sorriu.

— Acabou de aparecer. Neste minuto. Uma oferta de emprego como cuidadora assistente — ele disse animado.

— Eu já lhe disse que não sou boa com... — antes que eu pudesse continuar, ele me interrompeu.

— Não é com idosos. É uma vaga confidencial. Para ajudar na casa de alguém. O endereço fica a menos de três quilômetros de onde você mora. "Cuidados e companhia para deficiente físico." Você sabe dirigir?

— Sei. Mas eu teria que limpar o... — fiz uma careta só de imaginar.

— Não é necessário limpar traseiros, pelo que entendi — ele disse, examinando a tela. — A pessoa é tetraplégica. Precisa de alguém durante o dia para ajudá-lo a se alimentar e assisti-lo. Geralmente, nesse tipo de emprego, você deve acompanhar a pessoa quando ela quiser ir a algum lugar e ajudar com coisas simples que ela não pode fazer. Ah, e paga muito bem. Muito mais do que o piso.

— Eu espero não ter que limpar traseiro de ninguém, ai credo — Krystian riu de mim.

— Vou ligar para confirmar isso. Se não precisar, você aceita fazer uma entrevista? — ele perguntou, como se houvesse dúvida.

— Óbvio, nem precisava perguntar.

Se eu conseguir essa vaga, vai ser a melhor coisa. Ficar desempregada é horrível. Eu me sinto inútil parada dentro de casa. Meu namorado sempre me diz para trabalhar com ele e correr para entrar em forma, mas isso não é para mim. Além disso, ele meio que me chamou de gorda.

oiii, voltei !!
espero que estejam gostando, não esqueçam de curtir e comentar cada cap. Até a próxima!! 💋

como eu era antes de você - BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora