ANY GABRIELLY
— O que vou vestir para ir nessa entrevista? — perguntei para minha irmã enquanto vasculhava o quarto atrás de roupa.
— Procura algo meio "secretária" — ela respondeu, se levantando. — Tenho um terno, acho que serve em você.
Sabina me trouxe o terno. Vesti-me e, confesso, ficou apertado, mas vou com ele. É melhor ir apresentável do que perder o emprego por causa da roupa. Desci para me despedir dos meus pais antes de sair de casa.
— Não esqueceu de arrumar o cabelo? — perguntou minha mãe assim que entrei na cozinha. Neguei com a cabeça. — Está bagunçado.
— Mamãe, eu arrumei agora, não tem nada bagunçado — dei um sorriso forçado. — Só passei para avisar que já estou de saída.
— Ok. Apenas tente parecer uma pessoa normal — olhei indignada para ela, mas preferi não discutir. — Boa sorte, querida. Você está muito... profissional.
Saí de casa antes que uma discussão desnecessária pudesse acontecer com minha mãe. Se meu pai estivesse na cozinha, ele nunca julgaria minhas roupas ou meu cabelo. Não entendo por que minha mãe implica tanto com o jeito que me arrumo.
Fiz a curta viagem de ônibus me sentindo levemente enjoada. Nunca tive uma entrevista de trabalho de verdade. Comecei a trabalhar no The Buttered Bun depois que Sabina apostou que eu não conseguiria um emprego em apenas um dia.
O que, afinal, se pergunta numa entrevista de emprego? E se me fizessem um teste prático com o idoso? Coisas como dar comida, ou um banho, ou algo assim? Krystian tinha mencionado que havia um cuidador homem, responsável pelas "necessidades íntimas" (estremeci ao ouvir a expressão).
Imaginei-me limpando a baba da boca do idoso e talvez perguntando aos gritos QUER UMA XÍCARA DE CHÁ? Quando o vovô estava se recuperando dos derrames, não conseguia fazer nada sozinho. Mamãe fazia tudo por ele, o que, pelo que entendi, significava até limpar sua bunda.
A Granta House, o local da entrevista, ficava do outro lado do castelo Stortford, perto das muralhas medievais, numa longa trilha sem pavimentação que continha apenas quatro casas e a loja do National Trust, bem no meio da região turística. Passei por aquela casa milhares de vezes sem jamais prestar atenção nela. Agora, ao passar pelo estacionamento vazio do castelo e pela ferrovia em miniatura, desolada como uma atração de verão em fevereiro, notei que a casa era maior do que eu imaginara — de tijolos vermelhos e fachada dupla, o tipo de casa que só vemos em revistas antigas.
Percorri a longa entrada de carros tentando não pensar que alguém me observava da janela. Cruzar uma entrada assim deixa você em desvantagem; isso faz você se sentir automaticamente inferior. Estava decidindo se tocava a campainha ou batia na porta quando a porta se abriu de repente, e eu dei um pulo. Surgiu o rosto de uma linda mulher de meia-idade, com cabelos longos e loiros. Usava um terno que, suponho, custava mais do que meu pai ganhava em um mês.
— Você deve ser a Srta. Soares.
— Any. — Estendi a mão, como minha mãe insistiu que eu fizesse. Eu particularmente acho um gesto sem graça.
— Entre, por favor — ela deu espaço para que eu entrasse na casa, se é que posso chamar isso de "casa".
— Conversaremos na sala. Meu nome é Úrsula Beauchamp. — Ela parecia exausta, como se já tivesse dito as mesmas palavras várias vezes naquele dia. — Você viu o anúncio pelo centro de trabalho, certo?
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como eu era antes de você - BEAUANY
FanficApós um trágico acidente, a vida de Josh muda drasticamente. Agora, preso a uma cadeira de rodas e dependente de cuidados, ele se vê obrigado a enfrentar uma nova realidade, onde seus sonhos parecem distantes e suas ambições, inalcançáveis. Enquanto...