No dia seguinte, no outro e em todos os que vieram depois, nos encontramos no mesmo lugar. Finalmente tinha feito uma amiga que eu sentia profundamente que poderia confiar.
Minha mãe sempre disse que nós temos talentos especiais, mas eu sei o que temos vai muito além de apenas um mero talento. Somos muito poderosas.
A história que ela nos conta é que nosso pai era um soldado e morreu em batalha. Mas eu não me lembro dele aqui, não tenho lembrança de nenhum homem entre as quatro paredes de pedra que sempre envolveram nossa vida.
Minha irmã caçula, a qual ele não viu nascer, completou oito anos esse ano, eu deveria ter pelo menos uma memória dele.
Mais uma manhã e lá estava eu, dessa vez cuidando das plantas em frente a minha casa, a barra do vestido e os dedos sujos de terra era a última coisa que me importavam naquele momento.
Eu sentia um acolhimento, uma paz, toda vez que eu cuidava de alguma planta, árvore ou entrava em contato com a natureza.
Era como se viesse direto da própria natureza pra mim, eu não conseguia entender muito menos explicar o que eu sentia, mas era tão bom que às vezes eu não via tempo passar.
Ouvi os passos de alguém perto de mim, por alguns segundos eu fiquei preocupada, mas novamente aquela mesma energia pacífica aqueceu as minhas costas, olhei pra trás.— De alguma maneira temos que nos encontrar não é mesmo? — Disse a morena dos cabelos ondulados, dessa vez com capuz verde musgo combinando com o resto do seu vestido
— Como você sabe onde eu moro? — perguntei curiosa.
— Mas eu não sabia - ela se defende - aqui também a passagem pra minha casa, eu moro no final da rua — ela movimenta a cabeça e o braço me mostrando o final da rua.
— Bom saber que somos vizinhas, mas sinto muito pela resto da vizinhança — sorrio — dizem que eles têm queimado meninas inteligentes.
— Então isso não será um problema pra nós, não é mesmo? - ela pisca pra mim, como cúmplice, e eu sorrio.
•
Entrei através da porta de madeira maciça, a fechei nas minhas costas e segui andando até a sala comum. Encontrando a minha família, o coven de bruxas mais antigas que eu conheço, só que dessa vez cada uma assumiu um papel diferente na sociedade, tentando ao máximo nos esconder.
Feitiços e encantamentos tinham sido feitos para que a nossa aparência física não fosse de acordo com a nossa idade, por exemplo, eu não pareço ter mais de 500 anos, mas a idade é só um número, estar presa no corpo de uma adolescente nesse exato momento talvez não fosse tão ruim quando eu estava achando.
Principalmente depois de ter conhecido ela.
Nova Orleans, 1959
• eu não aguento mais ter a mesma porra da mesma conversa com você!
• Agatha... - Rio usa sua voz macia.
• Nem começa
• Meu bem...
• Eu sei muito bem o que você está tentando fazer - Agatha tenta ser firme, mas eu já conheço seu ponto fraco.
Agatha percorria a casa que dividia comigo, e agora eu podia dizer de maneira orgulhosa que era minha mulher.
Digamos que nossa relação não era das mais bem vistas, mas eu não conseguia pensar em mais nada além dela.Desde que sobrevivemos a Salém juntas, desde o primeiro sorriso.
• você não acha que seria simplesmente maravilhoso?
• Rio - ela começa a vir em minha direção diminuindo a distância entre nós, passa as mãos em meus braços e acaricia minha pele exposta - eu não teria filhos com mais ninguém além de você, mas se já foi tanto problema estarmos juntas...
• Eu não me importo, eles não podem me matar! - ela revira os olhos pra mim, o que me faz sorrir toda vez - e ninguém ousaria tocar em você - afirmo pra ela com toda certeza do mundo enquanto aproximo ainda mais meu rosto do dela.
Vejo minha esposa amolecer e vou levemente tomando o controle da situação, envolvo sua cintura e seguro suas curvas espalmando a mão inteira, colando nossos corpos com os últimos centímetros que faltavam.
• me dá um filho - pedi pela terceira vez e essa foi a única que ela conferiu a lua, enchendo meu coração de esperança.
• A lua está cheia...
• Temporada da fertilidade para mulheres como nós - completei o pensamento.
• My love...
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Resquício de nós
FanfictionAgatha e Rio se conhecem há muito mais tempo do que a própria história pode contar, o relacionamento das duas sempre foi movido entre amor e ódio, mas o que será mais forte? O amor, o ódio ou rancor?