Liam

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3 - Liam

A sala de reunião foi fechada apenas para que eu atendesse a ligação do chairman. Vini se responsabilizou por tudo, impedindo a entrada de qualquer outra pessoa. Tanto suspense para conversar com a única pessoa com quem eu não trocaria uma palavra se não fosse obrigado.

James Godoy é o chairman da Purangy, meu padrasto e pai de Alex, nosso COO, que me odeia e deseja o meu lugar. Nossa história começa muito antes da empresa. James era o melhor amigo do meu pai, Henry. Eles estudaram juntos e, quando meu pai veio se aventurar no Brasil e se apaixonou por uma ideia, trouxe seu melhor amigo junto.

Os dois começaram a empreitada ao lado do meu avô paterno. Depois de algum tempo, meu pai se tornou presidente de uma empresa em ascensão. Só descobri mais tarde que James já havia se apaixonado pela minha mãe antes de meu pai se declarar a ela. Parece que meu pai "a roubou" dele. Não sei se isso foi o que o fez ir embora, mas ele se casou e teve um filho, Alex, alguns anos mais novo que eu.

Quando a Purangy se tornou grande demais para ser apenas uma empresa familiar, meu pai recorreu a James, que retornou como vice-presidente. Juntos, eles elevaram a empresa a um patamar até então nunca alcançado. O sucesso chegou fora do país antes mesmo de acontecer aqui. A Purangy se transformou em uma multinacional.

Com a morte do meu pai, os acionistas acharam melhor manter James como presidente até que eu provasse minha capacidade. Hoje, ele é o chairman (representante dos acionistas), enquanto eu comando a empresa como CEO. No entanto, James já anunciou sua aposentadoria e, claro, o conselho vai votar o próximo nome para a liderança da empresa. Isso não me preocupa, pois tenho certeza de que serei eu.

Arrumo a gravata e o lenço no bolso enquanto aguardo o início da reunião. Com uma precisão britânica, James aparece na tela exatamente no momento em que o ponteiro do meu Rolex encontra o topo.

— Bom dia. — Ele começa com seu inglês formal.

Faço um leve aceno de cabeça.

— Obrigado por dispor deste tempo para conversar conosco, Liam. — "Conosco?"

Limpo a garganta, lançando um olhar confuso para Vinicius, que continua ao meu lado, complacente. Então, sem aviso, minha mãe, Dona Teresa, aparece e senta ao lado de James.

— Mãe? — pergunto em português.

— Como vai, Liam? — Ela continua linda. James sempre a observa com devoção. Isso deveria me deixar mais tranquilo, mas, na verdade, me dói. Parece que se esqueceram do meu pai, como se tudo o que construímos não pertencesse a ele.

Engulo em seco.

— Estou bem. — Limito-me a uma resposta seca. Sei que essa reunião não será fácil.

— Imagino que tenha uma breve ideia do motivo desta conversa. — Minha mãe começa.

— Nenhuma. — Respondo de forma direta.

Sinto Vinicius respirar fundo, mas ele continua em silêncio. Claramente, ele sabe mais do que eu.

— Seu último momento de fama chegou até os acionistas. "CEO arrogante", Liam? Isso é sério? Como foi se meter num escândalo desses? Como se não bastasse denegrirem sua imagem, ainda associaram seu nome à Purangy.

— Vou cuidar disso. Aquela mulher não tem tanta influência assim. Nossos advogados já estão tratando do caso e, em uma semana, ninguém vai nem se lembrar.

— Você não se atualizou? — Minha mãe pergunta com o olhar estreito.

Desvio os olhos para Vinicius, que me entrega o tablet. Quando vejo a manchete, quase não acredito. Mais uma matéria sensacionalista e outra modelo dando uma entrevista bombástica sobre mim. Desta vez, sou "desprezível".

— Eu saí com essa mulher? — pergunto a Vinicius, que assente com a cabeça. — Nem lembro dela.

— Mas ela claramente lembra de você. Até fotos de vocês dois num iate, bem íntimos, foram divulgadas.

Passo o dedo pelas fotos e tenho uma vaga lembrança. Nada que eu considerasse ameaçador. A moça foi tão relevante quanto meu jantar de ontem, talvez até menos, porque me lembro exatamente do que comi.

— Vinicius, cuide disso.

— Claro, senhor.

— Vinicius não pode resolver tudo por você, Liam. — Sou repreendido pela minha mãe, como se eu tivesse dez anos. — Você precisa entender que o que faz fora da empresa reflete dentro dela.

James, numa tentativa de amenizar, intervém:

— Você é excelente no seu trabalho, Liam, isso não está em questão.

— Ser ótimo no que faz é obrigação dele, James. — Minha mãe continua, impaciente. — E ele sabe disso. O problema é que, no final do ano, Liam precisa ser mais do que bom no que faz. Tem que ser excepcional. Os acionistas estão preocupados, e com razão. Eles temem que o próximo a se pronunciar seja um funcionário. Imagine o impacto disso? Um CEO que não sabe lidar bem com seus funcionários. Seu pai era amado dentro e fora da Purangy.

Respiro fundo, tentando conter a irritação, mas acabo soltando uma risada amarga.

— Não ria de mim, Liam... — Minha mãe empina o nariz, irritada.

— Eu jamais mancharia a reputação do meu pai. Ninguém o amou mais do que eu. — Encaro os dois, com raiva. — Aliás, daqui, devo ter sido o único.

Minha mãe endurece o olhar, enquanto James desvia os olhos.

— Estou dizendo que suas atitudes fora da empresa afetam sua imagem e, por consequência, a Purangy. Não se iluda, Liam. Se quer continuar sentado nessa cadeira e manter o nome Miller à frente da empresa, comece a agir melhor dentro e fora dela.

— E o que você sugere? Que eu pare de viver? — Esbravejo.

— Não. Que viva direito. Encontre algo de valor para fazer quando não estiver trabalhando. — Suspiro, inconformado. — Meu aniversário está chegando, e vou fazer uma festa no Brasil, com pessoas importantes da empresa e do mercado. Será sua oportunidade de mostrar que esse rótulo que estão colocando em você não se aplica. Não me decepcione, Liam. Você pode achar que ser filho do Henry te dá passe livre, mas eu sou a acionista majoritária. Sem meu apoio, você não conseguirá nada.

— Está me ameaçando? — Me levanto, empurrando a cadeira com força.

— De jeito nenhum. Estou apenas te alertando sobre o que vai acontecer.

Minha mãe se levanta e sai antes que eu possa responder, como sempre, deixando a última palavra. Fico parado, encarando James, que parece desconfortável com tudo isso.

— Liam, sua mãe só quer o melhor para você. Ela se preocupa com sua imagem, com você. Ela não quer que a empresa acabe sendo mais importante que sua vida pessoal. — Ele tenta suavizar. — Só ajeite as coisas. Ache alguém que valha a pena, não fique com essas mulheres que só querem status. Prove que é confiável em todos os sentidos, e tudo isso vai desaparecer.

Era só o que faltava, mais uma coisa para eu provar.

O CEO Arrogante (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora