Capítulo 3

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A apreensão de escapar daquele lugar fazia Romero apertar o volante com força, o coração disparando a cada solavanco na estrada de terra arenosa. Ele acelerava, as rodas levantando nuvens de poeira enquanto o carro balançava, frequentemente desviando para o lado oposto.

Silva, ao seu lado, segurava o cinto de segurança com uma firmeza quase desesperada, o estômago revirando a cada curva, tornando mais difícil de controlar sua ânsia de vômito.

A expectativa de que algo pudesse dar errado pairava no ar, como um presságio.

A cada curva, uma paranoia absurda dominava a mente de Romero, como se algo estivesse entre as árvores de galhos secos e o mato alto, espreitando-os enquanto fugiam.

Uma memória há muito escondida na mente de Romero veio à tona, um trauma de infância que alimentava seu temor pela zona rural.

Em uma típica manhã de sábado, seu pai o levou, junto com seu irmão mais novo, para pescar no rio. A época de chuva havia transformado a paisagem, trazendo de volta o verde vibrante. A água, agitada e profunda, exibia uma coloração escura, tornando-se ainda mais perigosa para crianças. No entanto, o que realmente traumatizou o jovem Romero não foram as águas turbulentas, mas sim algo que ele nunca esperou encontrar ali.

Quando seu pai decidia pescar, sabia que isso significava muito mais do que apenas um dia de diversão.

Seu pai, um homem bom com os amigos, não era tão presente com a família, e usava aqueles finais de semana na tentativa de se aproximar dos filhos que frequentemente negligenciava, especificamente naqueles dias de pesca, onde as crianças ficavam à mercê da sorte naquele matagal ao redor do rio enquanto ele tomava algumas doses acompanhado com seus colegas de trabalho.

Naquele dia específico, enquanto brincavam distraídos com varetas, os risos logo foram substituídos por gritos de dor.

Haviam invadido o território de um animal, um predador, com escamas acinzentadas que lhe camuflava perfeitamente entre as pedras que os observava pacificamente entre as rochas e a grama alta: uma cobra cascavel, pequena, mas venenosa o suficiente para causar estragos em um corpo de criança de sete anos. A cobra mordeu seu irmão logo abaixo do joelho.

Haviam invadido o território de um predador: uma cobra cascavel, com escamas acinzentadas que a camuflavam perfeitamente entre as pedras e a grama alta, um animal jovem pelo tamanho, mas com um veneno mortal. Observando pacificamente, ela se tornou um símbolo do perigo oculto. Em um instante, a cobra mordeu seu irmão logo abaixo do joelho, e o coração de Romero disparou ao perceber o que havia acontecido.

Os gritos ecoaram nos ouvidos de Romero, cujo rosto apavorado se enchia de lágrimas. O desespero da situação parecia sufocá-lo, enquanto os berros do irmão se misturavam ao rugido do rio. Infelizmente, os gritos não foram altos o bastante para superar o barulho da água, mas foram suficientes para espantar a cobra, que desapareceu entre as rochas, deixando atrás de si um rastro de terror.

Enquanto seu irmão se contorcia de dor, Romero, apenas com onze anos, se viu perdido: deveria correr até o pai, gritar mais alto que os sons da natureza, ou permanecer segurando seu irmão em sofrimento?

Uma vermelhidão se alastrava rapidamente pela região onde a cobra cravara suas presas. O veneno era rápido, e não havia tempo para pensar.

Romero, uma criança gordinha e mais alta do que as demais para sua idade, não praticava esportes e tinha dificuldade com atividades físicas, nem ao menos sabia montar em uma bicicleta, visto que seu pai havia perdido a paciência em ensiná-lo.

Mas nada disso o impediu de pegar seu irmão nos braços e carregá-lo até a vista do pai.

Este, aparentava estar mais aborrecido do que preocupado com a cena de seu filho ferido.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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