Capítulo 1 - Cecilia

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— Querida, tem certeza que é uma boa ideia? – minha mãe perguntou, enxugando as mãos em seu avental verde.
Seu óculos estava quase pulando da ponta do seu nariz; talvez fosse a umidade do tempo que os fizeram escorregar assim.
— A senhora não acha uma ótima ideia? – sorrio, olhando para ela, tirando um pouco da minha atenção do creme de leite que estava mexendo com um fouet, cheia de vigor.
Incorporar os ingredientes de um bom gelato não é exatamente uma matemática fácil: incorpore muito ar e terá um sorvete, desequilibre a gordura e terá uma manteiga rançosa na boca; pese a mão no açúcar e terá um caramelo invertido.
— Não sei se um gelato de vinho é exatamente o que as grandes indústrias estão procurando – ela continua e se vira para mexer a panela de molho à bolonhesa.
— Quantas vezes você experimentou um gelato de vinho?
— Nenhuma – ela comentou, dando de ombros.
— Exatamente. Olhe só, eu adoro pistache. E chocolate, também. Mas será que um bom gelato se resume a apenas esses ingredientes?
Continuo mexendo meu creme de leite com delicadeza, e o volto para o freezer.
Uma máquina faria esse trabalho de uma maneira mais otimizada, claro. Mas naquele momento, eu não tinha recursos o suficiente para montar uma cozinha profissional de uma gelateria.
Então, transformei a cozinha da mamãe em meu laboratório particular.
Ela riu com minha fala, e se vira novamente.
— Seu pai ficaria orgulhoso de você – depois de dizer isso, ela suspirou pesadamente.
Sorrio de volta, com uma nostalgia gostosa dos últimos dias do papai em casa.
— Mas eu acho que um gelato de vinho é um pouco pretensioso demais - falo, olhando o rótulo da garrafa escura que comprei em uma vinícula próximo de casa.
— Se é pelo o que seu coração está queimando, vá em frente - mamãe comenta, ainda de olho na panela.
— Mas… - as palavras travam em minha garganta.
Olho para o relógio e deixo para lá, vendo que estou quase atrasada para meu turno.
— Depois continuamos essa conversa, eu realmente tenho que ir - murmuro, dando um beijo na bochecha da minha mãe e pegando uma maçã no centro da mesinha redonda do canto.
— Pense nisso, querida. Não se deixe intimidar pelas ideias de uma velha careta - ela fala, rindo, me fazendo revirar os olhos.
Da porta da entrada, solto um beijo para ela, que acena para mim, sorridente.

                                      *****

— Um gelato de vinho? - Melanie pergunta, curiosa, enquanto nós duas vestimos o avental.
— Também achou um exagero? - mordo os lábios, hesitante.
Talvez não seja mesmo uma boa ideia.
— Não acho que seja ruim - ela da de ombros e seguimos para o balcão, onde esperamos pelo próximo cliente. Giovanni, nosso colega, já está de saída e faz um aceno com a cabeça para nós duas. — Mas é… Diferente, eu acho.
— Do que você gosta, Mel? – pergunto, repondo o café na máquina, ao mesmo tempo que minha amiga repõe algumas sobremesas do expositor.
— Eu adoro gelato de morango.
— Viu? Isso é muito comum. Não vou me destacar se não pensar fora da caixa.
— Só não pense muito dentro da caixa de vinho - ela ri e reviro os olhos, divertida.

O Charme do Italiano (DISPONÍVEL ATÉ DIA 6/11)Onde histórias criam vida. Descubra agora