4 semanas depois...
— É exatamente isso! – falo em tom alto, em êxtase depois de ter desenvolvido a proporção perfeita do meu gelato de vinho.
A massa está no ponto que quero, elástica e sem grumos de leite talhado. O vinho está presente, mas de uma forma sutil; quase como se a experiência fosse semelhante a provar vinhos de uvas prematuras, com um sabor leve e sutil.
— Olhando assim parece... sei lá! Um sorvete de uva! – Melanie comenta, sentada na bancada da cozinha da minha mãe enquanto me ajuda com o gelato.
Afinal, o festival é amanhã, e hoje é minha data limite para finalizar o sabor que quero apresentar.
Toda ajuda é bem-vinda, até mesmo da minha amiga que não faz ideia de como fazer um gelato além de sua experiência apenas em me observar fazendo um.
— Sim, porque vinho é feito de uvas, não é mesmo? – brinco, trabalhando o gelato com a espátula de aço inox que ganhei do papai.
— E como um gelato vai realçar o sabor do vinho? Tecnicamente, o álcool deve ter evaporado todo nesse troço quando foi para o freezer.
— Essa é uma excelente colocação – comento, pegando um bowl que estava descansando na geladeira. — É exatamente por isso que aqui temos uma cobertura de vinho concentrado, feito com avelãs e castanhas. O que acha?
— Uau, Ceci – ela comenta e seus olhos se ilumina. — Agora acho que estamos falando a mesma língua – ela ri.
— Mantenha o foco, menina prodígio. Também não tem álcool nesse creme – rebato, divertida.
Não que minha amiga fosse uma alcoólatra, mas ela sabe aproveitar bem uma noite de bebedeiras.
–Ah, poxa... – ela murmura, desapontada, o que me faz rir com mais intensidade.
Trabalho mais um pouco do meu gelato e sirvo em um copo descartável de papel.
— Então, você vai querer provar ou não?
Adiciono o creme por cima e estendo para Melanie.
Ela dá a primeira colherada e pondera alguns minutos, olhando para cima como uma sommelier.
A pazinha de plástico ainda está em sua boca e ela parece fazer as contas mentalmente com a ajuda dos dedos.
— Então...? – Pergunto, encorajando-a a falar.
— Estou me perguntando quantos desse você teria que fazer até amanhã para conseguir servir todo mundo. Ceci, está perfeito!
Sorrio, aliviada.
Só falta a mamãe provar, depois que ela voltar da casa da Tia Francesca, que está com problemas na bexiga e está acamada.
— Não se preocupe, a base já está pronta. Só preciso incorporar o vinho e voilà – faço um gesto com as mãos e ela ri.
Melanie agarra uma das garrafas que está na bancada e analisa o rótulo.
— Nunca ouvi falar desse vinho – sibila, de testa franzida.
— É do vinhedo do Vincenzo. Parece que a plantação dele está de vento em polpa – comento, pesando alguns ingredientes.
— Vincenzo, ahn? – ela comenta, rindo de uma forma travessa para mim.
— O que foi?
— O mesmo Vincenzo que tem uma queda por você desde o colegial?
— Ah, não me venha com uma dessas agora, Mel – comento, entediada. — Você sabe que naquela época só tínhamos 16 anos.
— É e agora temos 25, qual o problema?
— O problema é que somos todos crescidos e sem tempo para paixonites antigas.
— Diga por si só – ela comenta e pula da bancada — E então, o que eu faço para ajudar?
********
No outro dia, levanto às 5:45 da manhã e minha mãe já está fazendo nosso café. Depois de provar minha invenção, ela ficou mais animada ainda e disse que tenho um grande potencial de atrair bons investidores.
Chegamos no festival por volta das 7:40 da manhã, depois que os pais da Melanie nos deram uma carona para levarmos nosso freezer improvisado com os isopores e os gelos.
Melanie estaria ao meu lado em qualquer situação que eu precisasse, independentemente de quais seriam as consequências. Até mesmo se isso envolvesse acordar bem cedo para oferecer gelatos de graça em uma feira local.
Tommazo me concedeu um dia de folga para o evento, e ainda permitiu que Melanie me acompanhasse. Minha amiga jurou de pé junto que essa folga era fruto do interesse do nosso chefe em mim, mas só acho que ela está exagerando.
Não acredito que os homens estejam todos perdendo tempo assim se interessando em uma garota como eu, que não está nem um pouco disposta em ter um relacionamento.
— Ceci, como você quer que a gente organize a barraca? – Melanie pergunta, me ajudando a descarregar as coisas.
— Pode colocar os copos e casquinhas na banca da esquerda. O gelato vai ficar na bancada inferior, dentro da barraca – respondo, e logo uma voz familiar soa ao fundo.
–Cecilia? – Olho para o som e vejo Vincenzo vindo até onde estamos. – O que está fazendo aqui?
— Vincenzo? – franzo o cenho. Achei que a vinícola dele fosse mais conhecida. — Por que você está em uma feira de produtos artesanais?
— Meu vinho não tem qualidade para isso? – ele brinca e cumprimenta minha mãe. — Bom dia senhora Elena. Bom dia, Melanie.
As duas acenam e começam a rir baixinho, cochichando uma com a outra.
Reviro os olhos.
— É por isso mesmo que fiquei surpresa – começo, ajeitando minha bancada. — Seus vinhos já não são conhecidos aqui na Florença?
— Nenhum negócio está em um patamar tão bom que não possa melhorar – ele sorri e pisca para mim. — Se algum investidor quiser me ajudar a expandir o negócio para toda a Itália, por que não?
— Você tem razão – concordo com a cabeça, compenetrada em minha barraca.
— E você?
Trabalho um pouco do meu gelato e pego um pouco com uma pazinha para ele.
Vincenzo me fita, curioso, mas não faz nenhuma pergunta. Apenas assiste o que estou fazendo.
— Gelato de vinho – anúncio, e estendo para ele provar.
Assim que coloca na boca, ele sorri, incrédulo.
— Como?
— Muito e muito estudo – rio levemente.
— Está incrível, Cecilia. Não sabia que você produzia gelatos artesanais.
— Produzo por hobby há 8 anos – dou de ombro e vejo as pessoas começarem a encher a feira. — Mas acho que agora quero levar a outro patamar, sabe?
— Sei... – ele me olha bem fundo nos olhos, alargando o sorriso.
Desvio o olhar, constrangida e o vejo olhando o relógio
— Bom... Eu preciso ir agora. Minha barraca está próxima ao palco principal. Se quiser, pode dar uma passadinha lá depois.
–Claro – sorrio e Vincenzo se afasta.
Minha mãe e Melanie estão sorrindo no canto, ainda aos cochichos.
— Querem parar? – protesto, vendo o mar de gente crescer cada vez mais, como se estivesse em ressaca.
— Não dissemos nada – Melanie diz, sorrindo e se aproxima. — Pronta?
Suspiro e sorrio para ela e para minha mãe.
—Pronta!
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O Charme do Italiano (DISPONÍVEL ATÉ DIA 6/11)
Cerita PendekDante é o típico sedutor italiano, famoso por seu charme irresistível e as aventuras amorosas que coleciona nas noites agitadas de Florença. Com um sorriso perigoso e o título de "rei da balada", ele nunca levou nada - ou ninguém - a sério. Cecilia...