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Carter

— Pelo visto a noite foi animada! — Minha mãe fala rindo ao me ver nesse estado.

 Eu estava jogado no gramado de casa quando os sprinklers dispararam, me despertando com água fria no rosto. A última coisa que lembro é de estar com uma loira, depois discutindo com Ana, e enchendo a cara até apagar.

 Entrei cambaleando para tomar um banho e tentar me recompor para a aula. Tomei café, dei um beijo rápido em minha mãe e saí. Como sempre, passei na casa de Ana para irmos juntos – a gente sempre ia de bicicleta, era mais rápido, e ela adorava pedalar.

 Mas, ao virar a esquina da casa dela, meu coração disparou. Duas viaturas da polícia estavam paradas ali, e o pai de Ana chorava, desolado. Um policial segurava a bicicleta dela, completamente amassada. Senti um aperto de desespero e acelerei, pulando da minha própria bicicleta em movimento. Algo em mim já sabia, mas eu me recusava a acreditar.

— Sr. Baged? O que houve? — Perguntei atônito.

— Vai para aula jovem, isso é assunto oficial! — Disse o policial com um bigode estúpido.

— Assunto oficial o caralho, cadê a Ana, Sr. Baged? — Ele me encara quando pergunto e chora ainda mais.

— Ela tá morta. — Responde com a voz embargada.

Após ele dizer isso meus olhos vão em direção a bicicleta toda suja, aquilo era sangue? Meu Deus isso não podia estar acontecendo.

— Para com isso, não é possível, como? Quando? — Eu disse com lágrimas nos olhos.

— Ontem de madrugada, ela estava na estrada, dentro do bosque, alguém a atropelou e não pediu socorro, Ana acabou falecendo no local.

 Senti o chão desaparecer sob meus pés, e meu corpo mergulhar em um abismo sem fim. Ana era minha melhor amiga desde sempre, uma parte de mim que agora foi arrancada sem aviso. Como algo assim pôde acontecer com a minha Ana? Eu a amava com uma intensidade que nunca tive coragem de confessar, nem mesmo a ela. Nunca pude dizer o quanto ela significava para mim, o quanto a queria ao meu lado. Ela nunca deu sinais, nunca fez menção de um "nós", e o medo da rejeição me paralisou. Agora, tudo o que resta é esse vazio – e a certeza cruel de que jamais terei outra chance.

Agora é tarde demais...

 Meu corpo estava travado, não conseguia me mover e estava difícil até para respirar, fui em direção ao Sr. Baged, nos abraçamos e choramos juntos.

— Não me deixe Ana, minha única filha, meu Deus que dor, me leve com ela meu Deus eu imploro. — Ele gritava como se fosse uma oração.

— Calma senhor Baged, estou com você, não vou te deixar sozinho.

— Will, você precisa reconhecer o corpo! — O policial baixinho diz.

— Eu sei. — Sr. Baged diz com a voz embargada. — Vá para escola Carter, ou para casa.

— Não, eu vou com você. Eu a amava, por favor me deixei me despedir.

— Tudo bem.

 Fomos acompanhados dos policiais até o necrotério, eu ia entrar mas não consegui, não posso aceitar isso, ela estava bem ontem, por que eu não deixei ela em casa? Eu chorava encostado na parede, meu choro era baixo e cheio de dor, ela me deixou e não sei como viverei com isso, como posso sequer pensar nisso, é tarde demais para qualquer coisa.

 Enquanto esperava o Sr. Baged, folheava as nossas últimas conversas no celular, preso naquela tela como se, de algum modo, pudesse trazê-la de volta. A última mensagem de Ana dizia o quanto estava ansiosa para me ver na festa... a festa que tirou sua vida. Aquela maldita festa. Se eu tivesse tido coragem de falar sobre o que sentia, talvez tudo fosse diferente agora. Eu me odeio por ter deixado ela ir sozinha. Eu me odeio por não ter corrido até ela, por não ter dito o que estava no meu peito. Ela partiu sem nunca saber, e agora, isso é tudo o que me resta.

Quem Matou Ana Baged?Onde histórias criam vida. Descubra agora