LEGACY | kth + jjk

Capítulo 3: Único ser ao qual a morte não tem hora ou dia para visitá-lo.

"Um guerreiro não tenta parecer; ele é."

Paulo Coelho.

Imortal. Taehyung detestava como sua existência inteira, tudo o que ele foi e era, se reduziu de repente a uma única palavra.

Já fazia alguns anos desde que Taehyung fora amaldiçoado durante uma missão e, apesar do tempo que passou desde aquele acidente, ele não conseguiu se adaptar à sua maldição. Kim Taehyung se sentia completamente desconfortável que, diferente do passado, não precisava se preocupar com os riscos de morte enquanto trabalhava. Embora isso representasse uma vantagem clara contra seus inimigos, na sociedade à qual Taehyung pertencia, seu lado sobrenatural era temido tanto quanto os seres que ele capturava, e isso o atormentava dia e noite.

A habitual ansiedade ao se arriscar para salvar um refém ou até mesmo o temor da morte; todas essas sensações de risco, perigo e cautela haviam desaparecido ao longo desses anos. Mesmo que Taehyung as tivesse durante a maior parte de sua vida antes da maldição, ele já não conseguia se lembrar como eram ou como o faziam sentir-se.

Há quatro anos, quando Kim Taehyung entrou no Legado após um treinamento de excelência, ele mal podia imaginar os eventos que se desdobrariam antes mesmo de completar seu primeiro ano de trabalho na instituição. Diferentemente dos novos-jovens que vieram depois, Taehyung não foi preparado para o tipo de missão que transformou sua vida em um caos.

No entanto, após trabalhar anos naquele lugar, o general estava certo de que Osíris, temendo possuir um sobrenatural tão bem treinado quanto ele, jamais permitiria que aquele mesmo erro ocorresse novamente.

Esses pensamentos sempre tiveram espaço em sua mente, e no dia em que Taehyung levantou pronto para encontrar seu antigo treinador, Lee Kijoon, não foi diferente. Sua casa era a única de todo aquele lugar que foi construída exatamente na divisa dos dois únicos bairros de osíris, onde era possível ver que a balança do deus Osíris, como as demais existentes em todo mundo, não era igualitária, já que Taehyung conseguia observar que ela pesava notoriamente apenas para um lado.

E olhando bem atentamente de sua sacada, era possível notar qual parte da cidade não tinha medos e/ou preocupações com o simples fato de existir naquele lugar.

Taehyung se apoiou no batente, olhando bem o lado da cidade onde as coisas eram excessivamente brancas, os prédios, os uniformes dos que trabalhavam nas funções de uso público e as ruas, que pareciam sempre alegres por conta das árvores artificiais de cerejeiras projetadas em cada esquina da área monocromática. Taehyung soltou uma única risada ácida assim que virou um pouco o rosto para analisar o outro lado da cidade, onde os sobrenaturais foram devidamente alojados. O lugar onde as ruas tinham uma iluminação tão fraca que pareciam possuir apenas a escuridão, os bancos feitos de sucata pela rua, tinham pichações que sempre inquietaram o lado mais revolto e rebelde do general.

"Não somos humanos, mas somos alguém."

Ou até mesmo algo que demonstrasse a insatisfação daqueles que viviam nas sombras, apagados: "Deveria ser crime não viver e apenas existir".

Taehyung realmente tentou, por muitas vezes, entender como a grande maioria acreditava na harmonia entre os dois mundos quando todos ainda continuavam sendo classificados, catalogados e manejados como diferentes dentro daquele sistema idiota criado por Osíris.

— Fica ainda mais difícil saber se estou fazendo o certo vendo o quão nítido é a desigualdade nessa merda de estrutura — Taehyung deu às costas para a paisagem, caminhando até a sua cozinha, parando no meio do caminho apenas para acionar seu companheiro, Usuris — Bom dia, Usuris.