LEGACY

Capítulo 4: Vermelho; ira.

 "Às vezes, você tem que sangrar para saber que você está vivo e tem uma alma."

Twenty one pilots.

Após o circuito, Jungkook arrastou-se de volta ao vestiário, cada passo pesado como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Ele parou diante do espelho e ficou ali, imóvel, encarando seu próprio reflexo com olhos vazios e perdidos. Os minutos se arrastavam, mas ele mal percebeu o tempo passar. Finalmente, com as mãos trêmulas, alcançou os lenços umedecidos e começou a limpar o sangue falso que manchava sua pele. Cada movimento parecia arrancar um pedaço de sua alma. Foi nesse momento, enquanto lutava para se livrar das roupas e do colete sufocante, que uma lágrima solitária rolou por seu rosto, queimando como ácido. A ironia daquilo quase o fez rir, mas o som morreu em sua garganta, sufocado pela dor que ele mal conseguia compreender.

Como ela podia fazer tanta falta assim? A ausência de Nami era um buraco negro que sugava toda a sua alegria, deixando apenas um vazio insuportável. Era como se a vida tivesse perdido o real sentido, como se cada momento sem ela depois que se conheceram fosse uma tortura lenta e cruel. Nami Aikyo, que havia perdido tantos momentos importantes do seu crescimento, ainda assim conseguiu exercer um poder avassalador sobre ele. O amor e a dor se misturavam em seu coração, alimentando uma fúria tão incontrolável que Jungkook se sentia na obrigação de vingá-la, não apenas por ela, mas por tudo o que haviam sido impedidos de viver juntos. A oportunidade que teriam de se conhecer ainda mais profundamente se sua vida não fosse interrompida, faziam com que a determinação de fazer justiça queimasse em seu peito, impulsionando-o a lutar com todas as suas forças, até seu último suspiro, para descobrir toda a verdade sobre sua morte.

Jungkook sempre afirmou categoricamente que não conhecia o amor no mundo em que vivia. Mas, de alguma forma inexplicável, ela surgiu em sua vida, apresentando-lhe uma relação tão profunda e verdadeira que era quase impossível de manter seu antigo pensamento. A conexão que eles compartilharam transcendia qualquer coisa que ele já havia experimentado, tão intensa que parecia insano guardá-la apenas em sua memória.

Jeon Jungkook vestiu suas roupas lentamente, cada movimento carregado pelo peso do que havia acontecido dentro daquele circuito. Ele finalmente limpou a maior parte do sangue que manchava seu corpo, embora o cheiro metálico, muito realista, ainda parecesse grudar em sua pele. Saindo do vestiário, ele quase colidiu com Taehyung, que estava descendo o último degrau da escada. O impacto fez com que ambos parassem, finalmente cara a cara. Taehyung, ao olhar para Jungkook, percebeu instantaneamente que algo havia mudado. A aura de Jungkook estava completamente diferente, sombria e ainda mais intensa do que na noite anterior. O garoto que ele observou na boate parecia ter desaparecido. Os olhos de Jungkook, antes apenas inquietos, agora estavam ferozes, brilhando com uma intensidade que quase o devorava vivo, mas ainda assim Kim Taehyung se aproximou com um sorriso confiante, mesmo depois de todos os pensamentos que teve no segundo em que seus olhos se encontram ele abriu um sorriso que exalava uma mistura de astúcia e charme. Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado e disse:

— Então, me diz, — começou Taehyung, a voz rouca e carregada de um sotaque britânico que contrastava completamente com sua aparência jovem. Ele olhou fundo nos olhos do rapaz, notando o leve rubor da vermelhidão, talvez resultado de um choro recente, e continuou com um sorriso atrevido: — Você sempre mantém esse olhar de ira, ou isso só acontece quando me vê? Devo admitir, quanto mais perigoso você parece, mais atraente fica aos meus olhos.

Aquilo não era tão verdade assim, já que Taehyung sabia o tipo que Jungkook era, exatamente o tipo que ele deveria com todas as suas forças, evitar. Mas Kim também gostava de certos jogos para conhecer as pessoas com que lidava, e com ele não seria diferente.