LEGACY

Capítulo 5: Interface do Silêncio.

"Os sentimentos não devem ser lógicos. Perigoso é o homem que racionaliza suas emoções."

David Borenstein.

Jungkook chegou ao bloco familiar exausto, cada músculo de seu corpo latejando após o esforço que havia imposto a si mesmo. Desceu da bicicleta com dificuldade, e a caminhada até a porta de casa foi uma tortura silenciosa, seus músculos protestando a cada passo. Ao alcançar o painel, sentiu as articulações rangerem como engrenagens antigas e enferrujadas. Mas ele não se permitiu hesitar – seus dedos finalmente tocaram o teclado, digitando a senha com um último esforço, como se aquilo fosse o fim de uma longa batalha.

Assim que a porta deslizou para o lado, Aikyo foi recebido com aplausos e uma saudação formal de seus responsáveis. Ele sustentou o olhar por um momento e, com um gesto de respeito, curvou-se ligeiramente, mantendo a cabeça baixa por alguns segundos. Quando se ergueu novamente, murmurou um simples "boa noite" e caminhou em direção ao seu quarto, sem mais uma palavra.

Deixou para trás uma Somin visivelmente frustrada e seu pai em tentativas de apaziguá-la. Ele sabia que, naquele estado, qualquer interação prolongada poderia acabar explodindo em algo que ele simplesmente não tinha forças para enfrentar, não naquele momento.

— Você não acha que ele está passando dos limites com essa rebeldia sem fim, Siho? — Somin disparou, deixando que uma de suas maiores frustrações também recaísse sobre o companheiro.

— Paciência, querida. Estamos aqui para que Jungkook tenha um lugar para voltar, sempre que algo der errado. Somos seus pais e temos que agir como tal. Só repreendê-lo não vai, de repente, fazê-lo se abrir com você — Siho respondeu, sua voz firme e serena, como sempre ao abordar qualquer assunto delicado com a esposa. — E talvez ele só precise de um tempo longe de nós, longe de toda essa cobrança para se tornar alguém útil dentro da nossa sociedade.

— Eu entendo tudo isso, Siho, e respeito — Somin levou uma das mãos ao rosto do marido, forçando-o a encará-la nos olhos. — Mas não posso mudar as regras da nossa comunidade, e você sabe que, se fosse só a pressão do Legado, ele não estaria me tratando como uma completa desconhecida.

— Mas, Somin, você realmente conhece nosso filho? — As palavras escaparam da boca de Siho antes que ele pudesse contê-las, e ele se amaldiçoou ao ver a expressão de "detetive" dominar o rosto da esposa.

— O que está insinuando? — A resposta veio entre dentes, o incômodo evidente.

— Não estou insinuando nada, Jeon Somin. Só que seu trabalho nunca permitiu que você cuidasse de Jungkook de forma tão próxima quanto pensa. Aos sete anos, ele escolheu treinar para o Legado, achando que, se fosse como você, se fosse o heroi que você parecia ser aos olhos dele, finalmente seria visto. E, ainda assim, você nunca o ensinou a manejar uma arma, enquanto treinava os filhos de seus superiores sem pestanejar. — Siho deixou escapar anos de palavras contidas, respirando fundo antes de concluir. — Pergunto isso porque realmente não entendo por que você se sente tão magoada agora, quando, lá atrás, já não estava sendo a mãe que quer que ele respeite hoje.

— Então a culpa é minha? — Somin respirou fundo, jogando a franja ruiva para trás numa tentativa falha de manter a calma. — Você sabe muito bem que, sem a minha dedicação, estaríamos em Ezra, vivendo entre aquelas... coisas. A vida dele teria valido mais por uma mãe presente, para você?

— Não se trata de culpa, mas de responsabilidade. Você estava disposta a tudo por aquelas crianças. Dava-lhes treinos todo final de semana, sem ao menos explicar que eram os únicos dias em que poderia estar mais tempo com seu filho. — Siho afastou-se para a janela, observando o conjunto de casas como desculpa para evitar o olhar penetrante de Somin. — Não acho justo cobrar dele um vínculo que não criou, só porque ele agora quer manter vivo esse vínculo que teve no pouco tempo com ela.