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Astrid Louis Ravenscar.

Enquanto caminho pela floresta, com as mãos segurando a barra do meu vestido delicado, uma inquietação se apodera de mim. A biblioteca… preciso desesperadamente encontrar uma biblioteca, mas o problema é que não sei onde ela se esconde. Sinto os galhos e pedras sob minhas sandálias, cada passo ecoando na penumbra do bosque. Porém, hoje, prefiro ignorar as pequenas dores e desconfortos; o medo que me envolve é maior.

A escuridão parece viva ao meu redor, e as sombras das árvores dançam ameaçadoramente sob a luz da lua. Engulo em seco, ciente de que minha presença aqui é um convite ao perigo. A ideia de um assassino à solta, espreitando nas sombras da floresta como uma besta faminta, aperta meu estômago em um nó apertado. Mas não posso me deixar abater por esses pensamentos sombrios; a necessidade de encontrar aquele livro é mais forte.

Meus olhos percorrem o ambiente, bombardeados por vozes internas que sussurram: "Corra! Fuja! Não avance!" Mas recuo não; a urgência em descobrir e confrontar essa ameaça me impulsiona adiante. O desejo de entregar o assassino às autoridades, mesmo sabendo que muitos parecem ter suas suspeitas encobertas pela poeira do silêncio, consome minha mente.

Após o que parece uma eternidade vagando entre as árvores retorcidas, algo se destaca na escuridão à frente. Uma porta antiga surge como uma miragem em meio ao caos do bosque. Ao abri-la, sou recebida por um choque de deslumbramento: diante de mim ergue-se um castelo majestoso, tão magnífico que poderia ter saído das páginas de um conto encantado. Meus olhos brilham com a possibilidade de encontrar uma biblioteca ali dentro — um santuário de conhecimento e mistério.

Entretanto, a consciência da presença de guardas me faz hesitar. Não posso entrar assim, desprotegida e vulnerável, em um lugar tão grandioso e cheio de segredos. O coração acelera em meu peito enquanto pondero sobre os riscos.

Volto-me, um frio na espinha me alertando de que algo, ou alguém, me observa das sombras da floresta. Um arrepio percorre minha nuca, como se dedos invisíveis me tocassem. O coração acelera, e recuo instintivamente, apressando o passo entre as árvores imponentes que se erguem ao meu redor. O som dos galhos secos se quebrando sob meus pés ecoa na quietude pesada do entardecer.

Cada passo é uma luta contra a sensação opressora que me envolve. A escuridão parece se fechar sobre mim, e eu sigo em frente, determinada a escapar daquele olhar penetrante. Com o coração pulsando como um tambor em minha mente, finalmente avisto a silhueta da minha casa entre as sombras.

Engulo em seco, a expectativa misturada com um medo inexplicável. Aproximo-me dos portões imponentes do local que sempre foi meu refúgio e prisão. Com um esforço considerável, empurro as pesadas portas de ferro forjado, que rangem como se protestassem contra minha entrada. Ao cruzar o limiar, fecho-as atrás de mim com um estalo silencioso, como um sussurro que ecoa na penumbra.

A casa permanece envolta em um silêncio quase sagrado, tão profundo quanto no momento em que deixei este lugar. É como se o ar estivesse carregado de segredos não ditos e promessas esquecidas. Sinto a presença da escuridão me envolvendo novamente, mas agora estou dentro, protegida pelas paredes frias e familiares.

Talvez não estivesse tão protegida quanto imaginara, pois dentro dessas paredes conhecidas, o peso do desprezo das três mulheres que habitavam aquele lar se tornava palpável. Senti-me como uma intrusa em minha própria casa. Ao me sentar na cama, a maciez do colchão não conseguia abafar o turbilhão de emoções que me consumia. Fechei os olhos com um movimento apressado ao ouvir os ecos de passos ressoando pelo corredor.

— Escutaram o barulho do portão? — a voz de Stacy cortou o silêncio como uma lâmina afiada, e uma onda de medo me envolveu, secando minha boca e fazendo meu coração acelerar com a possibilidade de ser descoberta. Mesmo sabendo que minha presença ainda não tinha sido notada, a ansiedade se instalava como uma sombra persistente.

— Sim, escutei — respondeu Mackenzie, sua entonação revelando um misto de curiosidade e desdém.

— Calem a boca! Vamos ver o que há! — Isadora interveio, sua voz implacável ecoando através das paredes como um aviso sombrio. As vozes delas começaram a se afastar, mas não me dei ao luxo de esperar que se aproximassem do meu quarto. O medo da descoberta era um monstro voraz que ameaçava devorar qualquer vestígio de paz que eu ainda pudesse ter.

Com um impulso desesperado, fechei os olhos novamente, buscando refúgio na escuridão que se aproximava. O sono logo me envolveu como um manto pesado, mas não trouxe alívio; ao contrário, ele me transportou para os reinos tenebrosos dos pesadelos. Neles, as sombras dançavam ao meu redor, sussurrando segredos obscuros enquanto eu lutava para encontrar a luz em meio à escuridão opressiva que ameaçava consumir tudo.

Ao abrir meus olhos, a luz do dia penetrava através das cortinas esfarrapadas, revelando um novo amanhecer que não trazia consolo algum. Meu rosto estava molhado, não pela umidade do ambiente, mas pelas lágrimas que escorriam em silêncio durante a noite, resultado de pesadelos que vinham com uma ferocidade quase palpável. Eram visões tão vívidas e aterradoras que me faziam querer gritar, clamar por socorro, mas a única companhia que eu tinha era a sombra da minha própria solidão.

Levantei-me da cama, sentindo o frio do chão contra os meus pés descalços enquanto calçava novamente as sandálias desgastadas. Escolhi um vestido branco, tão desbotado quanto a esperança que restava em meu coração. Era uma peça simples e maltratada, como eu mesma, mas era tudo o que possuía. Saí do quarto, dirigindo-me ao pequeno banheiro no corredor — um espaço que me fora concedido como um mero favor.

Fechei a porta atrás de mim com um suspiro profundo, buscando um momento de privacidade em meio à opressão do dia a dia. Despojei-me do vestido da noite anterior e escovei os dentes com uma precisão mecânica, quase sem pensar. Após atender às minhas necessidades básicas, entrei sob o chuveiro. A água fria deslizava pela minha pele, despertando cada nervo adormecido; não me permiti o luxo de cuidar dos meus cabelos longos e desgrenhados — Isadora sempre desaprovava qualquer tentativa de beleza que eu ousasse fazer.

Por fim, vesti o vestido branco novamente e saí do banheiro com um peso no peito. Sabia que deveria preparar o café para Isadora e suas acompanhantes antes que sua irritação se transformasse em raiva. O dia prometia mais um ciclo de servidão e desprezo.

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THE LAST ONEOnde histórias criam vida. Descubra agora