Helena:
Já me perdi na quantidade de copos que virei. Só sei que estava animada, dançando muito e até já tinha feito amizade com umas garotas daqui.
Dois garotos chegaram pedindo para ficar comigo, mas até agora eu estava tranquila. Estava observando mesmo era um gatinho que tinha chegado há alguns minutos.
Ele era diferente dos garotos que frequentam aqui. Diferente e bonito. Mas, pelo que percebi, ele está mais na dele e parece estar esperando alguém, já que vive olhando para os lados e permanece sério.
Natan: fazia tempo que eu não te via por aqui - desviei minha atenção do gatinho diferente e olhei para ele - estava até estranhando, mas daí vi no teu Instagram que você estava namorando.
Só foi ele falar isso que senti meu ânimo indo embora. Caraca, parece que tiraram a noite para falarem disso. É sempre: "cadê seu namorado?", "vi que você estava namorando", "terminou o relacionamento?".
Dá vontade de gritar e sair andando daqui. Mas eu só dou um sorriso de lado e falo: "não estamos mais juntos", mesmo que por dentro eu esteja querendo chorar a cada pergunta que fazem sobre nós dois. Quer dizer, nem existe mais o "nós".
Helena: não estou mais - sorri de lado e virei o resto da bebida que ainda tinha no copo - nossa, essa é boa, hein.
Falei em relação à música e puxei uma das meninas para a gente começar a dançar, até que a Dani falou que queria ir ao banheiro e fui acompanhá-la. Aqui estava lotadíssimo de gente, então até a gente chegar ao banheiro foi um pouco complicado, fora que, quando chegamos lá, tinha uma fila também.
Tirei meu celular da bolsa e fui ver se tinha alguma mensagem, mas as que tinham eram só de grupos ou mensagens bestas. Olhei o WhatsApp da minha mãe e ela estava online há 15 minutos. Dei risada comigo mesma, porque quando eu saí de casa ela nem viu e, mesmo assim, ela nem se preocupou em mandar mensagem, e olhe que eu já estou fora de casa há horas.
Não sei por que ainda me surpreendo com isso. Ela nunca se importou mesmo. Estava guardando meu celular de novo e senti um tombo no meu ombro. Virei séria para ver quem era e vi um gatinho diferente.
Helena: Desculpa - pedi educadamente, e ele me encarou sério.
Xxx: Olha por onde anda, caralho - falou de forma ignorante, e eu cruzei meus braços - tá cega?
Helena: Você que tombou em mim e eu que estou cega? Se poupe e me poupe - falei no mesmo tom que ele e senti a Dani segurar meu braço - ainda fui educada em pedir desculpa por você ter tombado em mim - dei ênfase em "você".
Dani: Já tá chegando nossa vez, bora - me puxou pelo braço e eu concordei.
Xxx: Tá achando que tá falando com quem, caralho? - Dei uma última encarada nele e dei as costas, entrando no banheiro junto da Dani.
Dani: Tá maluca? - Me encarou. - Tu nem sabe quem é o cara.
Helena: Por isso mesmo, né? - Cruzei os braços. - E nem ele sabe quem eu sou. Garoto arrogante. E eu, de boba, ainda fui pedir desculpas. Se eu pudesse voltar atrás, eu tinha era empurrado ele também.
Ela negou, ainda me encarando, e entrou na cabine do banheiro. Segurei a porta para ela e respirei fundo. O que o cara tem de bonito, tem de arrogante. Precisava falar daquele jeito? Ainda mais sendo que foi ele que tombou em mim.
Dani: Ele não parece ser os caras com quem estamos acostumadas - falou, saindo do banheiro, e me afastei para ela passar. - Viu o jeito dele? O porte, o estilo - me olhou através do espelho enquanto lavava as mãos. - Nada a ver com os garotos que frequentam aqui. Os daqui são tudo playboys.
Helena: Não me importo, não. - entreguei minha bolsa a ela. - Eu até tentei ser educada, pedi desculpas por uma coisa que nem fui eu que fiz, e ele ainda vem na ignorância? Não vou baixar a cabeça, não, Dani.
Dani: Eu te entendo. - Me olhou. - Mas deixa quieto. Pelo menos não aconteceu nada de mais.
Concordei e entrei na cabine para fazer xixi também. Terminei e saí, indo lavar minha mão. Peguei o papel toalha e enxuguei, jogando no lixo em seguida.
Dani: Daqui a pouco eu vou embora. - Me entregou minha bolsa.
Helena: Mas já? - Fomos saindo do banheiro e ela concordou. - Não queria ficar sozinha com as outras meninas.
Dani: Daqui a pouco vai dar três da manhã e o meu pai disse para eu chegar às três em ponto, nem mais e nem menos.
Olhei a hora, vendo que ainda faltavam uns 40 minutos para as três.
Helena: Ficamos mais meia hora e depois vamos embora.
Dani: Você indo embora cedo? - dei risada - as coisas estão mudadas mesmo.
Helena: Eu já estou me sentindo um pouco tonta e, como vim de Uber, não vou exagerar muito. - Ela concordou e pegou na minha mão para não nos perdemos até chegar ao pessoal.
Assim que chegamos onde estávamos antes, pedi mais uma bebida, só que dessa vez um pouco mais fraca, e a Dani me puxou para dançar junto com a Anny.
Ficamos alguns minutos ali, até a Dani falar que já estava indo embora, e eu falei que iria também. Nos despedimos do pessoal e fomos entrando no meio das pessoas até chegar à saída.
Respirei fundo quando senti o ar geladinho da madrugada e peguei meu celular.
Dani: Vai ligar para a sua mãe? - sorri de lado e neguei.
As pessoas acham que eu tenho uma linda relação com a minha mãe. Mal sabem elas que nem relação temos. É como se fôssemos duas estranhas morando na mesma casa, e ela faz de tudo para me deixar longe de casa, mandando eu viajar para algum lugar ou ela mesma sai e não dá notícias, só aparece semanas ou meses depois.
Helena: Vou tentar chamar o Uber - olhei para ela e ela negou - o que foi? - falei, entrando no aplicativo.
Dani: Meu irmão está vindo me buscar e eu peço para ele te levar em casa. É meio perigoso ir para casa de Uber a essa hora, ainda mais que você bebeu.
Helena: Não vai atrapalhar seu percurso? - ela negou - então eu aceito.
Ela deu risada e pegou o celular, falando que o irmão dela já estava entrando na rua daqui da balada.
Nos afastamos um pouco e fomos para perto da pista, olhamos para a rua para ver se ele já estava vindo e foi quando escutamos um grito de socorro. Era a voz de um homem.
Dani: Você escutou isso? - perguntou, me olhando assustada, e eu concordei, sentindo meu coração acelerar.
Xxx: Eu vou pagar... eu vou pagar. Só preciso de mais uns dias - falou alto. - Eu prometo, Gavião. Diz pro seu chefe que eu vou... - antes de escutarmos ele finalizar a fala, ouvimos o barulho de dois disparos.
Pulamos assustadas e olhamos na direção de onde veio. Foi quando eu vi o mesmo cara de lá de dentro saindo do beco. O mesmo cara que foi ignorante comigo.
Escutei o carro frear ao nosso lado, e a Dani me puxou para entrarmos. Mas eu estava em choque. Alguém acabou de morrer. O cara que eu chamei de gatinho acabou de matar alguém.
Dani: Vem, Helena - me puxou com tudo para entrarmos no carro e encarei o tal Gavião, que na mesma hora me encarou também, mas antes que eu pudesse ver a reação dele, a Dani me empurrou para dentro do carro e entrou, batendo a porta. - Acelera, Gabriel.
Helena: Tem um cara morto naquele beco - sussurrei assustada.
Gabriel: Temos é que torcer para aquele cara não ter decorado a placa do carro e vir atrás da gente - engoli em seco e fechei os olhos.
Tem um corpo morto naquele beco. Um cara foi morto. Meu Deus.
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Lágrimas de ilusão.
FanfictionNunca espere demais da sorte ou dos outros; no fim, não há quem não decepcione você.