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É tudo mental,
o coração só bombeia sangue .

Helena:

Gávea- Rj

Eu me sentia mal. Muito mal. Sentia-me insuficiente e não conseguia entender o porquê de ninguém nunca ficar. O porquê de ninguém nunca permanecer.

O que há de errado comigo? Por que ninguém nunca fica? Sério, eu só queria entender isso. Só queria compreender o que há de errado comigo e eu juro, juro que eu iria mudar. Era só alguém falar, era só alguém chegar e dizer: "é isso que tem de errado com você, Helena" e, depois que a pessoa falasse isso, eu iria mudar imediatamente.

Porque eu não aguento mais. Não aguento ter que ver as pessoas sempre indo embora da minha vida.

Desde pequena, sempre houve isso. Meu pai eu nunca conheci, minha mãe disse que ele sumiu dias depois de ela contar que estava grávida de mim. Ou seja, eu sou rejeitada e abandonada desde o momento em que estive na barriga da minha mãe.

Depois disso, minha mãe teve que se virar nos trinta e então eu nasci, cresci e hoje tenho 20 anos e, durante esses 20 anos, eu nunca senti o amor da minha mãe. Ela nunca demonstrou que me amava.

Ela só fazia as coisas que tinha como "obrigação de mãe" e nada mais. Não lembro a última vez que ela me abraçou e muito menos que ela falou que me amava; na verdade, eu nem sei se isso um dia já chegou a acontecer.

Ela fala que eu tenho que agradecer a ela pela vida que eu tenho, que nós temos. E realmente, eu agradeço demais, porque sei que tem gente que nem tem o que comer e nem onde dormir, ou que mora em algum lugar em situação precária, onde sempre há invasões e falta de segurança.

Agradeço sim por morar em um bairro bom e ter uma casa boa, alimentos para eu comer à vontade e uma cama para dormir tranquila.

Mas e o amor? Cara, eu não tenho o amor de ninguém. Ninguém. É só eu por eu e pronto. É Helena por Helena.

Sei que muitos me julgam por sempre estar me envolvendo com alguém, mas é que ninguém me entende. Se eu vejo que alguém está me dando atenção, por mínima que seja, eu me entrego. Me entrego feito uma criança, e isso tudo porque eu nunca tive amor.

Isso tudo acontece porque eu me sinto sozinha e, querendo ou não, quando você nunca teve amor de ninguém, e principalmente dos seus pais, você se torna vulnerável ao amor. Quando alguém demonstra algo mínimo por você, você acaba se entregando.

E é nessas situações que eu sempre me dou mal. Se você acha que, depois que eu me decepciono, eu paro de acreditar no amor, sinto muito em informar, mas não. Isso não acontece. É que eu ainda acredito que vou encontrar alguém.

Nadja: Você acabou de voltar de viagem e está chorando, garota? - escutei a voz da minha mãe e passei a mão no rosto, afastando as lágrimas. - Nunca vou te entender. Você vive de drama.

Helena: Tiago terminou comigo - murmurei, tentando segurar o choro, mesmo sabendo que seria em vão, e ela revirou os olhos.

Nadja: Vai morrer por causa disso? Fui abandonada grávida e tô aqui, viva e bem. - falou seca e se virou, saindo - não sei para que tanto drama. Daqui a pouco está se matando.

Soltei um soluço e peguei minhas coisas, saindo da sala e indo em direção ao meu quarto. Entrei, trancando a porta, e me joguei na cama, terminando de chorar o que ainda estava entalado aqui.

Dói. Dói porque eu só tinha ele, que demonstrava algo por mim, só tinha ele que me abraçava apertado e falava que tudo ia ficar bem. Que ele estaria ali por mim, mas era tudo mentira. Mais uma vez, mentiram para mim.

Ele foi embora e só disse que eu tinha problemas demais, que não iria permanecer com uma pessoa assim. E mais uma vez, eu estou aqui sozinha, voltando para a estaca zero.

Eu não sei por mais quanto tempo fiquei ali; só sei que acabei pegando no sono depois de tanto chorar e, quando acordei, percebi que já estava anoitecendo.

Levantei da cama sentindo meu olho arder e fui em direção ao meu banheiro, que fica aqui no meu quarto mesmo. Tirei minha roupa já entrando no box e liguei o chuveiro no quente, entrando de cabeça e ignorando que eu não deveria estar lavando meu cabelo na água quente. Mas é que eu só precisava relaxar e, para isso, eu tinha que beber.

Porque é isso que eu sempre faço. Toda vez que estou triste com algo, eu saio de casa e fico pela rua, vou para baladas, barzinhos e encho minha cara. Às vezes, fico com outras pessoas e assim sigo minha vida. Porque, no final das contas, essa sou eu.

Saí do banho depois de ter hidratado meu cabelo e me enrolei na toalha. Saí do banheiro e fui em direção ao meu closet.

Vesti um vestido branco curto, coloquei meu salto e fiz uma maquiagem não tão exagerada, mas passei um batom vermelho. Passei meu perfume, peguei minha bolsinha e saí do quarto, vendo que a casa estava toda silenciosa, o que não é novidade.

Certifiquei-me de que tudo estava na minha bolsa e saí de casa chamando o Uber. Fiquei esperando alguns minutos até ele chegar.

Uber: Bosque Bar, né?- ele me olhou através do retrovisor e eu concordei.

Chegando lá, vi o quanto estava lotado, mas como eu sou conhecida da casa, consegui passar na frente e já fui direto fazer minha bebida.

Barman: A mesma de sempre?- sorriu, me olhando, e eu concordei, observando-o fazer. - Fazia tempo que tu não vinha aqui.

Helena: Agora vai me ver com mais frequência. - sorri e ele soltou um sorriso e entregou meu copo.

Barman: Terminou? - eu concordei. - Até que dessa vez durou mais que a outra.

Concordei, dando o primeiro gole, e tentei ignorar a minha vontade de chorar. Tenho que demonstrar que estou bem. Só isso. Pelo menos até eu chegar em casa.

Helena: Vou voltar a ser sua cliente preferida. Coloquei o meu melhor sorriso e ele concordou, descendo o olhar para o meu decote.

Barman: Senti sua falta aqui. - Sorri e levantei. - Já vai?

Helena: Vou aproveitar minha noite. - Pisquei para ele e me virei, saindo.

Minha noite só estava começando. Até terminar isso daqui, eu já vou ter bebido todas e talvez ficado com alguém, e aí sim vou para casa.

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