Heathens

01| Um dia

Estávamos muito perto das estrelas

Eu nunca conheci alguém como você, alguém

Tão apaixonado quanto

Reflections - The Neighbourhood

Quatro anos atrás

Pego um livro intitulado A Tempestade, de William Shakespeare.
Deslizo os dedos pelas páginas enquanto as folheio, aspirando discretamente seu aroma.
O cheiro de papel e história me enleva, ainda mais sabendo que é Shakespeare.
Sou apaixonada por poesia. Ler Shakespeare me inspira profundamente.
Não apenas ele, mas outros grandes poetas também, Lord Byron, Dante Alighieri, William Wordsworth...

Fecho o livro com cuidado e o devolvo à prateleira da biblioteca.
A biblioteca municipal de Boston é antiga e quase esquecida. Poucos vêm aqui, e eu prefiro assim.
O lugar é encantador, com arcos de madeira elegante e grades ornamentadas. As varandas superiores abrigam prateleiras cheias de livros organizados com esmero. As estantes, de madeira polida, cobrem as paredes e se erguem até os níveis superiores, conferindo uma sensação de grandiosidade.
No centro do salão, há longas mesas e cadeiras, feitas para leitura e estudo. O mobiliário tradicional, em madeira escura com estofados, complementa a aura clássica do ambiente.

Este é meu refúgio, meu lugar favorito no mundo.
Sempre que saio da escola, venho direto para cá.
Percorro as estantes com a ponta dos dedos, lendo os títulos e nomes dos autores, até que um em especial chama minha atenção: Inês, de Lord Byron.
Pego o volume e caminho até um dos bancos. Me sento, abrindo o livro, e começo a ler mentalmente alguns trechos.

"A Inês"

"Não me sorrias à sombria fronte,

Ai! sorrir eu não posso novamente:

Que o céu afaste o que tu chorarias

E em vão talvez chorasses, tão somente.

E perguntas que dor trago secreta,

A roer minha alegria e juventude?

E em vão procuras conhecer-me a angústia

Que nem tu tornarias menos rude?

Não é o amor, não é nem mesmo o ódio,

Nem de baixa ambição honras perdidas,

Que me fazem opor-me ao meu estado

E evadir-me das coisas mais queridas.

De tudo o que eu encontro, escuto, ou vejo,

É esse tédio que deriva, e quanto!