'Eu quero o divórcio'

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Enquanto o restaurante se esvaziava e os últimos convidados iam embora, Fátima buscou um momento de privacidade para se aproximar de Diana. Com cuidado, verificou se ninguém estava olhando e, em um gesto discreto, aproximou-se dela, ainda com o buquê de rosas vermelhas em mãos.

— Essas flores... queria que ficassem com você — murmurou, entregando o buquê de forma casual, mas com um sorriso que só as duas entenderiam.

Diana pegou as flores, sentindo o calor das mãos de Fátima por um instante a mais do que o necessário. Um silêncio carregado pairou entre elas, e antes que trocassem mais palavras, Fátima deu um leve sorriso e deslizou a mão para entrelaçar seus dedos com os de Diana, de maneira sutil. Sem dizer nada, saíram juntas para a rua.

Quando chamaram o táxi, a proximidade entre elas era palpável. Assim que entraram no carro, Diana apertou a mão de Fátima, se aconchegando, de maneira quase protetora. Fátima respirou fundo, e ali, no aconchego do silêncio e da cumplicidade, murmurou:

— Hoje foi muito especial, mas eu precisava te dizer... Diana, eu estou explodindo de sentimentos, como nunca estive antes.

Diana virou-se para ela, o olhar fixo, e a intensidade do momento tornou tudo ainda mais íntimo. A respiração de Fátima parecia entrecortada, como se a qualquer momento as palavras pudessem escapar desordenadas.

— Vem comigo, por favor... vamos para minha casa — disse Fátima, segurando a mão de Diana com um calor que dizia muito mais que as palavras. — Precisamos conversar.

Diana assentiu, e o restante do trajeto no táxi seguiu em um silêncio cheio de promessas. No carro, Fátima deitou a cabeça no ombro de Diana, enquanto alisava a mão dela.

Ao chegarem, Fátima destrancou a porta e a conduziu para a sala, onde as sombras da noite realçam os contornos do ambiente e dos sentimentos que transbordavam entre elas.

Sentadas na sala de Fátima, a luz suave da noite envolvia o espaço, trazendo uma tranquilidade que parecia desafiar a tempestade de emoções entre elas. Fátima respirou fundo, hesitante, como se cada palavra que viesse à tona fosse uma revelação, um pedaço de sua alma que ela entregava para Diana, sem reservas.

— Diana... — começou, com a voz entrecortada pela emoção. — Você não faz ideia do que trouxe de volta pra mim. Há anos, eu me via apenas como alguém que perdeu a própria luz... Eu não me via mais sonhando, não tinha mais nada que me fizesse sentir viva, especial. Mas então... você surgiu. Você trouxe de volta o brilho nos meus olhos, o desejo de acordar todos os dias e, acima de tudo, a confiança que eu tinha perdido em mim mesma.

Diana segurou a mão dela com delicadeza, como quem sente a vulnerabilidade alheia e a abraça com ternura.

— E eu queria acreditar que era só uma amizade especial — continuou Fátima, com a voz trêmula. — Mas, aos poucos, eu percebi que isso era muito mais... Depois daquela noite na sua casa... Eu comecei a entender que os sentimentos por você não cabiam mais dentro da amizade. Era algo recorrente, que se fortalecia cada vez que te olhava, que me fazia desejar mais do que eu jamais pensei que pudesse desejar.

Diana a olhava, com os olhos marejados, deixando Fátima expressar tudo o que mantivera guardado até ali.

— Mas eu preciso entender isso, Diana. Nunca pensei que fosse lésbica ou coisas assim... — prosseguiu Fátima, apertando as mãos dela com firmeza. — Ao mesmo tempo, minha vida está um caos. Estou no meio de uma separação conturbada com o Robson, e você... você tem uma filha, tem um marido. Eu não quero ser uma intrusa, não quero ser quem destrói a sua família. Isso seria... — Ela parou, procurando as palavras certas. — Eu gosto muito de você pra isso.

Querida Vizinha - Diana & FátimaOnde histórias criam vida. Descubra agora