A primeira semana me deixou deprimida,não voltaria mais para a escola,não tinha permissão para sair,os poucos empregados da casa tinham o triplo da minha idade e não pareciam disposto a terem uma conversa comigo,falavam apenas o mínimo e quando era necessário,pareciam me evitar.
Na segunda semana recebi a visita da mãe de Sebastian,ela me disse que se eu quisesse me encaixar na vida do seu filho eu teria que receber aulas diariamente de etiqueta e outras aulas especiais,onde aprenderia a bordar,costurar,cozinhar,como me portar a mesa,socialmente,o que falar,como falar,como agir em cada situação.
Ela queria me moldar,e eu queria me encaixar,pois agora esse seria o meu futuro e presente,tinha medo de Sebastian voltar atrás com sua decisão e eu ficar sem ter para onde ir,de o seu pai ou até mesmo sua mãe não me aceitar e simplesmente me por para fora de sua casa,Sebastian era herdeiro de todo o império que sua família construiu,mas só herdará quando se casar,ele é mais velho que eu dois anos,tendo dezoito anos,quando nos casarmos eu terei dezoito e ele terá vinte,me pergunto se quando voltar,ainda será a mesma pessoa que me salvou de um futuro de sofrimento e tortura,que deixou para trás suas vontades para que eu tivesse alguma,ele sabe que eu morreria se eu continuasse como estava,que a tendência era piorar e que eu não sou forte fisicamente o bastante para suportar as coisas que estava passando e que iria passar.
Ele realmente me salvou.
Agora quero tentar retribuir o máximo que conseguir,pelo menos sendo uma boa esposa,uma que não o envergonhe na frente das outras pessoas,que saiba falar corretamente e que ele não se arrependa de ter escolhido.
No primeiro mês me senti como um pato fora d'água,parecia que nunca fazia nada certo,sempre me olhavam torto quando tentava falar com algum deles ou fazia algo considerável inadequado a mesa como usar o talher errado.Minhas roupas gastas foram substituídas por roupas novas,vestidos e mais vestidos,de todos os tipos de cores e formatos,camisolas novas,algumas até escandalosas demais para que eu usasse,feitas apenas para o casamento,sapatos novos,joias novas,tudo foi substituído.
No segundo mês chorava todas as noites com saudade de Florence,queria muito seu abraço,na verdade desejava qualquer tipo que carinho,nem que seja por palavras,já que tudo que recebia eram reclamações,palavras duras e olhares tortos,nunca me senti tão deprimida.
No terceiro mês tinha desistido de me comunicar com as pessoas,fazia e falava apenas quando necessário,estava em modo automático,sempre com um oco no estômago,se sentindo sempre a pior pessoa,nunca fazia nada certo,nunca falava certo,nunca andava da forma certa,nunca me sentava da forma certa,nunca aprendia o bastante,nunca sabia o bastante,me sentia um fardo,era tratado como um.
No sexto mês enquanto jantava tinha vontade de cortar os pulsos a mesa,já estava me acostumando a minha nova vida,já estava decorando quantos degraus e cômodos tinha na casa,quais eram os livros disponíveis na biblioteca,já não errava tanto as coisas,não falava muito mas quando falava não desagradava tanto quanto antes,estava finalmente me adaptando.
No natal daquele primeiro ano alguns funcionários foram trocados,e conheci Jude,uma garota da minha idade,filha de um dos funcionários da casa,diferente dos outros,ela falava comigo,começamos a ficar próximas,finalmente fui voltando a falar,e pela primeira vez em muito tempo consegui rir.
Em janeiro recebi cartas de Sebastian,meu coração quase infartou quando recebi a primeira carta,só tive coragem de abri-la dois dias depois que recebi a mesma,finalmente tinha alguma notícia dele,mas como temia,foi decepcionante,sua carta apenas falava que cumpriria suas obrigações e perguntava como estava,uma parte de mim pelo menos se emocionou em saber que ele se preocupava,a outra parte me disse que ele perguntou apenas por educação e para saber se estava viva.Não respondi a carta.
Em Junho fiz a minha primeira fuga com Jude para os arredores da propriedade,depois de um ano tive a oportunidade de correr,de respirar ar puro,de me sentir viva novamente,Jude me mostrou uma cachoeira onde alguns dias depois mergulhamos e ficamos conversando e brincando por horas.Eu conseguia me sentir feliz as vezes,era bom não sentir apenas aqueles sentimentos ruins como tristeza e solidão,Jude ia fazer compras no vilarejo e eu conseguia ter notícias da minha irmã,quando Jude mencionou o nome dela meu coração quase infartou.Já acostumada com a rotina e tinha uma amiga.
Meu corpo mudou com o tempo,em Dezembro tive que trocar os vestidos pois estavam apertados em alguns lugares,como seios e quadris,meus cabelos cresceram também,a mãe de Sebastian me disse para que não cortasse o comprimento já que uma dama tinha que demonstrar vaidade para seu marido.Com o tempo a ideia de me casar com Sebastian começou a me aterrorizar,ele voltou a ser novamente um estranho para mim,não me mandou mais cartas,parecia não querer manter contato,parecia não se importar.E com o tempo me convenci que seria melhor assim,que assim seria mais fácil,sem sentimentos,sem mais dor.Mas toda vez que eu pensava no mesmo,era inevitável não sentir nada.
Atualmente faltam dois dias para que eu complete dezoito anos e Sebastian volte para se casar comigo.
Estou tão nervosa que mal consigo respirar.
...
—ele vai ser um bom marido—Jude fala enquanto penteia meus cabelos—
—como sabe?—falo sentindo meu estômago revirar—
—o conheci alguns anos atrás e sei que é bondoso,você é a prova viva disso,quem faria o que ele fez por você e ser considerado uma pessoa ruim?
Eu tinha contado o que aconteceu a Jude,ela sabia da verdade,ela sabia de tudo.
—sim,mas...—me viro a olhando—...e se ele não me quiser como esposa?afinal nem nos conhecemos de verdade,já faz anos que nos vimos pela última vez,nem tenho notícias mais do mesmo—falo e ela sorrir meiga para mim—
—querida,a maioria dos casamentos são arranjados,muitos nunca nem se viram,você pelo menos ainda teve a chance de conhecer seu noivo—fala e assinto—
—mesmo assim,não acho que o conheça,ele...
—seja sincera consigo mesma Julie,você acha mesmo que precisa conhecer ele para se casar?ele a salvou de um futuro desonroso e doloroso,isso já não é o bastante?
"Não",penso.
—muitas se casam por bem menos—fala e me viro apenas deixando que ela continue a pentear meus cabelos—
Me encaro no espelho analisando minhas mudanças,meu maxilar estava mais marcado,as maçãs do meu rosto também,meus lábios estavam mais cheios,meus cabelos estavam grandes,enormes na verdade,no fundo estava com medo dele não me reconhecer ou não gostar do que vai ver,me pergunto o quanto ele deve ter mudado em sua estadia em Nova York,ele agora deve ser um homem formado,mas não consigo o imaginar de barba,nem usando aqueles paletós que seu pai usava.
Mas ele sempre fora bonito,isso dificilmente deve ter mudado.
Ouvimos batidas na porta interrompendo meus devaneios.
—pode entrar—falo olhando para a porta pelo reflexo do espelho—
Uma criada adentra o cômodo,ela aparentava estar surpresa com alguma coisa.
—vim avisa-la que temos visitas—fala e me viro para encara-la—
—quem chegou a esta hora?—falo estranhando a chegada de alguma visita tarde da noite—
—é o senhor Campbell senhorita,o senhor Sebastian Campbell voltou de sua viagem—fala e não consigo ouvir mais nada—
Minha respiração fica pesada e entrecortada,sinto meus pulmões se contraírem com grande esforço tentando inalar ar mas meu corpo se recusa a deixar entrar,um bolo se forma em minha garganta.
Ele está aqui,Sebastian voltou.
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-1870-Sebastian
RandomUma dilogia formada pelo livro 1 que conta a história de Julie e Sebastian e o livro 2 que conta a história de Florence e Heitor. Nesse primeiro livro de um lado temos Julie Thompson,uma garota forte e corajosa que é capaz de fazer de tudo pelas pes...