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Já se passaram alguns dias desde o episódio com a vizinha no corredor, e pelo jeito, os momentos de tranquilidade acabaram.

A mulher estava em casa de verdade agora, e a tortura de ouvir o chuveiro barulhento da vizinha se tornou uma realidade. Mas, claro, Vi não ia reclamar do barulho com a mulher naquela situação delicada.

A rosada escutava diariamente gemidos de dor através da parede fininha que os proprietários tiveram a ousadia de construir. Era impressionante como aquela mulher passava as noites em claro, já que todo dia a televisão estava ligada em documentários que, pelo que Vi conseguia ouvir, falavam sobre casos criminais. Isso, por sinal, aumentava a suspeita de que a mulher trabalhava em uma delegacia.

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Naquele dia, Vi tinha acabado de voltar do trabalho, cheia de estresse por causa da quantidade de clientes que atendeu. Isso sempre acontecia quando o pessoal se reunia para assistir a um jogo muito esperado.

O estresse dela estava quase saindo do controle, e a ideia de ter que lidar com a vizinha barulhenta só piorava a situação. A melhor saída, ao entrar em casa, foi correr para o banheiro e tomar um banho quente. E lá estava ela, debaixo do chuveiro, recuperando sua paz.

Depois de se arrumar, ela colocou uma calça moletom, e uma regata preta, pronta para se jogar no sofá como de costume. Em seguida, começou a vagar pelos canais da TV em busca de algo interessante. Depois de um tempo navegando, ela ouviu batidas na porta.

A princípio, pensou que era Jinx, mas a maneira dela bater era sempre muito barulhenta, e o horário não combinava com as visitas dela.

Então, Vi foi até a janela para espiar e viu que era sua vizinha. Ficou um pouco confusa, mas acabou dando de ombros e foi atender a porta.

— Oi, posso te ajudar, vizinha?

Ela perguntou, com um tom curioso enquanto olhava a mulher de cima a baixo.

Estava sem sua muleta dessa vez, usando um suéter e um short ambos lilás, um pijama chique, digamos assim. O rosto dela estava bem diferente do dia em que a ajudou, agora com uma expressão meio irritada.

— Desculpa te incomodar, mas você poderia baixar o volume da sua TV?

Todo o estresse que Vi tinha conseguido afastar voltou com tudo, e ela cruzou os braços, apoiando o ombro na porta de madeira.

— Olha, eu acho que você pedir isso é um pouco hipócrita.

Ela disse de forma ríspida, com a sobrancelha levemente arqueada. A vizinha, por sua vez, endireitou a postura, mesmo machucada.

— Por quê?

Vi ficou abismada, não era possível que ela não percebesse que o barulho atravessava aquelas paredes finas.

— Você passa a noite toda vendo TV, fica mais de uma hora no banho com esse chuveiro que não para de fazer barulho, e ainda quer que eu abaixe o som da minha TV, que por sinal, já tá difícil de ouvir?

A mulher ficou com uma expressão de surpresa, com seus olhos azuis bem arregalados. Vi notou como os olhos dela eram belos, mas isso era um assunto para outro momento.

— Se você se sentiu incomodada, deveria ter falado. Mas, para ser sincera, eu não me importo.

Ela deu de ombros, claramente irritada, enquanto se afastava mancando em direção à porta.

Vi também deu de ombros antes de fechar a porta com força. Ela respirou fundo, ainda encostada na porta, e foi até o sofá, jogando-se nele com um suspiro de frustração.

Be less noisy - CaitviOnde histórias criam vida. Descubra agora