Capítulo 13: A sombra que se aproxima

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Marcus Crowe


A escuridão da noite envolvia a cidade, e lá de cima, observando do alto de um edifício abandonado, eu podia ver as luzes piscando, as vidas correndo em suas rotinas insignificantes, sem nunca perceber que eu estava entre eles. Eles passavam por mim, respirando o mesmo ar, mas não tinham ideia de que, a qualquer momento, eu poderia invadir o pequeno mundo seguro que criaram para si. Mas isso não importava... não para mim.

Meus olhos, no entanto, estavam fixos em uma pessoa em especial.

Daphne Hale.

Eu a observava de longe, mas sentia como se pudesse tocá-la, sentir a intensidade que ela exalava, mesmo quando estava acompanhada. Era quase poético, a maneira como ela se movia, como falava, sempre com aquela determinação quase ingênua. Eu não precisava me aproximar mais; eu já sabia que ela era diferente. Ela estava, aos poucos, desvendando meus padrões, meus gestos, meus passos meticulosos, e isso me fascinava mais do que qualquer outro jogo que já havia criado.

Hoje, ao vê-la ao lado daquele inútil Jacob, senti algo novo. A sombra da raiva se esgueirou pela minha mente. Não era ciúme, claro. Eu não me permitia emoções tão triviais. Era mais como uma necessidade de lembrá-la de quem realmente está em controle desse jogo.

Afinal, Daphne era minha. Cada pista que deixei para ela, cada mensagem, cada toque de humor e provocação... tudo tinha sido para ela. Jacob não tinha lugar aqui, e ele não passava de uma distração que logo precisaria ser eliminada.

— Daphne... — murmurei, sentindo o nome dançar em meus lábios como uma promessa. — Você sabe que tudo isso é só para você.

Pensei em nossa última interação, nos olhares e nos desafios silenciosos. Ela era forte, e isso a tornava ainda mais deliciosa para quebrar, camada por camada. Mas agora eu precisava apressar as coisas. Cada movimento dela com Jacob era um lembrete de que eu precisava agir.

Enquanto a noite avançava, eu já havia planejado meu próximo passo, uma nova mensagem para ela, algo que mostraria o quão perto eu realmente estava, mesmo agora.

Eu observei do alto, vendo Daphne sair do hospital ao lado de seu irmão mais novo. Noah, se não me engano. A
conexão entre eles era inegável. Ele
tinha os mesmos olhos determinados
dela, a mesma teimosia silenciosa. Eu
sabia disso apenas por observá-los,
analisando cada detalhe de longe,
capturando suas fraquezas, suas
histórias.

Daphne destrancou o carro e fez
menção de entrar, mas então parou e
pareceu lembrar de algo. Deu uma
olhada no irmão, disse algo rápido, e
voltou para o hospital, desaparecendo
pela entrada principal. Eu sabia que
ela só levaria alguns minutos, mas era
tudo de que eu precisava. Noah ficou
parado ao lado do carro, mexendo no
celular, aparentemente alheio ao que
estava à sua volta.

Foi quando uma figura sombria
emergiu da esquina, as mãos enfiadas no bolso da jaqueta. O movimento era calculado, cada passo preciso. O homem olhou para os lados, certificando-se de que ninguém mais estava por perto, e, antes que o garoto pudesse perceber, ele já estava ao lado de Noah, segurando seu braço.

─ Passa o celular, garoto ─ A voz do
estranho era baixa, mas firme, uma
ameaça disfarçada de pedido.

Noah olhou para o homem, os olhos
arregalados. Mesmo assim, ele não
cedeu imediatamente. Pude ver seu
maxilar travado, a mesma determinação que vi em Daphne. Ele
não ia se submeter tão fácil, e aquilo
era quase interessante.

O ladrão, no entanto, não tinha a
mesma paciência. Sua mão foi
rapidamente até a cintura, e ele puxou
uma faca, encostando-a no pescoço
do garoto.

Foi o suficiente.

─ Eu disse para passar logo.

Eu nem pensei. Em segundos, eu já
estava me movendo em direção a eles, saindo das sombras como uma
tempestade silenciosa.

Antes que o ladrão pudesse reagir,
segurei-o pelo ombro e o puxei para
trás, com um golpe certeiro na nuca.
Ele caiu ao chão com um baque seco,
o rosto se contorcendo em dor enquanto tentava entender o que havia acontecido.

Noah deu alguns passos para trás,
ainda em choque, mas seus olhos
rapidamente me encontraram. Era
quase cômico ver o garoto tentando
entender quem eu era eo que tinha
acabado de acontecer. Apenas sorri,
mas um sorriso sem qualquer calor, e
depois voltei meu olhar ao ladrão
caído.

─ Vá embora antes que eu mude de
ideia. ─ Murmurei, meu tom tão afiado
quanto a lâmina que ele segurava
segundos atrás.

O ladrão, agora assustado, não
precisou de um segundo aviso. Ele se
arrastou para longe e, em um instante,
desapareceu na escuridão.

Voltei-me para Noah, que ainda me
olhava com um misto de medo e
alívio. Aquele era o momento perfeito
para desaparecer, deixar uma última
marca que ele jamais esqueceria.

Sem mais uma palavra, apenas o observei, deixando a tensão pairar entre nós.

─ Cuidado ao andar sozinho ─ murmurei, e, antes que ele pudesse
reagir, voltei para as sombras,
desaparecendo tão rapidamente
quanto havia aparecido.

Enquanto caminhava de volta à minha observação, um sorriso se formou em meus lábios. Daphne nunca saberia que eu salvei o irmão dela, e, para Noah, eu seria apenas uma sombra que ele jamais entenderia. Mas, para mim, tudo isso era apena só prelúdio de um jogo muito mais profundo.

Sussurros de um AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora