Ato III

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ATO III
No escuro

— Você viu como ele me tratou? — Cassandra perguntou, em um tom exausto e desanimado. Ela deixava o banheiro do quarto enquanto espalhava creme pelo corpo, ainda presa nas lembranças do jantar desconfortável que tiveram. O filho, irritado, mal havia olhado para ela, e quando o fez, foi para ser grosseiro. — Eu sei que, em parte, a culpa é minha... Mas será que ele não pode se colocar no meu lugar? Nem por um momento? Isso é tão frustrante... — suspirou pesadamente, sentando-se na cama. Passou a mão pelo rosto, os olhos cansados, enquanto o baby doll de seda já cobria sua pele hidratada.

Armand, usando uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca de mangas curtas, se aproximou dela, tentando aliviar sua angústia. Ele beijou o ombro de Cassandra com ternura, com a voz baixa e suave, disse:

— Adolescentes são complicados. Ainda mais depois de tudo que a gente passou... Taehyung só precisa de tempo.

— Exatamente, a gente passou, todos nós enfrentamos a mesma dor e lidamos com ela do nosso jeito, mas... — Cassandra virou-se para Armand, o olhar abatido. — Isso não dá o direito ao Taehyung de agir como se fosse o único afetado, de fazer o que bem entende. — Ela suspirou, desviando o olhar, os pensamentos a puxando de volta ao passado. — Só que... eu sinto que não posso falar com ele sobre isso. Tenho medo do que ele pode fazer com ele mesmo... Você sabe. Eu não suportaria perder outro filho. — Seus lábios tremeram, enquanto lágrimas silenciosas começaram a escorrer por seu rosto. As lembranças do passado invadiram seu coração como veneno, enfraquecendo sua postura, tornando o sofrimento uma presença inescapável, apesar de todo esforço para deixá-lo para trás.

— Ei, minha lótus, vai ficar tudo bem. — Armand ergueu delicadamente o rosto dela, secando suas lágrimas com os polegares, enquanto Cassandra o olhava, o lábio trêmulo, presa entre a dor e a insuficiência. — Não pensa nisso agora. O Taehyung tá aqui, ele tá bem... Só 'tá passando por uma fase de  babaquice e irresponsabilidade, mas com o tempo as coisas vão se ajeitar. Ficar remoendo isso não vai resolver nada, certo?

— Você tem razão... — ela suspirou, um suspiro pesado, e afastou-se do noivo, deitando-se na cama, de costas para ele. — Mas, às vezes, me pego pensando: onde foi que eu errei? Por que meu filho me trata assim? Por que ele não quer mais viver? Por que ele se machuca? Por que me afasta? E, no final, tudo volta para mim... chego à conclusão de que a culpa é minha. Eu falhei como mãe. E, ao pensar assim, às vezes me pergunto se não foi melhor que o Apollo não tenha completado cinco meses. — As lágrimas deslizavam por seu rosto enquanto fechava os olhos, permitindo-se sentir todo o peso daquela dor. A insuficiência e a culpa pela perda de um filho eram esmagadoras, e agora assistir o único que restava se perdendo lentamente, se isolando, recusando qualquer ajuda... Não havia dor maior. E, sem recursos, sem qualquer saída, ela continuava tentando, entregando-se ao sofrimento, disposta a tudo para puxá-lo para longe daquele abismo — mesmo que tivesse que se afogar junto a ele.

— Lótus... — Armand a chamou, em um sussurro, deitando-se atrás dela. Abraçou-a por trás, envolvendo-a com a ternura de quem sabe que aquele amor é o único alicerce que os mantém de pé. Ele afagou seus cabelos, tentando ser forte por ela, enquanto, por dentro, o mesmo vazio o corroía. A perda do filho pesava sobre ele também, mas desmoronar não era uma opção; se ele caísse, quem seguraria Cassandra? Todo o desânimo e a insatisfação com o mundo estavam ali, presentes dentro dele, mas o amor que sentia por ela ainda era o que o fazia seguir em frente, pois era ao seu lado que ele via sua luz.

Com a Kim adormecida em seus braços, Armand se permitiu finalmente descansar, aquecido pelo corpo dela, sentindo o peso do dia se dissipar lentamente. No entanto, seu sono foi breve. Algo, uma presença ou sensação inexplicável, o despertou — mas não saberia dizer o que, exatamente. Seus olhos estavam abertos, porém vazios, e sua mente parecia ausente, como se seus movimentos fossem guiados por fios invisíveis. Um arrepio percorreu-lhe a espinha enquanto se sentava na cama, sentindo uma inquietação.

A Residência Myers | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora