Na praça, Gabriela segurava cada moedinha entre os dedos, examinando-as como se fossem o último vestígio de esperança que restava em sua vida miserável. Seus olhos, inchados pelo choro, refletiam um desespero absoluto, como se tivessem atravessado a noite inteira sem descanso. A cada moeda que soltava na mão do taxista, sentia que entregava também um pedaço de sua própria dignidade, algo tão escasso quanto aquele dinheiro contadinho.
Gabriela finalmente desceu do táxi e caminhou até o banco da praça, desabando sobre ele como uma boneca de pano arremessada, sem forças para compor-se. As lágrimas começaram a descer descontroladas. Perguntas, dúvidas e suposições horrendas se atropelavam em sua mente como uma multidão frenética: "E se eu infectei Everaldo?" "E se ele já souber?" "Como isso pode ter acontecido comigo? Eu, a esposa fiel!"
Ela estava tão absorvida pelo próprio sofrimento que quase não notou o homem que se aproximava, um senhor idoso, com o semblante sereno e uma certa elegância ultrapassada. Ele parou diante dela, estudando-a como quem observa um animal ferido. Quando ele se sentou ao seu lado, Gabriela ergueu o rosto em um sobressalto, mas a expressão do velho parecia pedir desculpas por existir. O idoso a olhou com um misto de piedade e compreensão, enfiou a mão no bolso com calma, retirou algumas notas e as estendeu para Gabriela, oferecendo a ela o que parecia ser um pequeno milagre.
— Minha filha, vá comprar alguma coisa. Qualquer coisa para lhe acalmar.
A hesitação de Gabriela durou apenas um segundo; sua necessidade era maior que seu orgulho. Ela aceitou o dinheiro com um gesto tímido, murmurando um "obrigada" tão baixo que mal se ouvia. Sentiu uma estranha ternura pelo velho, como se ele fosse uma lembrança vívida de um mundo mais simples, onde as pessoas ainda se importavam umas com as outras. Ele a seguiu até o bar próximo, e enquanto ela comprava uma garrafa de guaraná, ele a observava em silêncio.
Depois de beber alguns goles, ela devolveu o troco ao idoso, que insistiu que ela guardasse as poucas moedas, num gesto quase paternal. Agradeceu uma última vez e saiu dali, seu passo hesitante, como se carregasse uma sentença de morte já selada.
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A mulher que queria ser sensual
Short StoryA jovem Gabriela era uma moça tímida e recém casada. Sua mãe a incentivava e ser mais atrativa para o marido e assim conseguir engravidar. Mas um fato inusitado provoca uma grande reviravolta e algo grandioso, quase trágico, acontece.