No dia seguinte, a esperança pairava no ar, leve como pluma. Everaldo, com sua pose de homem sério, finalmente concordara em ter filhos, como se a decisão tivesse partido dele. Recomendou a Gabriela que fizesse os exames de saúde, para ver se não era estéril e essas coisas. O plano de construir uma família, de ter um filho, poderia ser uma boa estratégia para amarrar aquele casamento.
No posto de saúde, Gabriela esperava, roendo as unhas. Aquele lugar, com seu cheiro de álcool e formol, exalava um ar de morte que contrastava com a vida que ela almejava. A enfermeira, uma mulher de rosto adusto e olhos cansados, a recebeu com um sorriso amarelo, falso como nota de três reais. Os minutos se arrastavam como horas. A cada tique-taque do relógio, a ansiedade de Gabriela crescia.
Finalmente, a enfermeira voltou.
— Gabriela, posso te chamar assim? – a enfermeira perguntou, com um sorriso que não chegava aos olhos.
— Pode, dona... – respondeu Gabriela, a voz falha.
— Dona nada, menina! Me chama de Maria.
Gabriela forçou um sorriso. Aquele discurso de simpatia fingida a irritava. Queria logo saber o resultado.
— Maria, e os exames? – perguntou, impaciente.
A enfermeira suspirou, como se estivesse prestes a dar uma má notícia.
— Gabriela, você é uma mulher forte, não é?
— Sou, sim. Mas o que aconteceu?
— Os resultados... eles não são os que esperávamos.
Sentiu um frio na barriga, como se tivesse engolido gelo.
— O que quer dizer com isso, Maria?
A enfermeira, com a frieza de um pato, soltou a bomba:
— Você testou positivo para HIV.
Gabriela sentiu suas forças se esvaírem. A vida, antes tão colorida, agora se resumia a um borrão cinza. Quando voltou a si, estava deitada no chão frio do posto de saúde. A cabeça latejava, a boca seca. Sentiu vergonha, uma vergonha profunda que a corroía por dentro. Como se fosse uma pária, uma leprosa. Gabriela, uma mulher honesta, trabalhadora, estava marcada pela doença que era atribuída às meretrizes.
Como poderia isso ter acontecido com ela? Uma mulher honesta, trabalhadora...
A imagem de Everaldo a assombrou. O que ele faria quando soubesse? Ele a abandonaria? O que as vizinha diriam? As perguntas martelavam em sua cabeça, como um mar revolto.
Levantou-se, cambaleante, e saiu correndo do posto, com as pernas bambas. Entrou no primeiro táxi que encontrou e pediu para ser levada para longe dali. Queria desaparecer, sumir do mundo.
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A mulher que queria ser sensual
Cerita PendekA jovem Gabriela era uma moça tímida e recém casada. Sua mãe a incentivava e ser mais atrativa para o marido e assim conseguir engravidar. Mas um fato inusitado provoca uma grande reviravolta e algo grandioso, quase trágico, acontece.