Fazia muito tempo que não dormia daquele jeito. Mas diferente das outras vezes foi um sono sem sonhos. Do tipo que você apaga e acorda num piscar de olhos. Meus olhos percorreram aquele lugar. Eu estava deitada numa cama de casal num quarto que com certeza não era o meu.
Não tinha muitos móveis. Arquitetura tradicional, mesinha no canto, janela fechada com cortinas brancas, muitos selos nas paredes e uma luz fraca amarelada vindo de muitas lanternas no teto. Eu me belisquei três vezes para ter certeza de que não era um sonho.
Eu sentei na cama olhando ao redor, ainda estava de uniforme então talvez não tenha passado muito tempo. Eu perdi a noção de horário, dias e noites depois do coma. Eu caminhei até a janela e espiei pela vidraça, mas não tinha nada. Era uma parede preta. Eu dei dois passos para trás assustada.
— Não tem vista nessa janela. — Eu ouvi a voz daquele homem e me virei bruscamente. Eu estava aterrorizada porque cinco minutos atrás não havia ninguém ali.
— Onde estou?
— Num lugar seguro.
Como se houvesse algum lugar seguro o suficiente para alguém que a alma vagueia enquanto o corpo dorme.
— Estou presa aqui?
O homem alto, de roupas pretas e olhos vendados encostou na parede e cruzou os braços. Era difícil saber o que ele estava querendo dizer ou fazer. A expressão dele era sempre a mesma. De calma. Não... era de confiança.
— Estar presa aqui vai depender de você.
— Eu quero ir para casa.
— Isso não vai ser possível. Seu caso é bem raro e muitas vidas estão em risco.
— Tá falando da história absurda que eu estou amaldiçoada?
— Você está. É um fato.
— Kurogiri jamais me faria mal.
Ele deu uma risadinha sarcástica e escondeu o rosto na gola alta de seu casaco. Depois ergueu a cabeça ainda com o sorriso no rosto. — É o que você pensa?
— É a verdade.
— O que ele disse para você quando o trouxe do Reikai?
— O que? Eu... ele é só um gato. — Eu tentava reafirmar isso na minha mente. Precisava disso para manter a minha sanidade.
— O gato que ninguém na sua casa nunca viu?
— Acham que estou louca? — Eu perguntei com os lábios tremendo. — Eu queria que minha família tivesse me dito isso pessoalmente.
— Não os entenda mal, eles querem seu bem. Mas para isso preciso que seja sincera comigo.
— Você acha que eu estou louca? — Eu já não tinha muitas forças para falar a verdade. Tudo ali parecia estranho. Olhei para o rosto dele com mais segurança pela primeira vez, a luz amarela iluminava parcialmente seu rosto. Eu não podia ver seus olhos, mas sua postura não parecia me julgar.
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Anjo da Escuridão
Fiksi PenggemarApós passar dois anos presa em um misterioso mundo dos sonhos, Akira finalmente retorna à sua vida normal. Determinada a concluir o ensino médio, ela volta à escola, mas logo percebe que coisas estranhas começam a acontecer. Após um acidente inexpli...