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Anne's vision

   Assim que fico sozinha na sala de reuniões, abro o Twitter e, inevitavelmente, vejo meu nome misturado ao de Franco em vários tweets. É estranho ver meu nome em polêmicas, mesmo sendo uma influenciadora. Sempre fui uma discípula leal de George Russell, apenas observando a situação.

   É difícil ver tantos julgamentos sem nenhum fundamento. Uma parte de mim quer xingá-los e dizer que é tudo exagero, mas a outra sabe que quanto mais eu mexer nisso de forma irracional . mais as coisas irão piorar.

   Há uma mistura de posicionamento sobre o assunto, na verdade. Algumas pessoas julgam a postura de Franco por ele se meter em uma confusão tão rapidamente. Já outros, o acusam de se aproveitar de uma mulher bêbada. Mas há pessoas à espera de um esclarecimento, mesmo tardio.

Analisando a situação profissionalmente, claro que, apesar de toda a repercussão negativa, Franco ganhou mais popularidade e o tipo escândalo não é irreversível. O que realmente me intriga é a forma como decidiram resolver e amenizar a situação. Considerando que ele ainda não tem garantias para 2025, algo que manche sua imagem definitivamente não é algo bom para sua carreira. Havia outras opções menos dramáticas, mas, mesmo assim, optaram por uma abordagem arriscada. O risco de sermos descobertos seria algo péssimo para ele.

••
 
Quarta-feira, Austin, Texas

O calor seco de Austin bate no meu rosto assim que saio do aeroporto. Fazia um ano desde a última vez que estive aqui, mas a sensação era sempre a mesma — como se o calor da cidade misturasse memórias antigas e novas em um só bafo quente e reconfortante.

Mas a brisa quente não conseguia acalmar a confusão dentro de mim. Eu ainda estava confusa sobre a situação que estava prestes a encarar nesse lugar.

Com a cabeça cheia de pensamentos, percebo o carro preto estacionado à minha frente. O motorista desce e abre a porta, mas minha atenção rapidamente é desviada quando vejo quem já está lá dentro. Claro que tinha que ser ele.

Franco Colapinto, que surpresa desagradável, muito obrigada. Não sou o tipo de pessoa que fica nervosa com facilidade, mas a situação inteira me deixa meio desajeitada e constrangida. Até porquê, eu a causei. Entro no carro, lançando um aceno e um sorriso que, sinceramente, saiu mais torto do que deveria.

— Hm, olá. Que surpresa já te ver aqui. — Minha voz soa mais aguda do que o normal, e eu odeio isso.

Ele sorri de forma simpática, mas longe do habitual, quase indiferente.

— Parece que nossa agenda vai ser bem ocupada, hermanita. — Há algo na maneira como ele fala, sério, mas com uma ponta de provocação, que me faz querer sumir.

— É, pelo jeito, temos muito o que discutir. — tento manter o profissionalismo, mas a tensão entre nós é palpável. — E eu... sinto muito. De verdade. Pelo o que aconteceu nas redes sociais e pela confusão toda. Eu estava absorta e não pude consertar antes.

Ele me encara por alguns segundos e só acena com a cabeça, em confirmação, sem dizer nada. Um silêncio ensurdecedor estava presente. Totalmente desconfortável. Eu não sei o que dizer ou fazer, então encaro a paisagem, fingindo estar foçada em qualquer coisa. Qualquer coisa que não seja o olhar dele.

O caminho até o hotel é longo e silencioso. Tento ignorar a tensão crescente ao lado, mas os olhares rápidos de Franco me pegam desprevenida. Ele notou que eu o observei, e agora estou oficialmente com vergonha. Que ótimo, Anne, que ótimo.

Assim que chegamos, sou levada para o meu quarto, não muito longe do de Franco. No entanto, uma sensação estranha me acompanha — sei que não vou conseguir relaxar. Não enquanto eu tiver que lidar com tudo isso, com esse contrato ridículo, e com Franco.

Vou ao corredor ao lado e percebo que ele estava quase entrando em seu quarto. Mas eu o interrompo:

Podemos, por favor, conversar?

— Claro. Entre.

A suíte dele era simplesmente enorme e luxuosa. É, os tweets brincando sobre onde ele estaria hospedado estavam realmente errados, totalmente equivocados. Mas nem a beleza do local ou seus móveis reluzentes conseguiram me acalmar. Ele sentou em uma poltrona e eu sentei no sofá, parecia que estávamos em um interrogatório, onde ele era o policial e eu a criminosa.

Agora que estávamos sozinhos e eu estava menos tensa do que no carro, pude notar seu cheiro. Ele já tem cara de ser cheiroso, mas realidade é muito mais. Cheiro de homem, de um verdadeiro homem. Limpo a garganta e meus pensamentos. Se concentre, Anne, foi você quem causou isso. Mas ele toma a iniciativa:

    — Olha, não foi assim que eu imaginei que as coisas aconteceriam. Quando tomei consciência do contrato, você já tinha assinado e eu não tinha mais opções. — Ele disse, se ajeitando na poltrona, cruzando os braços. — Não me pronunciei antes porque me disseram que a poeira ia abaixar, mas só aumentou. — Ele pausou, pensativo e olhando fixamente para mim, como se procurasse algo. — Podemos ser mais calmos e reservados se for desconfortável para ambos.

   — Eu acho que entendo o que seu agente quis fazer. Quanto mais chegarmos perto do casal perfeito, — Só de pensar na ideia de fingirmos ser um casal, fiz uma careta — melhor vai ser para sua carreira e para a situação toda. E eu sou profissional o suficiente para deixar o que passamos de lado, o que eu fiz para você, no caso. — Complementei, mentindo ser profissional o bastante para toda aquela situação.

    — Hm, isso é bom, então. Acho que posso ficar menos nervoso, já que tenho uma profissional ao meu lado. — Ele disse, em tom provocativo.

    Me segurei para não voar na cara dele.

    — Enfim, durante o voo,  eu estava pensando em.. — Digo, mas sou interrompida.

   — Vamos sair amanhã.

   — O que?

   — Ué, é isso.

   – Mas como vamos agir?  Não está sendo muito precipitado? Olha, eu não sou atriz e nem nada do tipo.

   — Eu também não, mas acho que podemos apenas nos encontrar tranquilamente. Não precisamos agir exatamente como um casal, talvez bons amigos. — Disse ele, seriamente olhando para mim.

   Suspiro. Tudo para ele parece tão simples e fácil, ou eu que sou complicada demais?

   Ele riu, percebendo minha situação e complementou:

   — O que foi? Eu não sou tão ruim assim, nunca me chamaram de chato ou algo do tipo. — Ele riu, amenizando a tensão.

   — Então acho que terei a honra de te falar isso.  — Falei, sarcástica e ele fingiu estar magoado.

   — Você não precisa ficar nervosa. Não tem como a situação piorar.

   — Você vai me desculpar, mas isso não está ajudando. — Ele riu — Hmm, então... Nos encontramos amanhã. — Eu disse, me levantando do sofá.

   — Mas já?

  Olhei para ele, que tinha se levantado e agora me olhava com uma cara de cachorro na chuva. Segurei a risada pela situação.

   — Sim. Boa noite, Franco.

   Agora ele parecia rendido e me acompanhou até a porta.

   — Até amanhã, Anne.

That Night ⟢ FRANCO COLAPINTOOnde histórias criam vida. Descubra agora