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Segunda-feira, Baku, Azerbaijão
Anne's vision

Cheiro de amaciante, uma coberta quentinha e uma cama confortável, viro um pouco para o lado e acabo caindo no chão. Desde quando minha cama era tão pequena?

Ouço um barulho que parece ter sido feito por uma pessoa. INVADIRAM MEU QUARTO?

Procuro meu celular por onde eu estava e acabo percebendo q onde eu estava não era meu quarto. Puta que pariu. Onde caralhos eu estou?

Me levanto cautelosamente e procuro a porta, sem nem sequer querer saber onde eu estava. Enquanto tento sair de fininho, percebo que há uma pessoa me olhando.

Que não seja um homem, que não seja um homem, que não seja um homem.

Olho para trás e vejo uma beleza conhecida me encarando, escovando os dentes. Ele estava vestindo uma blusa branca que parecia muito confortável e um short moletom cinza.

Como diabos eu vim parar aqui?! Mas Franco fala comigo antes de eu poder processá-las.

— Você por acaso lembra do que aconteceu ontem?Porra, só falta eu ter dado para ele. Melhor eu me fazer de tonta.

— Ontem? O que hou-

Uma lembrança de eu me aproximando dele passou pela minha cabeça, eu olhando para ele do banco do meu carro e... Socorro.

— Você deve lembrar, então. Eu fiz uma sopa boa para ressaca, venha.

Que canalha. Só eu que estou desesperada?

— O que foi? Você não quer? — Ele perguntou, simpático.

Como eu posso surtar sendo educada com ele? Eu deveria perguntar para ele detalhar o que aconteceu ontem? Não, definitivamente não. Acredito que não seja adequado eu ouvir uma possível descrição de algo libidinoso logo pela manhã.

— Como você pôde ficar com alguém bêbado? — Foi a única coisa que eu consegui perguntar, e foi a pior coisa que eu poderia perguntar.

Ele me olhou confuso e depois começou a rir.

— Do que você tá falando? Não fiquei com você. — Ele riu ainda mais, isso pareceu-me um fora.

— Ué? O que aconteceu, então? Como eu poderia ter parado no seu quarto?

Lembrei-me de ter chorado em seus braços. O que eu estava pensando? Por que eu estava chorando?

Ah, certo, sim, meu pai, caralho, como eu pude esquecer?

Uma lágrima escorreu dos meus olhos.

Meu pai faleceu ontem enquanto eu estava feliz no Paddock. Meu pai estava morrendo enquanto eu estava feliz. Caralho. Meu pai infartou três vezes, enquanto sua filha estava feliz. Que merda de filha eu sou? Eu nem tinha falado com ele esses dias. Eu nem sequer sabia que ele estava doente no hospital. Eu nem me dei o trabalho.

Eu comecei a soluçar, não me importando se estava muito alto, ou se incomodava o argentino.

Meu pai amava F1, ele que me fez amar essa coisa, ele me deixou tão viciada nisso que eu o esqueci. Eu o esqueci enquanto ele morria.

Preciso sair daqui.
Nunca mais quero ver uma corrida de novo.
Que se lasque tudo.
Eu perdi uma parte do meu tudo.

Estava tão fissurada em meus pensamentos que nem notei que Franco estava tentando me acalmar, batendo gentilmente em meu ombro. Mesmo que me desse vontade de abraçá-lo, abraçá-lo com a força que eu nem tenho, eu apenas enxuguei minhas lágrimas e me despedi dele. Ele insistiu para eu ficar até melhorar.

Mas não tem como eu melhorar. Eu sempre soube que quando meu pai falecesse tudo seria um baque para mim, mas eu não esperava que fosse tão cedo.

That Night ⟢ FRANCO COLAPINTOOnde histórias criam vida. Descubra agora