That Night ⟢ FRANCO COLAPINTO

1.

  Domingo, Monza, Itália
  Anne's vision

  Cheguei no Autódromo mais cedo do que deveria, a ansiedade é sempre a mesma desde criança, nunca consigo me acostumar. Há poucas pessoas ainda. Bom, chegando horas antes da corrida não é de se esperar muita gente.

   Abro minha pequena bolsa que, com certeza, deve caber uma criança criança pequena nela, puxo minha câmera digital e tiro algumas fotos do circuito. O clima está bom, pedindo por barulhos de carros.

   Dou mais uma olhada ao redor e vejo que não há mais nada para se registrar, então pego meu celular da bolsa e começo a fazer uma live para os meus queridos do Instagram.

   — Bom dia, meus amores! Bem, deveria ser um boa tarde mas como vocês podem ver... — Dou uma pequena volta pelo Autódromo e vejo o chat lotando de comentários — Cheguei um pouco cedo para registrar tudo para vocês. Hmm, ainda não tem muita gente aqui, como vocês podem ver, então vamos bater um papo antes do GP!

[...]

  — Por aqui já está lotado agora. Acho que já é do conhecimento de muitos que temos uma nova cara hoje na Williams... — Dou uma pausa para fazer uma surpresa e logo direciono o celular um pouco ao meu lado para mostrar o novo piloto. É o chat se enche.

  Confesso que não procurei muito afundo sobre ele, nem mesmo vi uma foto, apenas tive conhecimento de que ele é argentino, muito bonito, e o novo piloto da Williams. Ele virou na direção da câmera pouco tempo depois. E caraca, ele realmente é bonito, achei que fosse um exagero, mas acho que estavam sendo humildes ainda.

   Se eu tentasse descrevê-lo, eu teria muitas coisas a falar, mas nenhuma delas é apropriada.

  Puxo a câmera em minha direção de novo e percebo que talvez ele esteja me encarando. O chat estava pedindo para eu ir até ele, então eu fui, nem me fiz de difícil.

  Ele me recebeu com um pequeno sorriso, talvez meio confuso, era visível sua preocupação sobre a corrida.

  — Desculpe, sou Anne Bianchini... — Ele acenou com a cabeça, acho que não preciso dar muitos detalhes — Certo, você se incomoda? — Eu disse, apontando para o meu celular.

  — Não, não, de forma alguma. — Ele deu um sorriso simpático — Fique à vontade.

  Você não gostaria de saber as maluquices que eu faria caso você me deixasse à vontade.

  — Eu agradeço! Se importa se falássemos em inglês? Hm, a maioria dos meus seguidores falam inglês então... — Ah, acho que eu realmente esqueci de falar que estávamos falando espanhol, talvez eu estava distraída em algo — Mas se você preferir espanhol-

  — Não, imagina. — Ele disse, meio curto e seco mas ainda simpático.

  Eu estava meio nervosa, coisa que não é de costume. Mas como eu ia manter a calma do lado de uma dádiva daquela?

  — Certo! Então, estamos aqui com Franco Colapinto. Quais são suas expectativas para a corrida de hoje?

  Não costumo fazer perguntas tão sem graças assim mas foi a única coisa que passou pela minha cabeça, já que eu nem me dei o trabalho de conhecê-lo.

  — Sei que vai ser uma resposta meio comum, mas eu só quero fazer o meu melhor. Como argentino... Ah, desculpe, fugi da pergunta.

  — Não, não, você me deixou curiosa agora, pode falar. Também sou sul-americana. — Ele me olhou, firme e curioso, mas logo prosseguiu. E que olhar, que olhar, meus amigos.

  — Como argentino, é uma honra, ah, como sul-americano também, claro. — Senti um pouco de deboche em sua voz, esse aí vai gerar entretenimento. — Após um longo jejum sem pilotos argentinos na fórmula 1, ser um quebrador desse jejum é uma grande honra, então espero conseguir dar o meu máximo na corrida de hoje. — Ele disse, com alguns brilhinhos nos olhos, parecendo nervoso e esperançoso.

  Eu acenei com a cabeça. Mesmo que não eu goste muito dos hermanos, é muito bom ver o sangue latino americano de volta.

   — Que ótimo! Esperamos que faça uma boa corrida. Muito obrigada, Franco Colapinto. — Eu disse, com um sorriso e recebendo um aceno com a cabeça do piloto, que logo voltou para o box.

[...]

  A corrida foi definitivamente ótima para nós ferraristas que amamos o LecLec, que ficou em primeiro lugar, seguido das duas McLarens e do meu querido Sainz.
 
  Enfim, foi um desafio chegar para entrevistar as Ferraris mas como eu sempre dou meu jeitinho eu consegui. Para jogar um pouco na cara, me considero amiga dos dois, tipo, eles me conhecem por "garota que fala demais", eles me reconhecem!

   Os dois estavam sentados em um canto um pouco muito rodeado de pessoas, mas eu consegui ficar na frente deles. Eu abri o sorriso e Sainz pareceu um pouco... hmm, incrédulo e desesperado talvez, não entendi o porquê da reação.

   — Você já está aqui de novo, Anne? — O monegasco exclamou, mas com um sorriso um pouco simpático.

   — Então né... Bem, das 50 perguntas que eu preparei especialmente para vocês, vamos começar com as clássicas...

[...]

Após ter falado com as Ferraris, olhei um pouco o chat e estavam me perguntando sobre o piloto argentino. Olhei em volta e não consegui vê-lo, então falei do que achei sobre sua estreia. Chamei algum seguidor para comentarmos sobre a corrida na live e esse seguidor apontou para o meu lado direito. Fiquei meio confusa e perguntei:

— O que foi?

— Só olha para o lado! — O colega de live falou, parecendo animado.

Olhei para o lado e vi o piloto argentino, com cabelos úmidos pelo suor, passando a mão pelos cabelos, que visão dos céus. Andei rapidamente até ele, sorrindo timidamente para algumas pessoas de sua equipe.

— Franco! — Como brasileira, me recuso a pronunciar o sobrenome dele, pois sei que não conseguirei conter a risada — Parabéns pela estreia! Você foi muito ótimo!

— Parece que sou seu amigo agora — Ele riu, parecendo achar a situação engraçada, mas não desconfortável — Bem, muito obrigado, hermana. — Ele disse, sorrindo e eu retribui o sorriso e me afastei de onde ele estava.

[...]