Prólogo

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Você provavelmente ouviu o ditado que diz que, quando um assassino mata, ele normalmente não pisca. Hm...

Bem, talvez isso seja verdade. Desde que ele começou nesse trabalho, ele nunca piscou nenhuma vez enquanto estava em ação. Talvez seja porque essa profissão requeira concentração intensa, especialmente quando o alvo - um do tipo ruim - ainda pode se mover.

Nós não matamos qualquer um. Assassinos com chefes como a nossa são sempre ordenados a matar os maus.

Mas o que é preto, o que é branco, o que é bom e o que é mau?

Certas vezes ele queria perguntar a sua mãe - a mãe adotiva que o criou, uma pessoa que ele profundamente respeita como sua chefe - dizendo "Essa é a floresta de Sherwood, ou algo assim? Ou você acha que você é o Robin Hood, pagando de herói, fazendo justiça com as próprias mãos, livrando o mundo das pessoas que são vistas como más?"

Ele pensava em perguntar, mas ele nunca disse isso em voz alta.

E como ele estava pensando, todo músculo do seu braço direito trabalhava com força total, levantando-o suavemente como se ele tivesse feito isso centenas ou milhares de vezes. Seus olhos, que quase nunca piscavam, se estreitaram até a metade para se fixar no centro.

Não hesite em puxar o gatilho. Desligue tudo, inclusive seu coração acelerado, mesmo que suas mãos estejam suando, que o suor pingue de suas têmporas e os pedidos de misericórdia perfurem seus ouvidos, reverberando profundamente em algum lugar do seu corpo. Ainda assim, você não deve hesitar ou piscar nem mesmo por um momento.

Apenas olhe tudo em câmera lenta. Aponte cuidadosamente o foco da silenciosa Glock 17 para o alvo.

Um tiro... tão preciso quanto possível. É uma misericórdia para o morto e para terminar o trabalho rapidamente.

"Acabou."

Ele abaixou a arma, piscando uma vez para olhar o corpo sem vida. Sangue grosso começou a escorrer, o cheiro familiar metálico preenchendo seu nariz, ainda que isso fosse algo que ele nunca verdadeiramente fosse se acostumar.

"Bison, o que há de errado com você? Você demorou demais 'pra apontar antes de atirar."

Bison olhou na direção de quem perguntou - seu parceiro de matança. Eles têm trabalhado como uma equipe por muitos anos.

Ele balançou a cabeça levemente em resposta antes de falar. A arma em sua mão foi guardada enquanto ele falava:

"Nada. Apenas cansado dessa vida de merda. Quando vamos poder parar de ser assassinos, Fadel? Eu não quero mais fazer isso."

Depois de guardar sua arma, ele pegou um cigarro e o acendeu, como uma forma de relaxar seu corpo depois da adrenalina correr. Seu parceiro, Fadel - que a mãe deles dissera ser seu irmão mais velho - não respondeu. Ele apenas estava intensamente focado em destruir evidências... Esse é seu trabalho, de qualquer forma.

"Você 'tá esgotado?"

"Eu não sei. Eu só não quero fazer mais isso."

"Mãe não vai deixar você sair tão facilmente."

"Eu sei. Quer um cigarro?"

"Claro, mas me deixa terminar aqui primeiro."

Bison deu uma tragada, vendo as costas do seu irmão enquanto ele lidava com seu lado do trabalho. Não havia necessidade de ficar pairando sobre Fadel; ele sabia que seu irmão faria tudo certo, como sempre. Além disso, criticar não era de seu feitio.

"Da próxima vez, deixa que eu mato, e então você limpa. E se você 'tá esgotado, vá ver um terapeuta."

Mas aquela personalidade minuciosa parecia pertencer a Fadel. Um homem bonito mas sempre de cara fechada, seu irmão terminou com o corpo, embrulhando-o meticulosamente antes de içá-lo para dentro da traseira do velho carro. Em suas calças pretas de tecido fino, ele deu longos passos e estendeu a mão para pegar um cigarro.

"Então iria falar 'pro terapeuta o quê? 'Eu 'tô cansado de matar pessoas ou que eu já matei tantos?' Algo assim?"

"Você pode tentar dizer algo um pouco mais inteligente?"

"Sim, senhor. Se eu não puder me abrir com um terapeuta, então eu não vou. Perda de tempo."

Fadel olhou afiadamente para seu irmão mais novo. Ele não tinha certeza se era porque eles tinham pais e mães diferentes, mas as personalidades deles não podiam ser mais opostas. Bison gostava de divagar, algumas vezes até falando irritantemente antes de lidar com um alvo. Fadel, por outro lado, era reservado quanto às palavras. Falar, para ele, era uma perda de fôlego - drenagem desnecessária de energia.

"Vocês vão sair juntos?"

"Não, minha parte 'tá feita. O resto é seu."

"Então 'pra onde você 'tá indo?"

"'Pra qualquer lugar onde meu coração possa descansar."

"Hm..."

"Você deveria tirar um tempo também, Fadel. Sua vida não precisa ser essa rotina."

Fadel não se encolheu diante da crítica. Ele se manteve firme, tragando outra vez o cigarro.

Bison terminou o seu e o jogou no chão, pisando nele com seu sapato.

"Eu 'tô de saída, mano."

"Ok. Te vejo em casa."

Tomando aquilo como uma permissão, Bison se virou e caminhou para longe com seus sonhos.

Ele sonhou em um dia ser livre, sem ter ninguém para matar e nada que precisasse esconder. Ah, e ele quase esqueceu - ele queria um amor e um gato. Esses eram seus sonhos. 

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Notas da tradutora:

Para os que não leram o capítulo anterior: sou /jurifadel, no Twitter, estou traduzindo a novel de forma livre a partir da tradução em inglês disponibilizada (e ainda em andamento) por /bl_zonee. Estou dependendo do trabalho dela para que possa fazer o meu; por isso, se vocês virem que saiu capítulo novo, podem me chamar na rede vizinha. Qualquer dúvida, crítica, sugestão ou elogio, fico à disposição!

The Heart Killers (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora